A data foi criada em memória de todas as vítimas de transfobia e pretende consciencializar a população sobre a crescente violência sofrida pela comunidade trans.
Este domingo, dia 20 de novembro, celebra-se o 23º Dia Internacional da Memória Transgénera da história. Criada em 1999, a data surgiu como homenagem a Rita Hester, uma mulher trans negra que, com 34 anos, foi assassinada num crime transfóbico.
Em 2022, existem ainda grandes preconceitos e estigmas relacionados à transsexualidade e as agressões contra pessoas trans são também frequentes. De acordo com o Trans Murder Monitoring da TGEU, desde 1 Outubro de 2021 até 30 de Setembro de 2022, foram reportados 327 assassinatos de pessoas trans e gender queer. Dessas vítimas, 95% eram mulheres trans, 35% dos assassinatos foram feitos na rua e 27% foram nas próprias residências. Até hoje, 2021 foi o ano que contou com mais vítimas, 350. O maior índice já registado pela associação.
Atualmente, ainda persistem dúvidas acerca da diferença entre transexual e transgénero. O primeiro, refere-se a pessoas trans que passam por cirurgias e procedimentos médicos para alterar a fisionomia do seu corpo. A segunda terminologia trata-se de um termo de agrupamento para todas as pessoas que não se identificam com a conformidade. Estas questões são também ainda consideradas assuntos controversos para uma significativa parte da população. Isto devido à falta de conhecimento sobre os termos. A sociedade é constantemente dividida pelos géneros binários de “homem” e “mulher”, o que acaba por tirar a visibilidade da comunidade trans e outros da LGBTQIA+.
Dada a pouca visibilidade, a comunidade trans está longe de ser completamente aceita. Mesmo assim, as pessoas trans foram grandes pilares na história e luta LGBTQIA+. A Rebelião de Stonewall, em Junho de 1969, foi um dos maiores marcos para a comunidade. Liderados por Sylvia Rivera e Marsha P. Johnson, duas ativistas trans que levaram a invasão policial no bar para uma revolta de resistência. Em 1973, no aniversário de Stonewall, Marsha sobe novamente ao palco e confronta a sociedade pela falta de inclusão e apoio à comunidade trans. Mais tarde, em 1991, a ativista genderqueer, Holly Boswell, publicou um artigo onde oficializou o significado de transsexualidade para qualquer indivíduo cuja identidade de género não condiz com seu sexo e género designados à nascença. É revolucionária pois não especifica a necessidade de envolver qualquer tipo de hormônios, cirurgia ou modificação física. A ativista foi também a criadora do símbolo transgénero, utilizado até os dias de hoje.
Em 1995, uma Campanha dos Direitos Humanos adicionou a palavra transgénero à sua missão de equidade. Mais recentemente, em 2013, o marco mais importante para a história trans foi quando a área de saúde mental removeu o termo transtorno de identidade de género do manual de diagnóstico. Dando-se, assim, a solidificação de que as experiências transgéneras não seriam mais consideradas ou vistas como transtornos de saúde mental. Ajudando na aceitação da comunidade na área médica, e até mesmo na aceitação pessoal.
Angelita Seixas Alves Correia, 31 anos, Portugal. Briza Garces Florez, 40 anos, Holanda. Zen Black, 28 anos, Reino Unido. Beatriz Bastos, 38 anos, França. Malte C., 25 anos, Alemanha. Camilla Bertolotti, 43 anos, Itália. Sabrina Houston, 37 anos, Estónia. São apenas algumas das mais de 300 vítimas relatadas no último ano. Prova de que o progresso realizado até os dias de hoje ainda não é suficiente para garantir a segurança e a vida das pessoas.
O Dia Internacional da Memória Transgénera é assim marcado pela revolução e ação. Um dia que tem como objetivo marcar as vidas que se perderam. Usando-as como motivação para a contínua luta por direitos iguais para a comunidade trans. “Direitos transgéneros são direitos humanos”.