O Halloween é uma das festividades mais apreciadas em todo o mundo. Ainda assim, a origem do género de horror mantém-se na sombra. O ComUM reuniu um conjunto de sugestões literárias que remontam aos primórdios da sua criação, no século XVIII. Os primeiros romances de literatura gótica deram primazia à discussão da moralidade, filosofia e religião, com personagens questionáveis que ensandeciam à medida que o enredo avançava. Servem, após séculos, como inspiração para várias obras artísticas contemporâneas.

 

O verdadeiro nascimento do horror

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O nascimento da literatura gótica foi catalisado através de um pesadelo de Horace Walpole. O Castelo de Otranto (1764) marcou uma nova era literária, em que a narrativa adquiriu uma aura sombria e inquieta, que visava impulsionar um desconforto no leitor. Em 1764, a construção da sua mansão de arquitetura neogótica, Strawberry Hill, estimulou a criatividade do autor, que utilizou aquele grande museu aberto ao público como cenário para a sua obra-prima. O enredo é fortemente influenciado pela sua paixão pela Idade Média, cruzando factos possivelmente reais com o sobrenatural. A sua obra-prima e futuro trabalho inspirou muitos autores posteriores, tais como Jane Austen, Ann Radcliffe, Bram Stoker, Daphne du Maurier e Stephen King.

Horace Walpole foi o quarto Conde de Oxford, tendo dedicado a sua vida às artes, tanto como historiador e colecionador de arte, como escritor. Algumas das suas obras são Contos Hieroglíficos (1785) e The Mysterious Mother: A Tragedy (1768).

 

A inesperada revolução de Mary Shelley

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Mary Wollstonecraft Shelley, ou simplesmente Mary Shelley, nasceu a 30 de agosto de 1797 em Somers Town, Londres. O nome pode não ser muito conhecido pelo público, mas Shelley foi a criadora de uma das mais célebres obras de sempre: Frankenstein.

A história por detrás de Frankenstein é bastante curiosa. Em 1815, o Monte Tambora, na ilha de Sumbawa, entrou em erupção, o que causou um bloqueio de luz solar devido à elevada quantidade de poeiras libertadas. Infelizmente (ou felizmente), Mary Shelley ia passar o seu verão perto do Lago Lèman com o amado Percy Shelley e o amigo escritor Lord Byron, nesse mesmo ano. Forçados a ficar confinados por vários dias, os três amigos (juntamente com outro hóspede, John Polidori), passaram o tempo a ler em voz alta histórias de terror, principalmente sobre fantasmas. Num desses dias, Lord Byron  propôs que os quatro escrevessem uma história sobre esse mesmo tema. Apesar da inspiração ter demorado dias a chegar a Mary, a autora visualizou pela primeira vez a história de Frankenstein, que posteriormente desenvolveu para um romance.

Um inofensivo passatempo criou um novo e arrepiante género de terror, tornando-se numa poderosa influência na literatura e cultura popular ocidental. O Último Homem, Mathilda e O Mortal Imortal são também obras de destaque desta autora, sendo uma panóplia entre ficção apocalíptica, novela e contos.

 

Uma vida de tragédia e perturbações

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Oscar Wilde foi um influente escritor irlandês (1854 – 1900), autor do romance O Retrato de Dorian Gray e de inúmeros contos, poemas, novelas e obras dramaturgas. Autor de frases como “todas as mulheres se transformam nas suas mães e essa é a sua tragédia“, inspirou-se na sua vida pessoal para escrever as suas obras.

O dramaturgo apoiou-se nas suas personagens e na sua extraordinária capacidade de moldar as palavras a seu favor para mascarar as suas intenções. No exemplo do seu romance escolhido para este efeito é Dorian Gray, o ingénuo jovem que abdica da sua moral para se manter eternamente jovem e belo. Recorrendo à falta de moralidade da sua criação, o escritor critica a sociedade e denuncia traços da sua vida amorosa e do seu relacionamento homossexual. Wilde vivia na sociedade conservadora inglesa do século XIX, onde a sua orientação sexual causava um grande impacto, tendo sido este o motivo da sua pena de prisão e o motivo da sua desgraça. Oscar termina, assim, a sua maior novela, que rapidamente se converteu numa tragédia, aos 46 anos na escuridão do exílio. Sob o olhar crítico da sociedade homofóbica da época e sob a flamejante ingratidão dos seus compatriotas assim se encerra o último ato da maior obra de Oscar Wilde.

 

O terror da vida e obra de Allan Poe

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Edgar Allan Poe nasceu em Boston, nos Estados Unidos, a 19 de janeiro de 1809. Além de escritor e poeta, cujas obras eram caracterizadas pelo horror e mistério, foi também editor e crítico literário.

Quando tinha dois anos, Poe foi acolhido por um rico comerciante escocês. Assim, iniciou os seus estudos em Glasgow, tendo-os terminado em Londres, onde a família mais tarde se estabeleceu. Em 1820, voltou para o seu país natal, onde ingressou no ensino superior, porém, apenas estudou lá durante um semestre, visto ter-se envolvido demasiado em jogo e álcool. Nessa época, depois de ter falhado também na sua carreira militar, lançou o seu primeiro poema. Mais tarde, mudou o seu foco para a prosa e trabalhou para imensas revistas e jornais ao longo dos anos, em várias cidades diferentes. Casou com sua prima, que tinha apenas 13 anos e que morreu dois anos depois, vítima de tuberculose. O próprio morreu também passado alguns anos, a 7 de outubro de 1849, com 40 anos, sendo a causa ainda hoje alvo de especulações. Algumas das suas obras mais relevantes são O Corvo e Outros Poemas (1845) e poemas como O Gato Preto (1843).

 

Uma criatura premeditada

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Provavelmente a história de vampiros mais conhecida, Drácula, de Bram Stoker, demorou sete anos a ser completada. Influenciada pelas lendas urbanas europeias e em histórias de folklore da Transilvânia, o romance teve mais de cem páginas de anotações, incluindo esboços e resumos dos capítulos, antes de ser materializado na íntegra. Bram Stoker batizou a sua personagem após ver o nome na biblioteca Whitby, durante as suas férias. Erradamente, considerou que significava diabo em romeno, escolhendo-o para a sua icónica personagem. Como um romance epistolar, Drácula é narrado através de uma série de documentos, desde cartas, artigos de jornal e diários, e não tem nenhum protagonista.

Sem saber o impacto que teria nas gerações futuras, o autor irlandês incentivou a propagação dos mitos modernos de vampiros. Para além disso, Bram Stoker criou obras como A Jóia das Sete Estrelas (1903).

 

Artigo por: Maria Mirra Gonçalves, Filipa Correia, Joana Caramelo e Beatriz Teixeira.