O festival promovido pela Revolve levou dois dias de muita música e energia à cidade berço.
Terminou no sábado, 5 de novembro, a 9ª edição do Mucho Flow, em Guimarães. O segundo dia de festival trouxe maior diversidade de géneros musicais e um ambiente mais pesado, sempre com grande energia e intensidade.
Tal como no dia anterior, a festa começou no Centro Internacional das Artes José Guimarães, mas desta vez houve dose dupla de concertos. Luís Fernandes e FAUZIA foram os primeiros a dar música ao Mucho Flow, ainda no registo da eletrónica. O músico minhoto apresentou o seu mais recente álbum A Guide To Getting Lost (2022) e a vocalista e DJ inglesa mostrou o seu talento renovado, longe das sonoridades onde começou a carreira.
Já no Teatro Jordão, e com o espaço bastante cheio, Rainy Miller trouxe um tom mais pesado ao festival. Sobre vocais com autotune mais tranquilos, mas nunca pouco intensos, o músico inglês movia-se expressivamente. Nos momentos de clímax, contorcia-se no chão de cara tapada, agarrava as grades, gritando na cara do público as letras, e chegou até mesmo a ultrapassar a separação e ir cantar para o meio das pessoas.
Continuando o crescendo de energia, Moin trouxeram o peso do baixo, bateria e guitarra, que suportavam samples vocais ocasionais. A banda levou o underground quase literalmente, com um som distorcido feroz que dava a sensação de estar no centro de uma implosão de rock e pediram várias vezes à mesa de som para aumentar ainda mais o volume dos instrumentos. No final de um concerto que se alongou além do planeado, o público aplaudiu como quem queria ouvir mais ainda.
Num desvio sonoro, Ill Considered levaram o jazz à cidade berço. Com um ritmo imparável, o saxofone de Idris Rahman foi a estrela do espetáculo e o favorito do público. A conexão entre o trio sentiu-se na perfeição do improviso, que também durou mais do que o suposto, mas sem sinais de cansaço no palco ou na audiência. Tal como na rapidez com que lançam álbuns, não houve pausas para respirar e a ovação entusiástica no final foi merecida.
O concerto mais esperado da noite foi o que se seguiu. Jockstrap subiram ao palco do Centro Cultural de Vila Flor para encontrar o espaço já completamente preenchido por um mar de cabeças e olhos ansiosos virados para o duo britânico. Enquanto Georgia Ellery saltava e dançava pelo palco, Taylor Skye cozinhava as batidas vigorosas e penetrantes, ou então cantava a vocalista, de guitarra na mão, enquanto o parceiro observava serenamente. Juntando-se os dois, o resultado é um bolo de pop e eletrónica, mas com muitos ingredientes secretos à mistura, que o público devorou e quis repetir.
Depois de uma breve pausa, e com o espaço ainda muito vazio, um DJ subiu ao palco e as colunas começaram a ameaçar – mais do que anunciar – a chegada iminente de Blackhaine. O rapper britânico chegou com estrondo e assustou quem estava mais próximo das colunas. Ainda antes do fim da primeira música, já o chapéu e o suporte do microfone tinham sido pontapeados para fora do palco e, pouco depois, o artista desceu também, enquanto berrava as letras no meio do público. Quem pisou também o palco foi Rainy Miller, de novo, para cantar as músicas partilhadas entre as discografias de ambos. Depois de gritos, expressividade corporal violenta, moshpits e muita agressividade, Blackhaine despediu-se do Mucho Flow e deixou de novo o DJ sozinho em cena.
Mais tarde do que no dia anterior, foi a vez do São Mamede CAE receber os festivaleiros e fechar a edição de 2022. Skee Mask, object blue e DJ Lynce foram os nomes que puseram a sala de espetáculos a mexer. O primeiro trouxe beats demolidores de rave e drum n bass, com ênfase no bass, e a nipo-sino-americana object blue apresentou uma abordagem moderna à música eletrónica e club. No final, tal como nas edições anteriores, o português DJ Lynce fechou a noite com o som agilmente dinâmico a que já habituou o Mucho Flow, gastando a pouca energia que ainda sobrava em quem aguentou até à hora da despedida.