As artes plásticas são mais do que pinturas bonitas na parede de uma galeria, são mais do que o resultado do talento inato de um artista. Ditar as artes plásticas com esta conotação é reduzir todos os pensamentos, escolhas, lutas e sentimentos que um artista quer empregar na sua obra.

Parece simples associar a dança, a música e o teatro a um trabalho exaustivo, mas o mesmo não parece acontecer com a ilustração, como se, neste caso, o talento fosse o plano principal. Talvez pelo significado tão ambíguo da ilustração, talvez pela falta de cultura de artes plásticas.

Refiro-me a ilustração como uma forma de arte plástica capaz de falar por si só. Não me refiro às ilustrações que compõem um livro, acompanhando o texto, sem um papel principal. Refiro-me a ilustração pela forma como esta consegue abarcar e dar expressão a uma ideia usando o desenho, a pintura e a escrita.

Este sentido da ilustração remete-nos para um grande número de artistas que lutam por um lugar para a sua arte e, mais do que isso, para a interpretação da mesma. Utopicamente falando, os ilustradores recorrem ao desenho e à escrita para tentar mudar o mundo e mostrar os seus pontos de vista.

Assim sendo, o conceito de ativismo não pode ser dissociado do trabalho diário dos artistas para terem uma voz. O conceito de ativismo não pode ser dissociado da partilha incessante dos artistas nas redes sociais, nos jornais, nas revistas daqueles que são, no seu ponto de vista, os podres da humanidade, o conceito de ativismo não pode ser dissociado da ilustração.

Desde as pinturas rupestres, ao Estado Novo e às guerras, a ilustração sempre funcionou como uma ferramenta de comunicação. A História permite-nos perceber que desde sempre as pessoas recorrem ao desenho para descreverem vivências e representarem o seu dia-a-dia.

Durante o regime salazarista em Portugal, os ilustradores não deixaram que o medo pusesse um fim à sua arte e, mais do que isso, à consciência social a que as suas ilustrações se associam. As ilustrações contra o regime tiveram um papel primordial naqueles dias e continuam a ser um importante meio para a garantia da liberdade e da democracia. Os livros de compilações dessas ilustrações continuam a ser editados como forma de preservar a arte e de relembrar a História de Portugal, um fenómeno que se tem vindo a repetir por todo o mundo.

Desde ilustrações irónicas a ilustrações sérias, passando por tons sóbrios, tons alegres, feitas de forma digital ou analógica, no final das contas o objetivo é só um: expressão. A aguarela, a tinta acrílica, os lápis e todos os outros meios de pintura unem-se pelo propósito social e pessoal do artista.

Atualmente, a luta feminista ganha espaço pelo traço de ilustradores como Clara Não e Joana Molho. As ilustradoras portuguesas trazem leveza a assuntos sérios que tocam especialmente as mulheres. A luta pela igualdade de género é o tema principal das suas ilustrações.

Another Ângelo e Mariana, a Miserável são outros nomes que se destacam no mundo da ilustração portuguesa. Como criaram, ao longo do tempo, um público online, a luta destes artistas tem ganh mais expressão e contribuído para o avanço dos movimentos feminista e antifascista em Portugal.