Foi durante o seu concerto, no festival Coachella, que os membros de anunciaram o lançamento do seu penúltimo álbum e o fim do seu percurso enquanto grupo. Lançado no passado dia 17 de novembro, para surpresa de todos, The Family exterioriza honestidade, nostalgia e introspeção do principal vocalista, Kevin Abstract.

The Rolling Stone
Apesar de se promoverem como «a melhor banda desde os One Direction, o grupo, formado em 2015, sempre viveu uma carreira agridoce e conturbada. Desde os atrasos de lançamentos, a membros fundadores expulsos e aos álbuns que não conseguem deixar nenhum fã dececionado, BROCKHAMPTON é, assim, considerada uma das bandas com maior influência desta década.The Family assume o capítulo final desta que é a história do grupo. Kevin Abstract lidera a maioria das 17 faixas que o álbum apresenta e é nelas que faz uma ode ao passado, ao presente e ao futuro da banda.
“Take It Back” é a primeira faixa apresentada e é nela que o vocalista entrega total nostalgia do passado da banda, relembrando todos os altos e baixos. (“With all them niggas y’all, I love them niggas y’all/United we stand, divided we fall”). É com um tom confessional que abre aquele que é o álbum mais sincero de toda a sua carreira.
“Gold Teeth” apresenta uma batida mais forte, que pode sugerir as tensões entre os vários elementos do grupo, bem como as pressões e obrigações por parte da gravadora. (“Did we sign for too many motherfucking albums? Probably”). Por outro lado, “37th” está carregada de angústia e frustração. (“Some days I face God, some days I see the devil too”), ainda que acompanhada por uma sonoridade relaxada. “Any Way You Want Me” é uma faixa doce inspirada nos anos 60, provavelmente é dedicada ao ex-membro da banda Ameer Vann, expulso da banda após alegações de abuso sexual.
“The Family” é mais um solo de Abstract onde ele utiliza, alcoolizado, os próximos dois minutos para demonstrar a sua raiva pelo fim prematuro da banda que ele construiu e viu crescer (“God, bring me a different band, man”). A 14º faixa, “Prayer”, tal como o nome indica, é uma oração do vocalista. A música apresenta um tom mais sombrio, sonhador e de aceitação sobre como tem sido difícil para Abstract seguir em frente (“God, please, don’t make me grow up”). O álbum termina com a faixa nomeada com o mesmo nome da banda, ´Brockhampton´, e esta está carregada de arrependimento e saudade dos bons momentos com a sua banda (“I miss the band already”)
Pode observar-se os sons melancólicos, exuberantes e imersivos, e o afastamento de tipologia musical entre as várias faixas que constituem o álbum. Apesar disso, é com samples de soul acelerados e momentos cheios de energia que Kevin Abstract e os membros [como Hemnani e Bearface], criam um álbum tão sincero e do coração. Apesar de deixar dolorosamente claro todos os motivos pelos quais a banda vai acabar: desde as conversas sobre amizades que se tornaram tóxicas, às pressões da fama e à ganância do poder.
“The Family” é linear, apresentando o ponto de vista de Abstract. Contudo, parte do final perfeito de uma das bandas mais impressionantes e marcantes do hip-hop da última década. A banda apresenta um equilíbrio perfeito entre as várias faixas e uma transparência de sentimentos dolorosa. Abstract não criou só um penúltimo álbum, criou uma carta de despedida e arrependimento aos fãs e, sobretudo, à sua “Família”.
Álbum: The Family
Artista: BROCKHAMPTON
Editora: Sony Music Entertainment
Data de lançamento: 17 de novembro de 2022