Do stand-up, para a televisão e agora para grande tela. A jornada do icónico duo da comédia portuguesa composto por João Paulo Rodrigues e Pedro Alves ganhou agora outra expressão com o filme Curral de Moinas – Os Banqueiros do Povo.

Os mais atentos saberão de antemão que Curral de Moinas é uma aldeia fictícia surgida no programa Telerural (também protagonizado por João Paulo Rodrigues e Pedro Alves), aldeia essa que agora se vê habitada pelos tão apalavrados Quim Roscas e Zeca Estacionâncio. No entanto, ao descobrir ser possuidor de uma grande herança económica de seu pai, Quim, acompanhado de Zeca e da sua conterrânea Piedade, deixa a aldeia e parte para a capital, onde a nova vida e o dinheiro corrompem a sua genuinidade.

Sem grandes surpresas, a obra investe numa comédia javarda, com a linguagem e sotaque brejeiros que sempre caracterizaram a dupla. Uma encarnação do espírito verdadeiramente “tuga” que resulta num tipo de humor que pode não servir a muita gente. Ainda assim, é notória uma suavização no tom. Com vista a conseguir agregar uma maior porção do público ou pelo simples medo do cancelamento, Curral de Moinas – Os Banqueiros do Povo não investe na inclusão de conteúdos passíveis de ser considerados machistas ou homofóbicos, algo muito usual no seriado Telerural.

Todavia, o humor do filme consegue se sustentar sem esse lado mais polémico e é capaz de facilmente arrancar umas gargalhadas tanto a fãs antigos como a novos espetadores, ainda que nesse quesito haja uma introdução hábil de referências que só quem acompanhou projetos prévios irá entender.

Apesar disso, a parte cómica do filme fica a perder quando comparado com os demais trabalhos de João Paulo Rodrigues e Pedro Alves. Como referido a cima, a obra é engraçada, mas não é muito engraçada. O humor aqui presente baseia-se naquilo que as personagens dizem e não no que fazem, deixando sempre aquela sensação de que estas estão numa procura incessante e propositada de terem piada.

Olhando a esse mesmo humor verbalizado, é impossível não notar a repetição constante dos mesmos recursos, como elencar pratos típicos (e estranhos) de Curral de Moinas ou enumerar uma série de projetos arquitetónicos sem sentido. No fundo, a longa-metragem acomoda-se num lugar comum, com a agravante de não conseguir chegar ao patamar desse lugar comum.

Quando à partida para um filme o atrativo é algum personagem em particular, geralmente fica difícil criar um propósito para a obra existir. Todavia, Curral de Moinas contraria esse possível percalço e traz uma história interessante de seguir e que, ainda que de forma superficial, explora como o dinheiro em excesso pode afetar a personalidade de quem sempre aprendeu a ser feliz com pouco.

E desengane-se quem acha que tal arco serve apenas para fins humorísticos. A direção de Miguel Cadilhe mostra criatividade e audácia ao usar o guarda-roupa como forma de comunicar a evolução de Quim. É notória uma clara transição de vestes de cariz rural para uma roupa digna de um empresário conforme a personalidade do personagem se vai tornando cada vez mais avarenta e este se vai esquecendo das suas origens. Ao mesmo tempo, são incrementados detalhes como os cuidados com a higiene pessoal e uso de roupa interior, que nada mais comprovam que não uma plena consciência do roteiro por parte do diretor.

No que ao elenco concerne, este teve altos e baixos. Se por um lado João Paulo Rodrigues e Pedro Alves brilham ao interpretar personagens que parecem ser capazes de encarnar de olhos fechados, Sofia Ribeiro surge claramente como um peixe fora de água. Não obstante o inerente talento da atriz, esta, para dar corpo à sua personagem, vê-se obrigada a falar de uma forma que não a sua. O problema é que essa mudança é demasiado evidente e, cada vez que Piedade surge em cena, a sua fala é extremamente caricaturada ficando, em alguns momentos, até estranha de se ouvir.

Num registo semelhante de inadaptabilidade, Júlia Pinheiro, em estreia nas grandes telas, demonstra que a atuação não é a sua vocação natural. Quanto aos demais personagens, Rui Unas cumpre, sem esplendor, o seu papel de antagonista da história, enquanto Diana Nicolau brilha nas duas facetas da personalidade bipolar da sua personagem.

Em suma, Curral de Moinas – Os Banqueiros do Povo é um filme de puro entretenimento que, apesar de não ser uma obra excecional, cumpre o desígnio ao qual se propõe: fazer rir. Quando comparado com outros trabalhos da dupla, embora não consiga ser tão hilariante e cómico quanto os espetáculos ao vivo de Quim Roscas e Zeca Estacionâncio ou a série Telerural, vale dizer que se suplanta claramente ao filme Sete Pecados Rurais, de 2013.