Após quase ter perdido a vida em 2018, Demi Lovato regressa com o seu oitavo álbum de estúdio lançado a dia 19 de Agosto, Holy Fvck. O mesmo conta com participações especiais de YUNGBLUD, Royal & the Serpent e Dead Sara.
Em seguimento do lançamento de “Dancing With The Devil… The Art of Starting Over” (2018-2021), Demi Lovato regressa, depois de um ano, com um projeto onde diz voltar às suas origens. No projeto anterior a artista teve dificuldades em lidar com os seus vícios, tendo experienciado pela primeira vez crack e heroína. Esses desenvolvimentos levaram a uma overdose em 2018, o que por pouco não resultou na sua morte.
De tal modo que, se Dancing With The Devil se pode considerar o encapsulamento de tudo aquilo que Demi teve de ultrapassar e aceitar acerca do seu passado, “Holy Fvck” representa o triunfo colossal da cantora ao impulsionar de todas as formas e feitios quem realmente é.
Na sua generalidade, o álbum pode ser caracterizado pelo regresso ao registo que Demi Lovato incorporava enquanto adolescente. O estilo punk rock dos anos 2000 tem sido um a que vários artistas da sua geração têm regressado, e Lovato não é exceção. Temas como “SKIN OF MY TEETH” e “WASTED” refletem precisamente a influência tremenda de bandas como My Chemical Romance e Green Day na música pop.
Em termos de sonoridade, para além da tendência para um som mais alternativo, Demi Lovato aposta em ritmos e melodias não tão comuns no prisma do som comercializado. O que se verifica nas abordagens diferentes da cantora em relação à sua voz. Além da contribuição dos artistas que realizaram os seus features neste projeto, permitindo afirmar essa excentricidade em vários temas.
“HELP ME” é um exemplo perfeito das escolhas incomuns de sonoridade realizadas pela diferença de discurso entre Dead Sara e Demi Lovato. Na mesma lógica, “BONES” e “HEAVEN” apresentam refrões onde a estrutura tanto sonora como melódica fogem da tradição dos hits que se ouvem tantas vezes na rádio. Remetendo para a lírica de todo o álbum, Lovato aborda temas controversos da forma mais direta e impactante do que alguma vez fez. Apesar de sempre ter havido uma tendência de abertura e honestidade, esse à vontade atinge níveis que nunca antes de se tinham testemunhado.
Desde toda a sua experiência com drogas até á maneira como a sua saúde mental é descrita em “HAPPY ENDING” .“I met god/ Just for a minute/ Sat in his house/ Took a look around/ And saw I didn’t fit in”.Ou à maneira como aborda o tema da masturbação em “HEAVEN”. “If pleasure’s wrong, cast me out like a sinner/ I found myself with my two little fingers (…)/ My right hand’s got me singing my praises/ Holy water and my spirit awakens”.
É evidente que Demi não tem medo de abraçar todos os seus lados na sua escrita. Sendo importante reforçar temas como “29”, onde fala da relação de 6 anos de Wilmer Vanderrama (2010-2016). Lovato reflete, após completar 29 anos, idade que Wilmer teria no início da relação, sobre o envolvimento que reconhece, hoje em dia como tóxico e impulsionado por todos os motivos errados.
De salientar de igual forma o tema “Holy Fvck”, música que dá nome ao álbum e resume tudo aquilo que se pode esperar deste projeto. Nesta faixa Demi Lovato associa de forma brilhante variados conceitos e expressões católicas às suas experiências sexuais.
Por outro lado, caracteriza-se também pela sua sonoridade forte e pela voz infinitamente poderosa de Demi. “Holy Fvck” é provavelmente o tema mais bem construído e conseguido de todo álbum: “I’ll show you the light, with all the lights off/ With all the lights off/ I’ll bring you to life, I’m a holy fuck/ I’m a holy fuck”; “Cause my body is the communion/ Take a bite of what I’m doing”.
Demi Lovato é a consequência viva daquilo a que uma indústria da música capitalista e abusiva pode influenciar e proporcionar. É difícil entender que viver no estrelato enquanto artista, figura pública e modelo para tantos de idade igualmente precoce, significou (e ainda significa) para muitos num lugar igual ao de Demi, abdicar da sua individualidade e vida privada.
No entanto, onde antes havia uma tentativa forçosa de incentivo à imagem de pop star perfeita, Demi Lovato deixa agora a marca de quem realmente é num registo muito diferente do habitual. Mas, indubitavelmente, mais genuíno e mais seu do que qualquer outro projeto na sua carreira. É agressivo, é complicado e é sexy. Após toda uma carreira onde Demi nunca se vê livre do papel de um Deus. E, após ter recuperado milagrosamente de uma overdose que indicaria uma morte quase garantida, Lovato alcança verdadeiramente o divino.
Álbum: “HOLY FVCK”
Artista: Demi Lovato
Editora: Island
Data de lançamento: 19 de Agosto