Unir, lutar e mudar são os pilares da candidatura da lista M.
Terça-feira, dia 6 de dezembro, acontecem as eleições para os órgãos sociais da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM). Inês Castro, finalista da licenciatura de Línguas e Literaturas Europeias, é candidata à direção da AAUM, pela lista M. A estudante expicou, ao ComUM, o que a motivou a avançar para a candidatura, bem como os objetivos e medidas que pretende levar a cabo, caso seja eleita.
ComUM – O que motivou a candidatura da lista M?
Inês Castro – Nós vimos um agravar das dificuldades dos estudantes e a Universidade do Minho não está ao seu lado. A nossa academia é subfinanciada e os estudantes sentem as necessidades na pele. Considerámos necessária a criação de um projeto alternativo e reivindicativo, que trouxesse uma mudança aos problemas dos alunos. Eu própria, como estudante bolseira e estudante deslocada, sinto estas questões muito de perto. Outras pessoas desta lista também o sentem e vimos aqui a necessidade de uma solução.
ComUM – Quais são os objetivos da lista M?
Inês Castro – A lista M tem como principais pilares unir, lutar e mudar. Acreditamos que, com estes três pilares, conseguimos levar mais longe os nossos objetivos. Ao unir, pretendemos que haja uma aproximação entre a AAUM e os estudantes. Queremos que não sejam apenas os estudantes a aproximarem a luta. Consideramos necessário que a AAUM esteja mais próxima dos estudantes, que os ouça e que reconheça os seus problemas. Nesse sentido, deve ser a AAUM a levar a luta para as ruas. Vemos o diálogo como limitador, apesar se ser uma ferramenta importante. O diálogo não é suficiente. Muitos problemas continuam a não ser resolvidos.
Por isso, surge a necessidade de lutar, outro dos nossos pilares. Acreditamos que com estes dois passos, unir e lutar, é possível mudar. Por exemplo, esperamos que certos núcleos e associações de estudantes estejam mais próximas da AAUM. Eu vejo muitos estudantes, e não é culpa deles, que não têm conhecimento da estrutura da associação académica e nós vemos isso como uma falha enorme por parte da AAUM. Esse facto é notório na abstenção, nas eleições, na pouca adesão às RGA e nós pretendemos mudar isso. Não queremos que a associação seja apenas um grupo de estudantes. Queremos que possa ser ativa neste tipo de atividades. Acreditamos que as diferenças socioeconómicas de cada estudante não devem ser um entrave na sua entrada para o ensino superior, bem como no seu percurso académico.
ComUM – O que tem sido mal feito pela AAUM nos últimos anos e o que falta fazer?
Inês Castro – Da nossa perspetiva, apontamos algumas falhas, precisamente, na questão da aproximação. A AAUM é composta por todos os estudantes e, se assim o é, é necessário que a própria direção esteja mais próxima, por exemplo, na divulgação das RGA (Reunião Geral de Alunos), que têm pouca adesão. É necessário haver um esforço maior sem ser apenas em redes sociais, cartazes ou através do email institucional. É preciso ser a própria AAUM a chegar junto dos estudantes e a explicar o que é a RGA. Trata-se de um momento de discussão que torna a própria academia mais democrática.
O que também precisa de mudar é o conceito de haver lutas banais. Foi referido em RGA que algumas lutas são mais banais que outras. Nós não concordamos com essa visão. Se os estudantes têm certas aspirações e certos problemas, é necessário lutar por isso. Os diálogos e as conversas de bastidores não são suficientes e isso tem vindo a comprovar-se. Neste sentido, também vemos uma falha da própria AAUM no que diz respeito ao movimento associativo. Por exemplo, com a saída da AAUM do ENDA (Encontro Nacional de Direções Associativas), que é um espaço de discussão e que pretende fomentar a unidade.
ComUM – De que forma a candidatura e possível eleição da lista M podem resolver essas falhas?
