Recuemos até ao ano de 2013 para ouvirmos um dos álbuns que abriu caminho ao tão aclamado rapper – Tyler, The Creator. Wolf é o segundo álbum de estúdio lançado e produzido pelo artista americano (o primeiro, lançado em 2011, intitula-se Goblin). Não há grandes dúvidas que Tyler, The Creator é um dos rappers mais aclamados pelo público. Os Grammys  que soma falam por si e as suas produções inusitadas não deixam ninguém indiferente.

Billboard

Tyler presenteia-nos com um álbum intitulado Wolf. O grande lançamento do álbum foi extremamente surpreendente, revelando um lado mais vulnerável e sentimental do intérprete, em detrimento dos antigos lançamentos onde se apresentava num registo mais violento e agressivo. O disco conta com 18 músicas e com a participação de: Frank Ocean, Mike G, Domo Genesis, Left Brain, Pharrel Williams, Casey Veggies; Hodgy Beats, entre outros.

Wolf apresenta uma viagem aos mais profundos sentimentos do rapper, não descurando, em certas músicas, um lado mais ostentativo por parte do artista. Diria que o álbum é sobretudo sedutor, possibilitando uma viagem sonora invulgar, marcada por faixas mais pesadas que acabam por contrastar com outras harmoniosamente produzidas, com o auxílio de instrumentos de sopro, piano e guitarra.

Ao ouvir esta produção, é acima de tudo, interessante perceber as irregularidades musicais em que se apresenta: ora com um beat  mais marcado, ora com o auxílio de melodias mais leves. Por vezes apresenta uma letra mais intensa e supérflua, outras retrata episódios da vida do artista de caráter mais profundo, tanto a nível romântico, como a nível familiar. A primeira faixa dá o nome ao álbum denotando-se um visível contraste entre a melodia harmoniosa e a voz de Tyler, que se apresenta distorcida e imponente. A primeira música resume, de uma forma implícita, toda a viagem musical que irá decorrer.

Awkward” é a quarta faixa do álbum descrevendo a vida amorosa do intérprete. No meio da sua voz forte, que mais uma vez aparece distorcida, o rapper apresenta uma verdadeira história de amor. Também “IFHY”, a décima primeira faixa partilhada com Pharrrel, segue a mesma linha de registo sentimental, ainda que aparentemente contraditório, visto que “IFHY” significa “I fucking hate you”. No entanto, o também produtor confessa uma grande paixão. Tal pode ser corroborado pelos versos “I fucking hate you but I love you”. O artista encontra-se num verdadeiro impasse em relação àquilo que sente, vivendo num carrossel de emoções contraditórias e díspares. Ainda assim, no remate final da faixa este anuncia num tom angelical e musicalmente suave “I’m in love”.

Analisando a faixa seis, apresentada como “Answer”, esta regista, através da sonoridade interessante do piano e da guitarra, as incompatibilidades familiares vividas pelo autor. Abrindo o seu coração ao público mais atento, Tyler fala do sofrimento da perda da sua falecida avó. “I would like to tell my grandma but she´s just nostalgia/ I´ll cal her number, but she won´t answer”. Paralelamente, liberta os seus sentimentos reprimidos em relação à ausência constante de uma figura paterna, dizendo: “Hi Dad, it´s me…I think I be your son. Sorry, I called you the wrong name”.

Já na música “Treehome95” (a décima sexta do álbum) Tyler partilha a voz com Coco O. & Erykah Badu, oferecendo-nos uma música aliada ao jazz numa junção de ritmos profundamente contagiantes. Também em “Tamale” (décima sétima) o conteúdo polirrítmico latino invade o projeto do artista americano, desta vez ao lado de M.I.A. Para acabar “Lone” permite, de igual modo, ao ouvinte tornar-se conhecedor de assuntos extremamente pessoais e profundos para o autor.

Apesar do álbum se encontrar um pouco desorganizado e com uma mistura de temas invulgar, Wolf é inegavelmente um álbum extraordinariamente sedutor, capaz de prender todos os ouvintes. E que, de forma inesperada, acabou por ditar o percurso daquele que é considerado por muitos, um dos mais inusitados rappers americanos.