Centro Internacional das Artes José Guimarães, Teatro Jordão, Centro Cultural Vila Flor e São Mamede CAE são os palcos da edição deste ano.

Na passada sexta-feira, 4 de novembro, o Mucho Flow voltou a tomar conta da cidade berço. O primeiro dia de festival, que já vai na 9ª edição, dividiu-se entre quatro salas de espetáculos e juntou artistas de várias partes do mundo.

Ainda a tarde não tinha acabado quando Sofie Birch subiu ao palco do Centro Internacional das Artes José Guimarães (CIAJG). A artista dinamarquesa abriu o festival com um espetáculo de música ambiente descontraída, auxiliada por uma mesa repleta de equipamentos que dominou com gentileza.

Ao início da noite, o público que fugia ao frio encheu rapidamente a sala de ensaios do Teatro Jordão e foi ao som de George Riley que começou a aquecer. A artista londrina revelou-se surpreendida por ver tantas pessoas no público, porque, quando passeou pela cidade, só viu “avózinhas”. Enquanto encantava a plateia com o seu R&B de estilo muito próprio, carregado de influências eletrónicas e de jazz, Riley agradecia todos os segundos de aplausos como se não os merecesse – merecia muito. Depois de deixar toda a gente a cantar e dançar consigo, desejou a todos um bom festival e cedeu o lugar à próxima atuação.

Com a fasquia já elevada para um início de noite, o dever de a alcançar coube a Slauson Malone 1, o nome de batismo da arte performativa de Jasper Marsalis. Acompanhado por Nicky Wetherell no violoncelo, Marsalis levou para debaixo dos holofotes uma mistura de delicadeza e abrasividade. Os serenos, ainda que por vezes sinistros, instrumentais eram interrompidos por gritos e notas imigrados de géneros vizinhos, resultado da criatividade experimental da dupla. O vocalista e guitarrista ainda desceu do palco para uma breve interação com o público, que estava maravilhado com o que via, e para se contorcer em cima das colunas num dos momentos de maior intensidade do concerto.

Francisco Alves | ComUM

O último espetáculo no Teatro Jordão foi o de Marina Herlop. A artista catalã subiu ao palco com um macacão roxo vestido e o cabelo entrançado à volta do pescoço, como que a proteger a voz, arma importante do seu arsenal. A outra grande arma foi o teclado, que juntou à voz para criar melodias eletrónicas delicadas e quase angelicais. A música, aliada à sua presença em palco, fez lembrar cantos de sereias que agarraram e prenderam o público nos seus lugares, com os olhos colados em Herlop.

Francisco Alves | ComUM

Já no terceiro palco do dia, e após alterações de última hora no alinhamento, Slikback dominou as mesas de mistura no Centro Cultural de Vila Flor (CCVF), no horário que inicialmente seria de aya. O músico queniano, que na edição anterior teve de cancelar a atuação, pôs o Mucho Flow a dançar com uma entrada explosiva, como que a compensar a promessa por cumprir em 2021. Durante cerca de 45 minutos de música, os ritmos fundidos de techno, grime e muito mais não permitiram que ninguém parasse um único segundo. Rapidamente Slikback foi engolido numa nuvem de fumo, mas as colunas a bombear o baixo fortíssimo asseguravam que ele ainda lá estava, evidenciado por breves flashes de luz.

Pouco depois, apanhando ainda alguns festivaleiros desprevenidos, Kai Whiston rapidamente chamou a atenção de todos e reuniu o público num semicírculo à sua volta, fora do palco. O ambiente enigmático era acentuado pela máscara na cara do produtor britânico e pelo longo casaco preto, mas pouco demorou para que a confusão desaparecesse e se instalasse a loucura. No meio de moshpits, lanternas de telemóvel e irrequietação, pouco se via do que estava a acontecer, mas certo é que a mancha de pessoas à volta de Whiston não parou de aumentar nem de dançar.

A primeira noite de Mucho Flow acabou tarde no São Mamede CAE, com novas mudanças de alinhamento. Poly Chain foi o primeiro nome a controlar as colunas da sala de espetáculos. A mutação techno da DJ ucraniana trouxe ritmos de dança diferentes ao festival, mesmo continuando no mundo da música eletrónica. A presença muito serena de Poly Chain fê-la passar mais despercebida do que a artista que a seguiu. A inglesa aya entrou em palco com um longo casaco preto, de capuz na cabeça e óculos de sol na cara, dizendo que se estava a levar o seu tempo a ficar confortável. Com o relógio a bater nas três da manhã, aya disse entre risos ao público era que “muito simpático terem ficado acordados até tão tarde”, porque ela não o faria.

Tanto atrás do computador, como de microfone na mão ou até num moshpit no meio do público, a artista fez valer a perda de horas de sono. Mais tarde do que o previsto, o duo berlinense Schwefelgelb atuou frente a frente no palco do São Mamede CAE. A fechar a noite, DJ Otsoa veio do Porto para quebrar barreiras estilísticas do universo eletrónico e não deixar o público descansar para o segundo dia de festival.