Ao longo dos últimos anos, tem-se verificado um registo crescente de diagnóstico de doenças mentais.

O dia 10 de outubro é marcado pela celebração do Dia Mundial da Saúde Mental, uma iniciativa da World Health Organization (WHO). Desde 1994 que este dia é comemorado como forma de promover uma maior consciencialização em relação a este tópico e alertar para a importância do mesmo no quotidiano.

Associado aos mais jovens está sempre a escola, tendo em conta que é onde passam a maioria do seu tempo. Este estabelecimento tem um papel importante no que toca ao acompanhamento psicológico. Em entrevista ao ComUM, Pedro Coutinho, psicólogo clínico e especialista em ansiedade e depressão, afirma que “muitos dos psicólogos escolares estão a ser chamados a fazer intervenções psicológicas que desejavelmente não deviam ser feitas em meio escolar”.

Com isto, o entrevistado explica que isto acontece devido à falta de profissionais da área nos centros de saúde fazendo com que os psicólogos escolares não possam dedicar-se à sua função. Em vez de promover a saúde mental e prevenir a doença na comunidade escolar, gastam o seu tempo a realizar acompanhamentos psicológicos individuais.

No ensino superior, a visão é diferente. “Tem existido um maior investimento na criação ou expansão de gabinetes de psicologia clínica que possibilitam que os adolescentes/jovens adultos realizem acompanhamento psicológico a baixo custo/de forma gratuita”, constata.

Contudo, não só os psicólogos escolares detêm um papel no bem-estar dos estudantes. Para além de promover a saúde mental, os professores e toda a comunidade escolar assumem uma posição determinante, consoante o profissional. Assim, atuam “na promoção da saúde mental, mas também na sinalização de possíveis situações que merecem atenção, no incentivo à procura de ajuda especializada e no suporte social”.

Apesar de se verificar uma maior preocupação e investimento na saúde mental dos estudantes, em termos de conteúdos programáticos nada parece ter mudado nos últimos anos. Porém, em compensação, “verifica-se um aumento do número de simpósios, workshops ou cursos sobre esta temática junto da comunidade escolar”.

“Dado o aumento da prevalência de perturbações da ansiedade e depressivas nos jovens seria importante dotar os estudantes, os professores e os pais de mais informação que permita identificar mais facilmente estas doenças, assim como ensinar estratégias que permitam gerir o stress e a ansiedade no dia-a-dia”.

Já no ramo económico, em relação ao investimento atual na psicologia por parte do governo, o psicólogo afirma que é de conhecimento público que o mesmo não é suficiente, muito pelo contrário. Para fundamentar o seu ponto, o psicólogo aponta para os dados da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) que registam um total de cerca de 300 psicólogos nos Centros de Saúde, um número relativamente baixo tendo em conta a população do país.

Finalizando esta questão, Pedro Coutinho adverte que “este cenário é ainda mais preocupante quando a prevalência das doenças mentais e a procura por tratamento especializado tem vindo a aumentar”. Acrescenta que “uma percentagem significativa das famílias portuguesas não tem possibilidades de recorrer ao sistema privado”.

O aumento de diagnósticos de diversas doenças mentais traduz-se na crescente discussão sobre o tópico. Na perspetiva de Pedro Coutinho, é uma consequência altamente benéfica, já que “o papel do psicólogo/psiquiatra é mais reconhecido, a população está mais informada e a procura de ajuda é feita mais precocemente”. Por outro lado, a popularidade do tema não traz somente vantagens, aumentando também a probabilidade de desinformação. Porém, este é um problema que pode ser resolvido com a consulta de fontes fidedignas para obter informações, como psicólogos e médicos.

O debate mais recorrente sobre o assunto, sobretudo durante a pandemia, permitiu, ainda, desmistificar o conceito de psicólogo, havendo um menor preconceito com quem procura ajuda profissional. Para além disso, “o facto de os psicólogos estarem cada vez mais presentes em programas de televisão, nos jornais ou nas redes sociais” também contribuiu para esta desmitificação e aceitação.

Por fim, o clínico alerta que “os estudos têm demonstrado que os adolescentes e jovens adultos foram a faixa etária mais afetada pela pandemia”. Acrescenta que “apesar desta não estar tão presente no nosso quotidiano, o seu efeito na saúde mental ainda é notório”. Isto é justificado pela perda de contacto com os outros, algo bastante importante nessa fase de vida. O tempo isolados “possibilitou que no meio de uma pandemia que por si só já gerava muitas incertezas, os jovens se preocupassem ou identificassem situações que na correria do dia-a-dia passariam despercebidas”.