O filme Hotel Ruanda, lançado em 2005, foi produzido por Terry George e conta com o trabalho exímio de Don Cheadle, Nick Nolte, Joaquin Phoenix, Desmond Dube, Sophie Okonedo, entre outros. A produção baseada em factos reais apela à resiliência, à empatia e à bondade em tempos de tensão bélica.

A história remonta ao ano de 1994, sendo que toda ela se desenrola em Kigali, capital do Ruanda. A Guerra Civil é latente e todo o enredo tem como pilar o período de tensão entre duas etnias: os Hutus, a maioria, e os Tutsis, a minoria. Contudo, apesar da produção ter como base um cenário bélico, este é um filme que retrata a emergência da bondade e da empatia numa época sanguinária.

A morte do Presidente do Ruanda, em seguimento de um atentado, dita o início da obra cinematográfica. Paralelamente, o enfraquecimento político que se segue é o pretexto ideal para o insurgimento dos Hutus contra os Tutsis.

Assim, em seguimento dos terríveis ataques, a insegurança e o medo tomam conta da capital e numa tentativa primeira de preservar a sua família, Paul Rusesabagina refugia-se no Hotel des Mille Colline, no qual exerce a função de gerente. Acaba também por receber os vizinhos e, mais tarde, os turistas, que perante a intensificação das agressões, procuram desesperadamente um lugar onde prevaleça a segurança.

Posteriormente, de modo colmatar o clima de sobressalto vivido, é inegável o papel da ONU, que garante a segurança do Hotel. No entanto, o foco encontra-se novamente sobre Paul, que tenta a todo o custo proteger a comunidade e que, num espírito de resiliência, negoceia a paz.

Procedendo à análise do filme, é inegável a força moral que este tem sobre o expectador. Por conter cenas marcantes e até chocantes, as possibilidades mobilizadoras desta longa-metragem são inimagináveis, atuando como uma catapulta e um incentivo de aliança às forças humanitárias, ao mesmo tempo, que relembra continuamente as atrocidades vividas pelos povos africanos. Talvez, Hotel Ruanda atue no espectador como a vontade que faltava para fazer a diferença na vida daqueles que se apresentam vulneráveis e frágeis.

A personagem de Paul, a quem Don Cheadle dá vida, suscita-me especial espanto. Toda a performance executada por Cheadle é de extrema perfeição, capaz de oferecer uma aura única à personagem, carregada de compaixão, heroísmo e resiliência. Demonstra, portanto, incapacidade de se render às aparentes impossibilidades de justiça, e é inegavelmente o herói do filme, denotando-se, ao longo do mesmo, o seu crescimento a nível moral.

Contudo, parte desse heroísmo advém sobretudo do coração bondoso da sua esposa, Tatiana Rusesabagina. Mesmo que no filme não seja retratada explicitamente como tal, esta atua como a luz constante que guia o marido. Na verdade, é a própria que o influencia a oferecer abrigo aos turistas estrangeiros, fomentando a solidariedade e a empatia, que depois, se tornam tão particulares dele.

O suspense invade ininterruptamente a audiência, relembrando-a dos riscos em que o protagonista se coloca. É tamanha a solidariedade inerente a ele, que negligenciando-se a si mesmo, valoriza acima de tudo a sua família, os seus amigos, e até mesmo desconhecidos.

É de igual importância, destacar os efeitos especiais presentes em toda a produção. Habilmente executados oferecem ao filme um caráter realista, principalmente nas cenas que representam a guerra com o auxílio de imagens sufocantes e angustiantes.

Destacam-se, das músicas que constituem a banda sonora, a voz de Wyclef Jean numa produção intitulada “Million Voices”. Desde a letra ao backvocals é percetível as raízes africanas emprenhadas na música, a par de um desejo latente de união e da rápida mudança. Como não poderia deixar de ser, as faixais musicais são representativas da luta incessante do protagonista, que ao mesmo tempo que revela as dificuldades vividas em tempos de tensão étnica, semeia no espectador a esperança e o desejo de transformação.

Hotel Ruanda é capaz de ser um dos melhores filmes de 2005, que independentemente dos efeitos especiais, dos vastos recursos digitais a que recorre, e das produções musicais em que se sustenta, se baseia sobretudo no espírito de sobrevivência e no heroísmo de um homem que faz frente ao impossível. Assim, a particularidade deste filme sustenta-se precisamente no sentimento latente de empatia apto para agarrar os corações mais sensíveis, transformando-os moralmente.