A lista A candidata-se à direção da AAUM com o mote “Amanhã é Agora”.
As eleições para os órgãos sociais da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) decorrem esta terça-feira, dia 6 de dezembro. Margarida Isaías, finalista de Medicina, é uma das duas candidatas à direção da associação, pela lista A. O ComUM esteve à conversa com a estudante, de modo a abordar a visão e objetivos da sua candidatura.
ComUM – Quais são os objetivos da lista A?
Margarida Isaías – Começo pelo nosso slogan. Amanhã é Agora surge da ideia de que nós somos uma lista de continuidade. Pessoalmente, e assim como alguns membros da lista – especialmente aqueles que já estão em cargos de liderança e vão passar agora a experienciar outros –, temos feito parte das sucessivas direções da Associação Académica e temos vindo a trabalhar para a construção de um amanhã melhor.
A questão aqui é que o contexto económico do país de elevada inflação vem agravar ainda mais o subfinanciamento da instituição. Assim, surge de forma mais urgente a necessidade de discutir algumas questões e de concretizar outras cujas promessas já existem. É importante que estas sejam concretizadas no sentido de garantir o acesso e a frequência no ensino superior de todos os estudantes. Ao mesmo tempo, contrariar o aumento das dificuldades socioeconómicas que já se está a sentir e que, consequentemente, leva ao abandono escolar, isto em termos mais políticos.
Um dos nossos pilares passa também pelas atividades e complementação da formação académica, portanto, o trabalho não se esgotará apenas na reivindicação política. É também nosso objetivo trabalhar temas como a cultura, o desporto, a recriação e a ação social para promovermos cidadãos mais completos, informados e sensibilizados para os diferentes temas da sociedade.
ComUM – Na perspetiva da lista A, falhou alguma coisa em mandatos anteriores?
Margarida Isaías – Primeiro é importante referir que, de facto, alguns membros já fizeram parte de outras direções e temos sentido, por um lado, o conforto do legado que as diferentes direções nos deixaram. Ou seja, hoje temos já uma estrutura que, a nível de gestão interna, está muito otimizada e temos um conjunto de atividades muito bem trabalhadas. Por outro lado, traz também a responsabilidade de olharmos para estes bons trabalhos e percebermos o que é que devemos manter e o que podemos fazer melhor.
ComUM – O que é que pode ser melhorado?
Posso partilhar que, a nível de atividades, no departamento cultural, queremos ter mais um dirigente e iremos retirar o departamento de carreiras. Isso significa que queremos uma maior aposta na cultura, daí propormos ter um dirigente alocado apenas aos grupos culturais. Outro para as tradições académicas e ainda mais um para trabalhar a cultura que não inclui os grupos culturais e as tradições académicas.
Por exemplo, trabalhar mais com os núcleos com vertentes artísticas, o teatro e a música, começando por incluí-los em atividades que já existem de grupos culturais. Depois, passar para o próximo passo que são as atividades específicas para que estes estudantes se deem a conhecer à comunidade. Isto é um trabalho que já se tem vindo a tentar realizar nos últimos dois anos e que agora com este maior número de dirigentes acreditamos que vamos conseguir ter um maior impacto.
Por outro lado, no departamento de carreiras, o nosso objetivo não é não priorizar este departamento, bem pelo contrário. Nós sentimos que este ano é necessário divulgar mais a marca Startpoint, o que ela significa, todas as áreas de emprego, empreendedorismo e formação, portanto, o nosso foco será muito esse. Este é um departamento que costuma ter dois funcionários alocados que dão muito apoio, por isso, sentimos que conseguimos focar-nos um bocadinho mais na cultura sem desfazer o departamento de carreiras.
A nível social, o maior desafio será o projeto UMfuturo, em que inauguramos há umas semanas a sede física no Bairro das Enguardas. Será um desafio trazer estudantes da Universidade do Minho para dinamizar atividades de educação informal às crianças e jovens, no sentido de elas perceberem o que pode ser o seu futuro se continuarem a educação.
Queremos aumentar as sinergias entre nós e os núcleos, bem como entre núcleos. Vimos que há uns maiores e outros mais pequenos e é importante a partilha de experiências e realidades para crescermos todos em conjunto.
A nível político, dizer que questões como o subfinanciamento da instituição, o reforço da ação social, a inovação pedagógica, a importância da representatividade dos estudantes em órgãos de governo e a tutela são questões que queremos manter. Há outros temas que queremos trazer mais à discussão como a questão da internacionalização da Universidade do Minho, que tem vindo a ser discutida cada vez mais com a entrada na aliança europeia – a ARCUS. Ainda, temas como a saúde mental e a prevenção do assédio serão de certeza tópicos que para o ano serão importantes discutir e trabalhar.
ComUM – Face à falta de camas em residências públicas, que medidas propõem para dar resposta ao problema do alojamento estudantil?
Margarida Isaías – O problema do alojamento estudantil já vem de há alguns anos que, como o nosso slogan quer dizer, vai agravar-se e já este ano se tem sentido o agravamento. Quer seja pela crónica falta de camas nas próprias residências universitárias, que já disponibiliza e tem vindo a disponibilizar. Quer seja pela diminuição de oferta no alojamento privado ou pelo respetivo aumento de preço.
