O laço cor-de-rosa, símbolo da consciencialização para o cancro de mama, assinala 30 anos de presença em Portugal.
Em 2020, foram detetados cerca de 7 mil casos de cancro de mama. Desse valor 99% corresponde a mulheres, de acordo com dados da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC). A iniciativa Outubro Rosa surge para lutar contra a doença, fazendo frente aos mitos e desinformação através de alertas e esclarecimentos à população. Em entrevista ao ComUM, Cristiana Fonseca, coordenadora do departamento de educação para a saúde no núcleo regional do Norte da LPCC, desconstrói as preconceções associados ao problema.
“Mais importante do que os sintomas é falar da necessidade de uma deteção antecipada”, adverte a profissional. A representante da LPCC sublinha que a fase em que já existe sintoma corresponde, na maior parte das vezes, “a um cancro já avançado”. Nesse sentido, salienta a importância dos rastreios como “salva vidas”, pois permitem um diagnóstico em tempo útil.
Uma deteção precoce da patologia pode impactar a doente “do ponto de vista emocional e físico”, já que pode evitar “a instalação e o desenvolvimento de uma doença”. Cristiana Fonseca explica que um rastreio realizado atempadamente pode permitir que “o tipo de tratamento escolhido não seja tão invasivo”. Desse modo, existe a possibilidade de a mulher “poder preservar a sua mama, fazendo uma cirurgia o menos invasiva possível”. Abre também a hipótese de não passar pela quimioterapia, garantindo que a utente não perde o cabelo. Assim, além das consequências psicológicas impacta também a autoimagem e autoestima da pessoa.
Uma das formas mais comuns de deteção da anomalia passa pela auto-apalpação, que pode resultar na descoberta de nódulos. Ainda assim, a coordenadora esclarece que é essencial proceder à mamografia, já que “a pessoa pode ou não sentir os nós”. Além desse sintoma, pode ocorrer “um corrimento no mamilo, uma alteração no aspeto da própria mama – pele tipo casca de laranja ou pequenas pregas como se estivesse a ser repuxada para o interior”. A par deste acompanhamento, importa “conhecer bem o próprio corpo” de modo a “perceber qualquer pequena alteração”, afirmou.
Por vezes, a ansiedade e o medo tomam conta do utente no momento de realizar o rastreio, conta a representante. Além disso, refere que existe “uma ideia errada de que o exame pode causar algum problema” daí a relevância de “esclarecer a população sobre isto”.
Contudo, a profissional apela a que, “sobretudo mulheres entre os 50 e os 69 anos”, o façam. Esta faixa etária usufrui de rastreio gratuito por se tratar da fase de vida com maior propensão ao surgimento de um cancro na mama. A partir dessa idade a utente “é convidada a ser vigiada de dois em dois anos”. Na eventualidade de surgir algum sinal de risco, a utente é aconselhada pelos técnicos a um acompanhamento mais frequente.
Por outro lado, se o resultado for negativo só é chamada novamente passados dois anos, “sendo que nesse espaço de tempo deve continuar atenta ao seu corpo”. Porém, “isto não quer dizer que não se tenha antes ou depois, daí a importância de conhecer o próprio corpo”, além de manter o médico de família em contacto.
O cancro da mama incide sobre os homens em 1% dos casos e acarreta um perigo acrescido. A discrepância de valores entre o sexo feminino e o masculino resulta de “questões hormonais diferentes”, de acordo com Cristiana Fonseca. A gravidade da doença tem a ver com a glândula mamária. “Numa mulher a célula oncológica tem muito tempo para se desenvolver até chegar à via sanguínea. Já no homem, por ausência dessa glândula, existe uma maior probabilidade de disseminação”, esclarece.
A todas as pessoas que estão de momento a lutar contra o cancro, Cristiana Fonseca deixa o apelo de “confiar na equipa médica e seguir os aconselhamentos”. Considera importante “manter a serenidade” sem nunca “querer suportar o peso do mundo sobre os próprios ombros”, incentivando, portanto, à partilha e à procura dos familiares e amigos para um maior conforto. Ao mesmo tempo, adverte as pessoas que não padecem da doença para que mantenham um conhecimento atualizado sobre a prevenção e tratamento. Isto porque “quando se atua o mais rapidamente possível assim que o diagnóstico é feito, o desfecho é muito favorável”.
A LPCC é uma entidade com quase 90 anos que atua na resposta a todos os cancros. Foi fundada graças ao pendor do voluntariado, da angariação de fundos e da promoção para a saúde. A informação e educação conferem uma preocupação para a instituição, reunindo esforços para “elucidar a população quanto à doença”. A juntar a isso, a associação apoia todos os anos investigadores com bolsas “que permitem desenvolver o seu trabalho e investigar um pouco mais sobre a génese e tratamento”. A LPCC auxilia também profissionais de saúde, assim como o doente, seja a nível jurídico, psicológico e social. No núcleo regional Norte, o utente dispõe de um centro de dia, onde pode “ocupar o seu dia de forma mais cheia e recompensadora”. Por último, “o rastreio surge há 23 anos e atualmente assume toda essa responsabilidade nacional”.
Artigo por: Marta Ferreira e Marta Rodrigues