Desde 2018 que Braga se dedicou à sua candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027. A missão-mor era, segundo o site de apresentação da candidatura, “mudar numa década a face cultural de Braga”. Foi Évora que acabou por vencer o título, mas as cidades finalistas não saíram de mãos vazias.
Para dar continuidade e utilidade aos projetos já desenvolvidos, Braga, juntamente com Aveiro e Ponta Delgada, receberam a nova designação de Capital Portuguesa da Cultura, sendo que a primeira a possuirá apenas em 2025. O Governo vai apoiar com dois milhões de euros a cada uma. Mas e o que Braga já investiu até agora na sua candidatura? Estaria mesmo a cidade mais antiga do país a projetar-se e a voltar a marcar a história? O ano de 2022 diz que sim.
No Orçamento de 2022 da Câmara Municipal de Braga, a cultura despunha de mais de oito milhões de euros. Devia investir-se no auxílio de atividades culturais, no Contrato-Programa com o Theatro Circo, na promoção de eventos, nos contratos de dinamização cultural. A este valor somou-se quase um milhão de euros de obras outorgadas pelo Ministério da Cultura em equipamentos culturais, para além de mais de dois milhões e meio de euros na conservação e reparação do património cultural municipal. Quanto à candidatura para a Capital da Cultura, mais de um milhão e meio seria aplicado. De facto, as contas do começo do ano passado não fugiram à retrospetiva feita, agora num novo número, sobre 2022.
Braga respirou cultura e caminhou de mãos entrelaçadas com a religião, na Semana Santa. Festejou o São João no seu tradicional chinfrim. Enalteceu a arte digital e a música eletrónica com o Semibreve. Celebrou as genialidades das melodias do blues com o Braga Blues. Abraçou a fotografia e as artes visuais, em Encontros da Imagem. Corporificou uma programação eclética no Theatro Circo e no gnration.
Pintou-se de branco e espalhou-se de música, numa Noite Branca de regresso. Voltou a 27 aC e recriou a história, numa Braga Romana que fez renascer as memórias enraizadas nas pedras ancestrais que ergueram a cidade. Espalhou o espírito natalício e comprovou que Braga é Natal. Homenageou a ilustração, o riscar e o rabiscar, com o Braga em Risco.
Apesar de Braga não ter conseguido alcançar o estatuto de Capital Europeia da Cultura 2027, a preparação intensiva de uma estratégia cultural para a década de 2020 a 2030 deve continuar a ser cumprida. A meu ver, a cultura é um dos pilares mais robustos para o desenvolvimento urbano, e deve sempre ter em conta a pluralidade e a inclusão social. O coração do Minho sabe disto e esforçou-se para fazê-lo às claras, por isso perguntou às pessoas “que cidade é Braga?”. A locomotiva da cultura são também as vozes de uma cidade inteira. Construir uma planta cultural ambiciosa não se faz em dois ou três anos. Este é um processo que não deve ficar adormecido após a escolha de um painel de 11 júris selecionados pelo ministério da Cultura e por entidades europeias.
Passados quatro anos de muito trabalho não só por parte do concelho, mas de toda a região minhota, Braga deve manter-se a correr pelo estatuto, mesmo que a corrida já tenha terminado e haja uma vencedora. Mesmo que as dimensões e a agilidade do esquema possam mudar, devido ao agora menor incentivo monetário, uma cidade com dois mil anos tem de continuar a fazer história.
A cultura tem sido a menina dos olhos de Braga, ou pelo menos o município empenha-se para que o seja. Resta saber se os projetos, sonhos e ambições morrem na praia, juntamente com a candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, ou se têm asas para voar. A dúvida paira no ar, mas fica a certeza de que os bracarenses querem viver cultura, e ideias não faltam para levar Braga às bocas do mundo.