A segunda noite de Receção ao Caloiro não encheu a plateia do recinto, mas inundou-a com o espírito e a tradição académicas.
Como já é sagrado, a quinta-feira de Receção reserva-se aos Grupos Culturais da Universidade do Minho. Para muitos, a tradição e a cultura académicas podem não ser as maiores atrações do cartaz, mas esta é a única noite em que o espírito universitário tem direito de subir a palco.
O ambiente da “Noite das Tunas”, como é comumente chamada, distingue-se das restantes noites de Receção. O Pavilhão do Multiusos de Guimarães torna-se mais amplo, devido à menor afluência de pessoas, mas o ar que se respira é de tradição, nostalgia, companheirismo, familiaridade. Numa noite dedicada quase exclusivamente ao gosto dos estudantes, estes sentem-se em casa, na Academia que os acolhe, rodeados pela música que os une e que os caracteriza.
Para uma das integrantes da Tun’ao Minho, Mariana Pais, é importante existir uma noite exclusiva aos Grupos Culturais, já que a comunidade académica “tem de saber” que estes existem. Contudo, ainda pairam muitos “mas”. Na ótica da jovem, “não há divulgação suficiente” por parte da Associação Académica da Universidade do Minho. Para outro membro do grupo feminino, que dispõe da mesma opinião, “é falta de respeito a organização colocar as tunas num dia em que sabe que não vem muita gente”. A estudante, Sara Hipólito, considera que ainda persistem alguns estereótipos sobre os grupos culturais, que subestimam toda a dedicação que é depositada num trabalho que dura o ano inteiro. “Nós temos muito trabalho durante semanas, ensaiamos muito, para depois termos um bom resultado. Estamos a representar não só a Universidade do Minho, como também a cidade de Braga.”, acrescenta a Magister da Tun’ao Minho, Mafalda Fontes. A jovem continua, afirmando que neste dia “se vive o espírito académico ao seu mais alto nível”. Também para si os “mas” prevalecem, e este dia acaba por ser um reflexo da “cultura em Portugal, no geral”: uma cultura adormecida e esquecida.
Apesar de tudo, os esforços para trazer mais pessoas ao Multiusos de Guimarães nesta noite já começaram, mesmo que em vão. Um membro da Agustuna, Fábio Branquinho, revela que a Associação Académica “já tentou fazer alguma coisa, como a Festa da Cerveja”, mas a adesão foi pouca. As 4000 latas de cerveja que iam ser oferecidas não receberam grandes consumidores. O estudante e integrante da tuna académica dá um palpite para o fraco fluxo de pessoas: os horários das atuações. E expõe o caso que, a seu ver, o demonstra: “A Tun’OBebes foi a primeira a atuar, com hora marcada para as 22h00, e não tinha quase ninguém que não fosse de uma tuna a assistir. Isso é triste. Tendo em conta que os autocarros para o recinto começam a partir às 22h30, é muito cedo para uma atuação.” Para além disso, Fábio Branquinho admite que “há cada vez menos interesse nas tunas”, sendo “uma tradição que se está a perder”. Quanto ao fenómeno, é com uma expressão de tristeza que diz não o conseguir explicar: “não sei se é falta de iniciativa ou de vontade, ou até mesmo de amor pela cultura portuguesa”.
Em palco, os juízos também se fizeram, por parte de uma Opum Dei que apelou ao sentido crítico dos estudantes. Como é habitual, o grupo aproveitou o cenário e usou os microfones para expressar descontentamento em relação à organização do evento, mais precisamente aos preços elevados das bebidas vendidas pela Associação Académica às Barraquinhas e ao valor da pulseira geral e dos bilhetes diários. Frases como “é mais barato comprar um barril de petróleo do que um barril de cerveja, aqui dentro” ou “deixem de fazer cartazes de politécnicos com preços de universidade católica” provocaram uma onde de aplausos na plateia.
Postas de parte as críticas, a noite contou com a habitual folia do público. De cerveja na mão ou não, os braços estiveram sempre no ar, quando não eram levadas até aos ombros de alguém, para fazer parte do comboio humano que percorreu o recinto inteiro. Ao som da Tun’OBebes, da Afonsina, da Azeituna, da Tun’ao Minho, da Literatuna, da Augustuna, da Gatuna, da Tuna de Medicina, da Tuna da Universidade do Minho ou da Opum Dei, a animação foi sempre a mesma.
Terminadas as atuações dos grupos culturais, foi a vez de Joint One assumir as rédeas. A noite acabou com uma compilação dos melhores temas dos anos 90, trazidas pela mesa do Dj Luís Marinho.