A colaboração resultante de um desafio da editora Esfera chegou aos palcos este mês para três concertos.
Na passada sexta-feira, 20 de janeiro, a blackbox do gnration acolheu o conjunto Mão Morta + Pedro Sousa. Além dos três temas de Tricot (2022), puderam-se ouvir outras canções resultantes da colaboração entre os artistas e que não tiveram lugar no disco.
Ainda as 22h00 não tinham chegado e já a blackbox do gnration estava quase cheia. Em cima do palco, mesmo sem os artistas o terem pisado ainda, o cenário era semelhante: instrumentos e amplificadores ocupavam todo e qualquer espaço, à espera, tal como o público, dos Mão Morta e de Pedro Sousa. Chegada a hora, o conjunto de sete elementos (sim, sete!) lá encontrou espaço por onde se mover e preparou-se para começar o espetáculo.
O concerto arrancou lentamente, com um tom pesado, mas não demorou muito até se ouvirem as baquetas de Miguel Pedro, isolado atrás de uma cabine acrílica, a iniciar a contagem para a mudança de intensidade. Assim foi ao longo de toda a atuação, como a banda já nos habituou – uma lentidão prolongada e intensa, que dá lugar a uma súbita explosão de som fatigante. Nos momentos em que não projetava a áspera voz pelo microfone, verbalizando enigmáticos versos, Adolfo Luxúria Canibal dançava e contorcia-se pelo palco. Ruca Lacerda ia trocando de instrumento como quem troca de roupa interior, com a ajuda de pedais de loop, para construir a paisagem sonora que envolvia a sala. Do mesmo modo, Rui Leal saltava entre o baixo e o contrabaixo e António Rafael dominava a guitarra e as teclas.
A certo ponto, depois de duas cordas da guitarra de Ruca terem rebentado, Adolfo começou a desafinar os instrumentos dos colegas, enquanto dançava pelo palco com uma expressão de satisfação. Pedro Sousa, que nos intervalos das músicas já ia massajando o maxilar, mostrou-se, além disso, incansável. Apesar de a banda bracarense ter trabalhado poucas vezes com saxofonistas ao longo do seu percurso quase quadragenário, o músico provou-se uma adição riquíssima ao som dos Mão Morta.
Na última música, Adolfo Luxúria Canibal pegou no urso de peluche que se sentava à frente do seu microfone – e que suscitou algumas expressões de curiosidade no público antes do concerto – e agarrou-se a ele intensamente enquanto cantava. Acabado o repertório conjunto dos artistas, que inclui “Com As Próprias Tripas”, “Dias de Abandono” e “A Dança das Raparigas” e vários outros temas não gravados em disco, os músicos abandonaram o palco.
Após fortes e merecidos aplausos, entre pedidos de “só mais uma”, o grupo voltou a subir ao palco. Neste momento, Adolfo finalmente dirigiu-se ao público, dizendo que não tinham mais nada para tocar, entre risos, e que voltavam no dia seguinte. O vocalista brincou ainda que pensaram tocar a famosa “Budapeste”, mas não acharam “conveniente”. Assim, o concerto terminou ao som de “Aum”, tema do primeiro EP da banda. No final, Adolfo cantava os últimos versos enquanto se contorcia no chão, lamentando desesperadamente: “o tempo não espera por ninguém!”.
O conjunto Mão Morta + Pedro Sousa regressa à blackbox do gnration no sábado, 21 de janeiro, para uma segunda data da apresentação de Tricot (2022). O espetáculo tem início às 18h00.