A terceira série da franquia do Panda do Kung Fu, O Panda do Kung Fu: O Cavaleiro Dragão, estreou a 14 de julho de 2022. Durante cerca de quatro horas e meia, a nova produção da Netflix convida a acompanhar a história do lendário guerreiro Po, que se une a uma cavaleira inglesa, “numa missão para salvar armas mágicas, recuperar a sua reputação e salvar o mundo”.

Antes do mais, o primeiro episódio de O Panda do Kung Fu: O Cavaleiro Dragão, “Não há pausa por uma causa”, preocupa-se em contextualizar o percurso do protagonista até aos dias de hoje. Assim, por entre típicos percalços, explica que o Mestre Dragão derrotou os inimigos mais perigosos e astutos da China e, dessa forma, alcançou fama ao mais alto nível. “Agora, com a sua terra em paz e com a inatividade a torná-lo um pouco flácido e sem fôlego, aceitou o desafio de um sonho de longa data”, nada mais, nada menos, do que uma excursão de comida pela China.

Atualizados, encontramo-nos agora preparados para seguir os passos do Panda do Kung Fu que, de mochila às costas, parte para o primeiro ponto da sua excursão, a Casa Pei Pei Massa Gorda, na aldeia Wankun, lugar da poderosa Manopla WuGao. Aquando da sua chegada, tudo aparenta estar normal, até que duas doninhas, Klaus e Veruca Dumont, ameaçam a Manopla. Fechado numa sala de arrumos, Po vê-se impossibilitado de ajudar e, no final de contas, mesmo que sem intenção, acaba por destruir a aldeia que o acolheu e por auxiliar os invasores a cumprirem o seu propósito.

Já sem título de Mestre Dragão, Po encontra-se perdido, até que Luthera de Landreth, a Espada Errante, vai até si. Por ordem da rainha, a filha do Guarda Saxão, Cavaleiro de Inglaterra, está em perseguição dos criminosos Dumont. Apesar da incompatibilidade de personalidades, Po e Luthera aliam-se para salvar o mundo. A pergunta que se coloca é se, pelo caminho, se tornarão em “Cavaleiros do Kung – Fu ou Kungaleiros?”. Se seguíssemos à risca a Jornada do Herói, diríamos que, impedido de seguir o seu chamado, o protagonista é presenteado com uma espécie de mentor, com quem percorrerá um caminho de provas e se transformará.

O segundo episódio de O Panda do Kung Fu: O Cavaleiro Dragão, “O Códice do Cavaleiro”, dá a conhecer um pouco mais sobre os irmãos Dumont. Klaus e Veruca fazem parte de uma seita de magos, um grupo que “há centenas de anos, usava os seus poderes negros para manipular a sua presença na sociedade”. Após um atentado à rainha de Inglaterra, Veruca foi presa, mas acabou por conseguir escapar com a ajuda do seu irmão. Agora, tencionam irromper através das defesas de Inglaterra, deixando um rio de carnificina até às portas do palácio. Para isso, precisam da ajuda de armas mágicas.

Recuperando o enredo de tantas outras produções cinematográficas, nomeadamente do universo da Marvel, as quatro armas mágicas – “uma Manopla para influenciar a terra, um Chicote com chama eterna, Rodas para dominar a tempestade e um Elmo para comandar o vento” – encontram-se dispersas pelo mundo e, se caírem nas mãos erradas, pode significar o fim da humanidade.

Se, por um lado, a recuperação de enredos não choca. Por outro lado, o desfecho de O Panda do Kung Fu: O Cavaleiro Dragão deixa a desejar. A série da Netflix mantém em aberto o fim desta nova história, abrindo, assim, portas para uma nova temporada – onde Po, Loretha, Rukmini e Sr. Ping partirão numa caça ao tesouro, fora da China. Apesar de curiosos sobre onde andarão, fica um certo aborrecimento ao sabermos que, se determinados tramas (com desenlaces mais do que previsíveis) tivessem sido encurtados, ao invés de serem esticados até ao tutano, haveria muito mais a retirar da produção.

Retomando a premissa de Quem Desdenha, do Canal Q, há algumas confissões a fazer… Para os amantes de filmes onde os protagonistas são vilões, fica a esperança de descobrir mais sobre o passado dos irmãos Dumont. Quem sabe se não seriam dignos de uma produção própria… Já a personagem que poderá vir a ser amada por muitos, mas que consideraria digna de desdém, é Colin, o antílope com um olho apenas, que o Panda do Kung Fu descreve como o “estranho do manto”. No fundo, alguns momentos “secadores” (e despropositados) da série envolvem a introdução da nova personagem. Já Lao e Rabia serão, com toda a certeza, os coadjuvantes favoritos do público, dois pequenos guilty pleasures.

Por entre o esboçar de sorrisos e o soltar de valentes gargalhadas, graças aos distintivos contratempos de Po, O Panda do Kung Fu: O Cavaleiro Dragão preocupa-se em transmitir alguns ensinamentos essenciais. Ao longo de toda a série, explora-se a capacidade de se lidar, quer com o sucesso, quer com o insucesso. Para além disso, tal como é típico de qualquer produção juvenil, aborda-se o poder da amizade e a habilidade para aprender com a diferença. Neste processo transformativo, há ainda espaço para críticas, nomeadamente à tendência masculina da língua.

Todos estes momentos são proporcionados por um elenco de excelência. Após três longas-metragens, Jack Black volta a dar voz a Po. Em português, Tiago Retrê assume a responsabilidade. Rita Ora passa a integrar a produção, no papel de Luthera de Landreth, a Espada Errante; esta é substituída por Mafalda Luís de Castro e Inês Conde na versão portuguesa. Por sua vez, Klaus Dumont é interpretado por Chris Geere (André Raimundo) e Veruca Dumont por Della Saba (Carla García).

Já se sabe que quando se tenta esticar premissas, estas acabam por se tornar redundantes. Este poderia ser o resumo crítico de O Panda do Kung Fu: O Cavaleiro Dragão. No entanto, a nostalgia associada ao Mestre Dragão não permite que assim o seja. Mais do que adequada para miúdos e graúdos, resta, agora, esperar pela renovação da produção.

https://www.youtube.com/watch?v=MXhfB6hiKXM