O duo americano DOMI & JD Beck apresentou o seu álbum de estreia – NOT Tight, a 15 de julho deste ano. O álbum salta à vista pelas várias colaborações apresentadas. Desde nomes sonantes do panorama atual da música como Thundercat, Mac DeMarco ou Anderson Paak. Até veteranos do hip-hop como Snoop Dogg ou Busta Rhymes. A coletânea é apetecível só pelo seu aspeto.

Expresso

Estes convidados especiais estão, em grande parte, ligados ao contrato que a banda assinou com a editora de Anderson Paak- Blue Note Records. A dupla formada por dois prodígios musicais assinou contrato em abril de 2022, altura em que lançaram o single de estreia “SMile”.

Inicialmente, o álbum é encetado por três faixas sem colaborações – “LOUNA´S INTRO”; “WHATUP”; “SMile” – numa vertente puramente instrumental. Nestas é detetado o talento do duo. Não só pelas melodias irreverentes no baixo e no teclado. Mas também, pelo riff de guitarra agradável e sons de bateria com diversas mudanças de ritmo e de tempo. A partir da sua execução a dupla de virtuosos impõe, desde já, a sua marca.

Além de toda a complexidade associada a um bom velho jazz, oferece um leque muito mais variado de influências. Desde a música eletrónica ao hip-hop. E, mesmo música asiática de videojogos ou R&B, todos parecem abrir o caminho para uma nova onda do género de origens afro-americanas.

Quando ouvimos o álbum, é natural pensarmos quantas horas é que os dois artistas tocaram juntos. A química é palpável, trazendo o melhor dos dois mundos. Tanto a sensação de complexidade de algo trabalhado ao pormenor como a naturalidade de um “jam” entre dois amigos músicos.

Nas duas faixas com a colaboração de Thundercat, a magia acontece. O que pode correr mal se juntarmos um músico brilhante, e triplicarmos o brilhantismo? Em “NOT Tight”, Thundercat demonstra que os virtuosos não ficaram nos clássicos. O seu solo faz-nos lembrar de fantasmas dos gigantes do baixo como Jaco Pastorius ou John Entwistle. Por outro lado, o trabalho na bateria de JD Beck é notável, trazendo elementos do hip-hop clássico como a hip-hop button machine dos anos 90.

As restantes colaborações não defraudaram as expetativas. Pelo contrário, Mac deMarco deixou fluir a sua voz psicadélica cantar sobre camarões e cowboys. Enquanto se ouviam melodias deslizantes no teclado e uma bateria hipnotizante.

Já Anderson Paak não se esqueceu de trazer o R&B consigo e apresentou-se em grande nível no álbum de estreia dos seus prodígios. Numa das duas faixas em que colabora, o membro dos Silk Sonic forneceu um refrão que soa como uma faixa do Frank Ocean ou do Tyler the Creator. Face a versos de Snoop Dogg e Busta Rhymes que soam a hip hop dos anos 90.

A mixórdia de sons divergentes transformada num trabalho sólido e compacto é uma caraterística deste álbum e do próprio jazz. Noel Gallagher criticou o jazz dizendo que “todos tocam músicas diferentes ao mesmo tempo”. Talvez ele não esteja errado, mas tornar um conjunto de músicos a “tocar músicas diferentes ao mesmo tempo”, num som coeso é uma arte do jazz. E DOMI & JD Beck têm essa arte.

Não sabemos por que caminhos é que a dupla irá conduzir o seu som. Contudo, com o talento que lhes é inerente, não deverá haver problema. A dupla é uma lufada de ar fresco na indústria e não será um gesto de visionário adivinhar que o seu futuro na música será de sucesso. Principalmente, de muita qualidade.