Ambicioso e demarcante, The Car manteve as influências estilísticas de Tranquility Base Hotel & Casino (2018). O sétimo álbum de estúdio dos Arctic Monkeys foi lançado esta sexta-feira e conta com a produção de James Ford.

Expresso
Após quatro anos de intervalo, a banda Arctic Monkeys lança The Car, um álbum deveras crucial no seu percurso de carreira. Isto deve-se a Tranquility Base Hotel & Casino (álbum anterior) que se demarcou pela mudança de registo musical face aos projetos passados do grupo, vocalizado por Alex Turner.
Com este, cresceu a curiosidade dos fãs em descobrir se o mesmo foi apenas uma experiência momentânea da banda ou se os dias do registo característico de álbuns como AM (2013) ou Favourite Worst Nightmare (2007) chegaram a um fim. The Car responde a essa pergunta.
Apesar do álbum não apresentar o estilo de marca pelo qual a banda é reconhecida, existe muito conteúdo no seu projeto mais recente a ser valorizado. A veia poética de Alex Turner só amadurece para um brilhantismo cada vez maior. Seria de esperar que a banda sonora que a acompanha a salientasse. E, fá-lo, quer através das guitarras que defendem as origens do grupo, quer através das harmonias que atribuem ao projeto uma dimensão suave e leve nas suas faixas.

NME
Começando com um dos temas que antecipou o lançamento do álbum enquanto single, “There’d Better Be a Mirrorball”, o tom do mesmo é desde o início percetível. A influência calma da musicalidade é positivamente usada de igual forma em faixas como “Big Ideas” e “Perfect Sense” (“A four figure sum on a hotel notepad/ A revelation or your money back/ That’s what it takes to say goodnight”), com atenção especial no uso dos violinos que atribuem um carácter quase clássico e dramático à sonoridade. “Mr. Schartz” atinge o mesmo objetivo através da simplicidade da guitarra acústica.
É importante também realçar a tentativa bem conseguida de equilibrar uma atmosfera melódica leve com o uso forte e marcante da guitarra elétrica, como já era conhecido e característico do grupo. O tema “There’d Better Be a Mirrorball” representa isso mesmo.
Para além deste, “Body Paint” é o apogeu em termos de faixas profissionais em fornecer momentos de tensão e de descompressão. Com uma sonoridade muito delicada (através, novamente, do violino) que contrasta com as guitarras e a tensão construída na bridge. A lírica sempre impactante de Turner, é talvez o melhor tema do álbum: “Do your time travelling trough the tanning booth/ So you don’t let the sun catch you crying”; “I´m keeping on my costume/ And calling it a writing tool/ And if you’re thinking of me/ I’m probably thinking of you”.
Remetendo ainda ao uso da guitarra, “The Car” e “Sculptures Of Anything Goes” proporcionam os ambientes mais obscuros em todo o álbum. Já em “Jet Skis on The Moat” e “Hello You” (“Hello you, still draggin’ out a long goodbye?/ I ought to apologise for one of the last times”) , sente-se uma energia muito mais upbeat e groovy entre a sonoridade e a voz que acompanha a letra.
As opiniões críticas de The Car variam entre os fãs gratos pela evolução dos Arctic Monkeys e aqueles que consideram que a banda nunca voltará a ter a vida de outrora. Existem, ainda, fãs que esperam que nunca volte a essa mesma. O processo testemunhado de alguma fan base mais antiga do grupo se distanciar deste novo rumo é perfeitamente normal. No entanto, no que diz respeito à diferença e amadurecimento marcado pelos últimos dois projetos da banda, essa quebra de estilo, ainda que não agrade a todos, foi feita com o profissionalismo e qualidade, o que seguramente nunca irá mudar.