O carro é o meio de transporte favorito dos portugueses para o uso quotidiano. As filas de trânsito que invadem as ruas parecem intermináveis e nem a escalada de preços dos combustíveis tem sido capaz de inverter esta realidade.

Em dez anos, nunca foram vistos tantos carros na rua como nos tempos atuais. Estas são conclusões do Jornal Expresso que ilustram bem a dependência da população face ao automóvel. Poderíamos ser um país à semelhança da Holanda ou Dinamarca, que privilegiam o uso da bicicleta para as suas deslocações diárias. No estrangeiro esta realidade é possível porque há um planeamento urbano que permite a existência de ciclovias e, principalmente, educação para o uso destes transportes, o que não acontece em Portugal.

De acordo com os dados do Instituto de Mobilidade e Transportes (IMT), cada família possui em Portugal uma média de 1,3 carros particulares. No ano de 2020, atingiu-se um recorde de 541 automóveis por mil pessoas. Será a aposta nos transportes públicos suficiente? Que barreiras são precisas mover para que a população adote um estilo de vida partilhado nas suas deslocações diárias?

Em 2022, os preços dos combustíveis bateram um recorde histórico em Portugal. De acordo com a SIC Notícias, nunca existiu um crescimento tão grande como na primeira metade do ano, com a gasolina a subir 18 vezes e o gasóleo 15 vezes. Mesmo com estes valores exorbitantes, a população continua a adotar o carro como o meio privilegiado nas deslocações para o trabalho e assuntos do dia-a-dia. Nem a partilha do transporte individual parece ser uma opção, uma vez que são muitos os carros de cinco lugares a levar apenas um passageiro.

A verdade é que grande parte da população não tem outra opção para se deslocar diariamente, uma vez que os transportes públicos não oferecem resposta às suas reais necessidades. Cada vez mais os municípios financiam o valor dos passes e apostam numa maior qualidade e comodidade dos transportes, onde muitos já são uma alternativa sustentável e 100% elétricos. Isto verifica-se, por exemplo, nos Transportes Urbanos de Braga (TUB), que vão baixar de forma significativa as tarifas em 2023. No entanto, o setor dos transportes carece de muitos outros problemas que se colocam face a face com o consumidor.

O tempo de duração das viagens é uma dificuldade que pesa bastante na hora da escolha do modo de transporte. Viagens que demoram, em condições normais, 15 minutos, prolongam-se por mais de 1 hora. São vários os testemunhos que dão conta deste elevado tempo de espera, que é um entrave à decisão da escolha de um veículo partilhado. Neste seguimento, surge também a questão dos horários, que não são acessíveis à maioria da população, sobretudo para quem precisa de adotar mais do que um transporte para chegar ao trabalho.

Muitos utilizadores defendem que o número de veículos a circular é em muitos casos insuficiente e não chega para cobrir o número de passageiros, sobretudo em horas de ponta em que são também longas as filas para os comboios, metros e até mesmo autocarros. Embora seja um direito de todos, o transporte público é também muito escasso em certas zonas do país. É preciso apostar num maior número de trajetos que respondam às necessidades de toda a população.

Mas não só de autocarros e comboios se sustentam os transportes públicos. As novas bicicletas e trotinetes elétricas que estão ao virar da esquina são uma boa alternativa para deslocações mais próximas. Vivemos num século em que existem cada vez mais meios de transporte em alternativa ao automóvel, onde muitos são 100% sustentáveis. Contudo, não existem ciclovias e, sobretudo, não há educação cívica quanto ao uso destes transportes. Como somos um país que carece de falta de soluções, muitos utilizadores usam a bicicleta e trotinete elétrica na via pública, o que representa um perigo imenso para as diversas pessoas que circulam nas estradas.

Nos tempos de pandemia, viram-se passar várias imagens do mundo antes e durante o confinamento. Tempos em que os céus se enchiam de poeiras negras e onde era difícil ver a linha do horizonte, foram substituídos por um ar mais limpo e respirável. O mundo parou e a poluição causada pelo tráfego diminuiu drasticamente. Este é um caminho difícil de percorrer, mas se todos nos predispusermos a adotar um estilo de vida mais partilhado no quotidiano, vamos beneficiar de um universo com menos trânsito, poluição e maior qualidade de vida. No entanto, para que o trânsito diminua é preciso retirar os carros da rua e isso só se consegue se os transportes públicos forem atrativos e responderem às reais necessidades da população.