Em Portugal, cerca de 30 mil pessoas utilizam língua gestual, segundo a Associação Portuguesa de Surdos.

No dia 15 de novembro, comemora-se o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa (LGP). O objetivo da data passa pela promoção da Língua Gestual e pela garantia do respeito pelos direitos das pessoas surdas.

Em entrevista ao ComUM, a SurdiSol, União de Apoio ao Surdo e Populações Especiais de Viseu, afirma que para a pessoa surda é “imprescindível o crescimento num ambiente bilíngue, onde conviva a Língua Portuguesa e a Língua Gestual Portuguesa”. Deste modo, o indivíduo vê assegurado “o exercício pleno de cidadania” sem comprometer o seu “desenvolvimento individual e a construção da sua identidade”. Simultaneamente, é garantido “o acesso ao conhecimento, o relacionamento social e os sucessos escolar e profissional”.

A associação defende que é cada vez mais fundamental que as pessoas ouvintes aprendam LGP, pois só assim as dificuldades comunicacionais podem ser quebradas. Em consequência desta aprendizagem, “não vão existir barreiras linguísticas nem necessidade de intérpretes”, acredita a SurdiSol. Assim, vai passar a existir “um grupo de pessoas inseridas numa sociedade realmente inclusiva e equitativa, onde se vão poder expressar livremente”.

«Os que ouvem têm tudo a aprender com aqueles que falam com o corpo. A riqueza da sua língua gestual é um dos tesouros da humanidade.» Jean Grémion em O Planeta dos Surdos

Visando a inclusão escolar das crianças e jovens surdos, foram criadas a nível nacional escolas de referência que constituem uma resposta educativa especializada. Além disso, as instituições proporcionam uma educação bilingue, que possibilita o domínio da LGP, o domínio do português escrito e, eventualmente, falado.

No entanto, em entrevista, Sónia Esteves, docente de Educação Especial, refere que há ainda “muitas crianças surdas que não frequentam estas escolas e que não têm acesso à LGP”. Isto porque “muitos dos pais ouvintes tentam que [os filhos] se expressem como eles”. A professora explica que persiste a opinião de que se a criança aprender a usar os gestos não vai aprender a falar. “Muitas crianças desenvolvem a oralidade, mas sentem dificuldade em compreender determinados conceitos mais abstratos”, clarifica. Assim, defende que esta ideia deve ser “desmistificada e que o bilinguismo deve ser visto como uma vantagem”.

A SurdiSol aponta que, nos últimos anos, “têm-se sentido grandes avanços, desde o reconhecimento da LGP na Constituição da República Portuguesa, à criação das EREBAS – Escolas de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos”. Realçou também o estabelecimento de protocolos entre Associações de Surdos, em particular, a Federação Portuguesa das Associações de Surdos, e entidades como o Ministério da Justiça ou da Saúde. Este tipo de relações assegura a presença de intérpretes nos mais diversos serviços, ainda que, na prática, haja alguns “constrangimentos que ainda importa limar”.

A crescente presença da LGP nos meios de comunicação social e nas redes sociais, inclusive através da presença de intérpretes, tem dado a esta língua uma maior visibilidade, que se reflete também nas camadas mais novas. Exemplo disso são os jovens que, todos os anos, acabam o ensino secundário e concorrem às licenciaturas em LGP, com o objetivo de se tornarem professores ou intérpretes.

A SurdiSol adianta que recebe com bastante frequência inscrições de jovens nos cursos de LGP. De momento, conta, por exemplo, com “uma jovem de quinze anos a frequentar o nível iniciação, por sua iniciativa”.

Por fim, a instituição relata que “ainda não obteve apoios para ter uma resposta social a funcionar em pleno”. O mesmo acontece no interior do país, onde não existem associações congéneres e as respostas do estado central escasseiam. “Podemos dizer que, nessa área, ainda há um longo caminho a percorrer”, remata.