No concurso nacional de acesso ao ensino superior, as licenciaturas nos setores da agricultura, florestas e energias renováveis foram os que mais lugares tiveram por preencher.

No final da terceira fase de acesso ao ensino superior deste ano letivo, o curso de Energias Renováveis contou apenas com quatro colocados. A única licenciatura em Engenharia Florestal contou com duas colocações e os setores da Agronomia e da Proteção Civil também não tiveram muita adesão.

As razões que explicam a falta de alunos para estas áreas são as dificuldades com a Matemática e o desvio da Física. Esta fuga a áreas importantes para o futuro levou o grupo de trabalho sobre o acesso ao ensino superior a concluir que “torna-se necessário iniciar uma reflexão conjunta sobre a oferta formativa em áreas-chave para a economia e a soberania nacional, como seja a área das ciências agrárias e da floresta”.

O curso em Engenharia de Energias Renováveis contou com 128 vagas nas três instituições que disponibilizaram a licenciatura. Porém, apenas foram ocupadas três vagas na primeira fase de ingresso e duas na segunda fase.

A diretora do curso de Energias Renováveis do Politécnico de Bragança (IPB), Ana Queiroz, refere que “se estabeleceu uma espécie de cursos de elite no país”. Explica ainda que nessa elite constam “tradicionalmente” os cursos de Medicina e Direito e “nos últimos anos juntaram-se” cursos como Engenharia Aerospacial ou a Gestão Industrial. Constata também que, “quem não está nesta lista, tem muito mais dificuldades de atrair os alunos”.

A responsável explica como o facto de o curso estar disponível em instituições do interior ainda se torna noutro ponto negativo para quem equaciona candidatar-se. Em Bragança, nas duas fases não entrou nenhum aluno. Contudo, não é colocada em causa a continuidade da licenciatura. Ana Queiroz revela que “têm tido sempre alunos”, muito devido a alunos estrangeiros ou alunos que acabaram há pouco tempo um curso técnico de dois anos.

A diretora não tem dúvidas e reitera que a falta de alunos se deve ao “estigma” da Matemática. O presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES), Fontainhas Fernandes, também concorda. Para o presidente, as dificuldades com as disciplinas específicas para estas áreas “são uma barreira” à entrada de muitos estudantes.

O setor das florestas também causou preocupação depois deste concurso de acesso ao ensino superior. Nesta área apenas foram preenchidas 56% das vagas disponíveis, número abaixo da média deste ano que foi de 90%.

Na área da Proteção Civil entraram 27 alunos. Apesar de algumas empresas se terem disponibilizado para cobrir na totalidade as propinas de estudantes na área, não serviu como fator de atratividade para os alunos.

Para além destas áreas serem estratégicas para o futuro do país, também têm empregabilidade garantida. Contudo, os jovens não as procuram, e segundo o presidente do CNAES é tudo uma questão de “perceções”.

Os estudantes preferem “ir estudar numa área em que sintam que vão poder fazer a diferença”. Segundo Fontainhas Fernandes, “a Engenharia Aerospacial está associada ao futuro. A Engenharia Florestal está associada a desastres”.

O mesmo sucede com o setor agrário. O dirigente do CNAES garante que “não é, ao contrário do que os jovens possam pensar, uma profissão ou área envelhecida”. “É mesmo uma das profissões do futuro”, afirma. Nesta área apenas foram colocados 145 novos estudantes, que corresponde a 40% das vagas disponíveis.