Uma História de Encantar é uma das muitas obras cinematográficas da Disney que se tornou num grande sucesso, tendo sido nomeada para três Óscares. Conta a história duma donzela que vive num mundo encantado, mas ao ser enganada pela Rainha Má é banida para o mundo real e tem de aprender que este universo não é um conto de fadas.

Giselle (Amy Adams) nasceu e cresceu numa terra chamada Andalasia, um mundo paralelo em desenho animado, em que se vive o que de melhor a fantasia tem para oferecer: poções mágicas, animais que falam e ajudam, amor incondicional e o clássico “viveram felizes para sempre”. E é exatamente isso que a protagonista está a receber dessa terra, pois o filme começa com ela a preparar-se para casar com o Príncipe Encantado de Andalasia.

No entanto, numa bondade extrema de que é recheado este reino, a donzela ajuda uma velhinha a caminho do seu casamento. O problema é que a senhora indefesa é, na verdade, a Rainha Narissa (Susan Sarandon) disfarçada — a versão da “Rainha Má” desta terra — que movida por um ato de maldade expulsa Giselle para Nova Iorque.

É assim que começa a grande aventura da protagonista. Ao vir parar a uma das cidades mais movimentadas do mundo, em que o tempo é sempre escasso e o mundo profissional quase não permite uma vida pessoal, a donzela não sabe como regressar para o seu amado nem como pedir ajuda. Primeiro, ninguém a leva a sério: fala de uma forma muita específica do seu reino, está vestida com uma indumentária digna de um casamento de um conto de fadas e pergunta coisas que fazem zero sentido para o comum dos mortais. Segundo, os habitantes da cidade não a querem ajudar, pois têm mais que fazer do que aturar malucas.

Desapontada, deambula pelas ruas desconhecidas de Nova Iorque e, ao deparar-se com um outdoor gigante de um castelo, dirige-se a ele para pedir ajuda, pensando que se trata da entrada para outro reino. Claro que ninguém responde, mas esta esperança trouxe resultados, uma vez que uma menina observa o que Giselle tenta fazer. Fica encantada e arrasta o seu pai para ajudar a senhora em apuros, que muito cético, oferece a sua casa para que a estranha não passe a noite ao relento.

Uma noite torna-se em duas e depois uma semana e mais outra e Giselle apodera-se da casa e da boa vontade do dono, Robert Philip (Patrick Dempsey). Ao contrário dele, a filha Morgan (Rachel Covey), fica radiante por ter uma nova amiga que adora brincar ao faz de conta e que tem a maior imaginação que a menina já presenciou. A mesma considera-a uma princesa de verdade e quer que o pai fique com ela, mas Robert está noivo de Nancy (Idina Menzel), de quem a filha não gosta nem um bocadinho.

No entanto, o drama não termina com os problemas do mundo real, pois o novo universo mistura-se com o antigo no momento em que o Príncipe Encantado decide resgatar a sua donzela em apuros desta realidade horrível. Também ele viaja para Nova Iorque, mas enquanto Giselle tem um coração de ouro e é, ingenuamente, bondosa, o Príncipe Edward (James Marsden) chega com a masculinidade ao máximo e acha que toda a gente precisa de ajuda e de ser salva. Acaba por se meter em vários problemas que oferecem comédia ao espetador, mas que são uma amostra do ridículo do que se vê nos filmes.

Do mesmo modo, a protagonista acha que assim como em todo o santo filme da Disney (em que toda a gente canta e dança e que, automaticamente, toda a gente sabe o que cantar e o que dançar) no mundo real isso, simplesmente, não acontece.

No entanto, com o seu otimismo é capaz de convencer centenas de pessoas a participar no seu gigante número musical That’s How You Know, tornando essa cena uma das mais icónicas do filme: não só é uma caricatura às cenas musicais como, mais uma vez, reitera o carácter sonhador de Giselle e é ainda um momento de realização para Robert – apercebe-se que tem sentimentos por ela.

Contudo, não há filme da Disney sem vilão e a Rainha Narissa decide aparecer também no mundo real. Com ela, chegam mais intrigas, dúvidas, maldade e aventura – com palco para uma transformação em dragão digna de uma rainha. Há também bailes, maçãs envenenadas, músicas, feitiços e tantas outras coisas que só com uma Rainha Má recebem valor total.

Relativamente aos aspetos mais técnicos, ao nível da atuação há extremos: ora de um lado existe uma representação exagerada (proveniente dos habitantes de Andalasia) ora presencia-se uma atuação mais reservada (comum de residentes da cidade que nunca dorme). Mas em nenhum dos casos foram más atuações; elas fazem sentido, exatamente, assim: dão realismo e realçam a anormalidade de filmes mágicos.

O argumento toma atenção na integração das personagens naturais dos mundos encantados no mundo real ao, por exemplo, não permitir que a fala de um esquilo pudesse ser compreendida por um humano; ou, noutro caso, em que a protagonista canta para chamar animais para a ajudarem nas limpezas e, em vez de aparecerem animais “fofinhos”, apresentam-se ao serviço baratas e ratos. Em termos de imagem, é um filme muito futurista ao misturar desenhos com imagens reais e foi muito bem conseguido; nomeadamente, na cena de luta final com recurso ao já referido dragão enorme, em CGI.

Em suma, a magia desta obra é mesmo mostrar que o mundo fantástico não é compatível com o real, mas que a bondade de cada um traz sim a fantasia que o universo real tanto precisa. E necessita tanto, que 15 anos mais tarde, os fãs recebem agora uma sequela bem merecida com nome de Uma História de Encantar 2 (2022).