Os novos projetos de residência planeados para começarem a ser executados no próximo ano vêm ajudar e muito esta dificuldade. Na teoria, se nós olharmos para os números dos últimos anos e considerarmos a lista de espera das residências vamos ficar com mais camas do que as que são necessários. Contudo, no fim do dia isto não é bem verdade. Dado o contexto atual, vai certamente aumentar o número de estudantes que irão necessitar de bolsa, assim como aqueles que não são bolseiros, mas precisam de uma alternativa mais barata.
ComUM – De que modo pretendem pôr em prática medidas que aliviem o pagamento de propinas por parte dos estudantes?
Margarida Isaías – Esta pergunta divide-se em dois. Temos a questão da propina que nós defendemos que deve ser progressivamente reduzida e retirada. Os governos têm vindo a fazer esse trabalho, por muito que até recentemente foi congelada.
Não descurando esta discussão, é importante percebermos que mais de 73% das despesas que um estudante tem no ensino superior não é com a propina. É com alojamento, deslocações e material. Portanto, é mesmo muito importante percebermos como é que podemos fazer face a estes gastos, que poderão ser o real entrave à frequência no ensino superior.
Já existem algumas questões previstas, como o caso do complemento de alojamento, de transporte e de deslocação – que este ano foi acrescentado, ou seja, estudantes deslocados têm um apoio para se deslocarem entre a universidade e as suas próprias casas –, mas os valores ainda não são os ideais. É importante aumentar o patamar de atribuição de bolsas e respetivo valor, bem como o dos complementos.
Como vão ter oportunidade de ver no manifesto, nós verificamos que existe um complemento para os estudantes duplamente deslocados, aqueles que a sua residência original não é a mesma que a da universidade e estão a realizar um estágio ainda numa terceira zona. Isto está previsto para o ensino superior privado, mas não para o público e é algo que consideramos que não faz sentido. Na prática, o trabalho acaba por ser muito junto do movimento associativo estudantil, diretamente com os órgãos de governo.
ComUM – Como pretendem resolver o problema dos transportes, no que diz respeito às falhas relatadas pelos estudantes no serviço de transporte da AAUM que faz a ligação entre os campi?
Margarida Isaías – A raiz do problema é não haver um transporte público entre as duas cidades, uma falha grave. Existe o comboio, mas dura três horas quando uma viagem de autocarro nem uma hora dura. Se não me engano, o valor do bilhete de comboio é de mais de três euros, quando de um autocarro acaba por ser sempre menor.
É fundamental que haja uma ligação entre os campi, pois são milhares os estudantes que necessitam disso. Visto que ninguém resolveu este problema, a Associação Académica fê-lo. É um serviço de extrema importância e muito difícil para nós. Tem muitos custos, como é evidente perceber quando vemos que o bilhete custa menos do que a passagem de um carro na via verde, já tirando a gasolina e tudo mais. Portanto, acarreta muitos custos à Associação Académica e é importante termos isto em conta. Agora é importante manter a qualidade do serviço.
Nós sentimos que este ano, talvez devido ao contexto económico do país, aumentou muito o número de estudantes à procura do serviço e, por isso, no início do ano foi necessário fazer muitos ajustes. Foram alterações difíceis de fazer não só a nível financeiro, mas também porque as próprias empresas não tinham essa disponibilidade – ou porque não tinham autocarros ou porque não tinham motoristas. É uma gestão que nós teremos de fazer no próximo ano e temos toda a vontade de melhorar este serviço tendo em conta todas as dificuldades.
ComUM – Tem-se falado na construção de uma sede da AAUM aqui no campus de Gualtar, cuja proposta já foi aprovada. Qual é a posição da lista A quanto à demora da concretização das obras?
Margarida Isaías – Sabemos que é um projeto que tem muitos anos. Há dois ou três anos foi quando finalmente tivemos o espaço onde poderia ser a nova sede, no parque central do campus de Gualtar e foi aí que se começou a desenhar o projeto em si. Ainda não está finalizado, mas estamos confiantes de que no próximo ano será possível levar o projeto a concurso público, que é algo que temos visto que é necessário. Depois disso é sempre a andar, é começar então a construção. É sempre difícil de prever quanto tempo o concurso público pode demorar, mas estou confiante que no próximo ano começaremos a construção.
Os grupos culturais mostraram-se reticentes à disponibilização do espaço para os seus ensaios, mas este ano houve a discussão e toda a negociação. Ou seja, já foi definido como é que serão os espaços dos grupos culturais.
ComUM – Por último, de que forma tencionam dinamizar um maior envolvimento estudantil?
Margarida Isaías – O maior desafio da Associação Académica é a aproximação aos seus estudantes. Acaba sempre por valorizar a estrutura porque os estudantes ficam a saber como esta funciona, o que lhes pode dar e o que representa. É essencial não só para a ela, que é mais valorizada, mas também para os estudantes que conseguem usufruir de tudo o que esta tem para lhes dar. Por exemplo, a luta contra a abstenção começa sempre na direção anterior, é um trabalho feito ao longo do ano e que é reforçado na altura da campanha.
Para isso, pretendemos fazer um bom trabalho e dá-lo a conhecer aos estudantes. Quer seja através das reivindicações políticas, indo ao encontro das suas reais necessidades e interesses, quer seja em termos de atividades que sabemos que muitos gostam, especialmente as recreativas. Ainda, usá-las para podermos chegar aos estudantes noutras dimensões da mesma. Saliento que, mais do que tudo, chamamos os estudantes para se informarem, para terem um voto consciente e informado.