Martin Scorsese é um daqueles realizadores que podemos afirmar que tem uma filmografia de excelência, capaz de meter inveja a muitos colegas de profissão. Um dos filmes que pertence a esta mesma lista, e que também consta na história do cinema, é Goodfellas, um dos mais conhecidos e aclamados do realizador.

Estreado em 1990, Goodfellas conta a história de Henry Hill, interpretado por Ray Liotta, um mafioso que, através da narração, conta ao espetador os crimes e esquemas da máfia italiana. Henry é apresentado desde cedo a um estilo de vida marcado pelo crime e pela violência, mas também pela riqueza e pelo luxo. O protagonista acaba por formar uma família, mas a vida de crime permaneceu no seu percurso. Para além disso, é por meio de assaltos e de violência que o criminoso consegue sustentar a família.

Um dos maiores atrativos desta história são os personagens que povoam a narrativa e que dão força a esta epopeia de crime e máfia. Começando com Henry que pertence a uma categoria de personagens comummente utilizadas por Scorsese: um protagonista masculino instável que entra numa espiral de loucura e de inconstância. Neste caso, Henry é um homem que se deslumbrou com o que podia conseguir caso enveredasse por uma vida duvidosa recheada de esquemas mesmo sabendo dos perigos, é uma personagem dúbia, desleal até com aqueles que o ajudaram, capaz de trair só para se livrar dos perigos que o perseguem.

A instabilidade de Henry acontece quando o protagonista comete um erro considerado fatal, quando isso ocorre o personagem entra num caminho de drogas, paranoia e instabilidade mental. Mas não é o único personagem instável de moral duvidosa, todos os personagens que percorrem a narrativa são moralmente dúbios, seja a mulher de Henry, Jimmy (De Niro), Tommy (Pesci) e Paulie (Paul Sorvino).

Deixando as personagens de lado, Scorsese surpreende não só com os elementos da história em si, mas também pelo lado técnico e de realização. Planos longos que percorrem os cenários e apresentam os personagens aos espetadores de forma dinâmica e fluída, o uso de freeze frames e o uso de voice-over são técnicas recorrentemente utilizadas pelo realizador.

Scorsese utiliza planos longos como, por exemplo, na cena em que a máfia é apresentada. Estamos num bar elegante e requintado e a câmara passeia pelo espaço, deste modo conhecemos os membros que integram esta “família” e o cenário que será bastante utilizado na longa-metragem. Enquanto a camara percorre o cenário, a voz de Henry Hill ouve-se a nomear quem lá está presente. O voice-over acaba por ter um papel importante, tanto que no final é nos revelado que o que temos estado a ouvir faz parte de uma investigação policial, acontecendo até uma quebra da quarta parede.

Finalizando, Goodfellas é uma obra-prima de Scorsese. Tanto em termos narrativos como de realização, seja nas técnicas fílmicas utilizadas, seja nas personagens complexas, o realizador é capaz de criar e desenvolver com uma subtileza e maestria invejáveis.