Inês Castro – Através de uma equipa que sente muito estes problemas, acreditamos que conseguimos estar mais próximos dos estudantes. Não é suficiente o diálogo, os posts nas redes sociais nem os eventos. É necessário a direção da AAUM levar os estudantes à luta, porque os alunos têm de tomar estas lutas como suas, porque são, de facto, suas. Nós podemos criar uma associação mais reivindicativa e que se mostre verdadeiramente ao lado dos estudantes.
ComUM – Em concreto, face à falta de camas e residências públicas, que medidas propõe a lista M para dar resposta ao problema do alojamento estudantil?
Inês Castro – O problema do alojamento estudantil vem muito do subfinanciamento do ensino superior. Como nós sabemos, é verídico que a nossa universidade sofre de um alto subfinanciamento. Isso tem de ser reconhecido. No entanto, é preciso, para além de criar mais camas, haver condições nas residências existentes. Conseguimos ouvir testemunhos de estudantes, que relatam as condições precárias das residências.
Existem apenas 1399 camas e são insuficientes. Temos muitos estudantes em fila de espera. Ou seja, é necessária a criação de mais residências públicas. Já nos está a ser prometida a criação de outra residência há algum tempo e isso ainda não aconteceu. É necessário lutar e reivindicar para que aconteça.
ComUM – De que modo a lista M pretende pôr em prática medidas que aliviem o pagamento de propinas por parte dos estudantes?
Inês Castro – Essa é uma questão muito importante. Como nós defendemos o reforço da ação social escolar, defendemos também o fim da propina. Tudo isto culmina na necessidade de luta. Nós vemos um governo que nos diz que é impossível o fim da propina, quando sabemos que o fim da propina é possível. Por exemplo, a despesa que daria ao estado seria de 350 milhões.
Já existiram medidas mais dispendiosas e também positivas, como a gratuitidade dos livros escolares. Dizia-se que não havia dinheiro para implementar tal medida, mas foi possível. O fim da propina também o é. Se há dados que o comprovam e valores que mostram que isso é viável, o que falta aqui, para além do diálogo, é mesmo levar os estudantes à rua. É preciso ter esta necessidade de luta para que os estudantes se consciencializem.
ComUM – De que forma a lista M tenciona dinamizar um maior envolvimento estudantil?
Inês Castro – Um maior envolvimento estudantil vem, para além da necessidade de aproximação de todos os associados, da colaboração todos os núcleos e associações de estudantes. Assim se cria uma universidade muito mais coesa, que ouve todos os núcleos, associações de estudantes e que reforça o associativismo. É algo que deve ser feito com academias de todo o país e a saída do ENDA foi algo muito negativo nesse aspeto.
ComUM – O que motivou a saída do ENDA? O regresso pode beneficiar os estudantes?
Inês Castro – A nível da saída do ENDA, só conseguimos ver um sentido de protagonismo por parte da direção da AAUM, que traz um afastamento daquilo que deve ser o associativismo. Esse protagonismo vai ter consequências muito negativas, principalmente com associações de estudantes mais pequenas que vão deixar de ter um espaço de discussão. É isso que é suposto ser o ENDA. O ENDA não é suposto ser um espaço que aprova apenas. É suposto ser um espaço de discussão. Por exemplo, o 24 de março foi uma luta muito positiva e abrangente, mas que foi reprovada no ENDA. No entanto, mesmo assim, aconteceu. A saída do ENDA é muito negativa para os estudantes, porque lhes retira esta forma de discussão e este espaço que serve para levar mais longe o movimento associativo.
ComUM – O que distingue a lista M da lista concorrente, a lista A?
Inês Castro – A lista M é um projeto alternativo e muito mais reivindicativo. Nós somos uma lista que promove mais a luta e a união dos estudantes. Não queremos que a luta fique apenas em conversas de portas fechadas. Queremos que todos os associados da AAUM sintam que estão a lutar pela sua academia.