Num lançamento supreendente, Bruce Springsteen supera-se a nível musical e dá a conhecer Only The Strong Survive. O álbum lançado em novembro de 2022 oferece uma viagem pelas principais músicas que inspiraram o artista e que o acompanharam na sua construção profissional. Dobie Gray, Frank Wilson e William Bell são apenas alguns dos intérpretes a quem Bruce dá voz no seu novo projeto.

Only The Strong Survive, conheceu a luz do dia a 11 de novembro do presente ano, embora tenha sido realizado durante a pandemia.  Neste novo projeto, o artista decidiu homenagear os grandes nomes da música que permitiram a sua construção profissional.

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Assim, no seu segundo álbum de covers (o primeiro intitula-se: We Shall Overcome: The Seeger Sessions, lançado em 2006) ousa desafiar os caminhos do Soul e do R&B, afastando-se do Rock ao qual habituou o seu público. O próprio, na apresentação do novo disco, esclarece “Inspirei-me em Levi Stubbs, David Ruffin, Jimmy Ruffin, Iceman Jerry Butler, Diana Ross, Dobie Gray e Scott Walker, entre muitos outros. Tentei fazer-lhes justiça, bem como aos fabulosos compositores desta música gloriosa. O meu objetivo é que os públicos modernos experienciem a beleza e a alegria que eu próprio encontrei quando os ouvi pela primeira vez.”

Adicionalmente, o desejo de Springsteen de apresentar um álbum em que demonstrasse apenas o seu alcance vocal, já persistia há muito tempo e tornou-se, de igual forma, um dos motivos para a realização do mesmo, este explicita: “Sempre quis fazer um disco onde tivesse apenas de cantar. Haverá melhor base do que o grande cancioneiro norte-americano dos anos 60 e 70?”

O álbum composto por 15 faixas, para além de apresentar o trabalho exímio de Springsteen, conta com a participação de Sam Moore e E Street Horns, e ainda a contribuição impagável de Aniello, que tem mostrado ser um colaborador de estúdio fiel para Springsteen, salientando-se a sua versatilidade. Desta forma, por se tratar de um álbum de covers, cria-se automaticamente um certo ceticismo no seio do público. Como é normal houve a quem o álbum enchesse as medidas, no entanto, apesar de ser incontestavelmente um álbum acolhedor, houve a quem deixasse a desejar.

A primeira faixa apresentada dá o nome ao disco e revela uma versão do original de James Butler. As semelhanças são percetíveis tanto no backing vocals, como na interpretação romântica que impõe, denotando-se somente pequenas variações nas escolha de entoação das palavras, a par de alguns detalhes sonoros, como os risos audíveis na faixa. A voz grossa do “Boss” (nome pelo qual é conhecido entre os fãs), acaba por contrastar com a voz de Butler, talvez por aí se encontre o principal elemento diferenciador, uma vez que é de denotar a falta de cunho pessoal imposta pelo artista.

No decorrer do álbum, Bruce segue a mesma linha de apresentação, revelando falta de profundidade, eventualmente porque as letras expostas nas canções se enquadram perfeitamente nas temáticas abordadas por Springsteen naquelas que são de sua autoria, assim este não sente necessidade de as tornar dele. Neste caso, as referências à vida da estrada a par da vida noturna, assim como à presença de um amor ora latente, ora não correspondido, são para ele já familiares.

É por demais evidente a facilidade com que o novo disco articula diferentes fases sentimentais, por exemplo: na música “I Forgot to be Your Lover”, a décima segunda faixa, o intérprete não cessa de expressar a angústia amorosa, com a qual é possível fazer um paralelismo com a músicas da sua autoria “I´ll Work For Your Love” do álbum “Magic”; já a música “Soul Days” desperta uma certa nostalgia evidenciada pelos versos “Those yerterdays” e “Talking about those sweet soul days”.

Paralelamente, é inevitável evidenciar os efeitos que as interpretações de Bruce obtém no público que as ouve. Na faixa 3, intitulada “Nightshift” existe a capacidade do artista transmitir ternura e sensibilidade através do seu timbre grave e profundo; também em “7 Rooms of Glance”, evidencia-se o desespero pela maneira inusitada com que personaliza o verso “ I live with emptiness, without your tenderness ”.

Apesar de não ser um álbum da sua autoria e de ser notável a sua incapacidade de depositar na nele o twist expectável pela maior parte dos ouvintes, Only the Strong Survive cumpre o principal objetivo imposto por Springsteen: valorizar a sua voz, assumindo esta o principal  foco do álbum. Para além disso, dar a conhecer as suas valências no mundo do Soul e R&B, permitindo-nos a nós, enquanto ouvintes, redescobrir um novo artista com base nas suas inspirações.