O filme sobre a vida e música de Whitney Houston chegou no Natal, dia 22 de dezembro, aos cinemas portugueses. Para título do filme foi mesmo escolhida a canção que impulsionou a sua carreira musical e a fez vencer o segundo Grammy, em 1987.

I Wanna Dance With Somebody tem o apoio da família de Whitney e surge dez anos depois da morte da artista. Whitney Houston foi cantora, modelo, compositora e atriz. É considerada a maior vocalista feminina de Rhythm and Blues (género musical) de todos os tempos. Mas o drama biográfico não mostra só glamour de ser famosa; de ser a melhor; de ser a mais lembrada. O filme retrata a ambição de Houston (representada por Naomi Ackie) e a sua jornada para sair da escuridão até o estrelato mundial e todos os acordos e problemas que isso lhe trouxe — incluindo a sua morte.

A história começa no início da sua carreira, quando foi descoberta por Clive Davis (Stanley Tucci). No princípio, Whitney cantava num coro em Nova Jersey, mas queria mais. Queria cantar livremente e poder dar palco à capacidade vocal que sabia que tinha e que conseguia alcançar, sem que ficasse limitada aos arranjos corais ou aos da sua mãe, também ela uma cantora de renome, Cissy Houston (Tamara Tunie).

Um dia, substitui a mãe num concerto e Clive Davis está presente. Whitney tem a liberdade para fazer o que quiser e, mal abre a boca, encanta os presentes, incluindo o influente e lendário produtor de discos. A partir daqui, assina contrato, começa a ir à televisão e a gravar a sua versão de músicas que escritores e cantores fantasmas partilham com Clive. As músicas tornam-se verdadeiros sucessos e os seus singles são tão ou mais ouvidos que os do Elvis e dos Beatles. A parada continua e, ao longo dos anos, torna-se numa das artistas mais galardoada e com mais álbuns vendidos de todos os tempos.

Para além da música, tanto como parte principal do enredo (com famosas atuações) como na banda sonora, e até temas nunca antes ouvidos, os espetadores são levados pelo percurso estonteante, inspirador — e também comovente — da vida da protagonista. Whitney tinha problemas de abuso de substâncias; segundo o que os tabloides gritavam, era gay ou bissexual; mas estava a lutar por um casamento tempestuoso com o colega de música pop Bobby Brown, de qual nasceu a única filha da cantora.

Whitney Houston divide-se em duas pessoas: a jovem que sabe o que quer e a mulher que dá demasiado às pessoas que a rodeiam — e, principalmente, ao seu público. Cria-se uma história trágica sobre a exaustão causada pelo negócio do espetáculo; sobre ser-se enganado por pessoas que deviam estar a trabalhar no seu melhor interesse (o pai gasta 100 milhões de dólares, dinheiro que ela trabalhou para o ganhar); e sobre o refúgio das drogas para relaxar (depois e/ou antes de um concerto). Mas acima de tudo, é uma tragédia de ter demasiadas pessoas, com demasiadas força, vontade e necessidade, a suplicar à sua simpatia e boa fé.

Como Whitney se dividiu em duas mulheres, também Naomi Ackie se dividiu, mas em sete pessoas. A atriz foi deslumbrante. Demostrou uma elegância e um saber estar que Houston sempre exibia ao público, incluindo todos os tiques que a cantora mostrava enquanto cantava. A forma de falar, a escolha de palavras e mesmo o timbre foram muito bem incorporados. Ainda mais, Ackie brilhou consoante a Whitney que era: ora na relação com o pai; ora com a mãe; ora com o marido; ora com a filha; ora com a banda; ora com o produtor; ora com os fãs. Todas estas ligações eram diferentes e todas foram bem conseguidas.

O filme termina como Houston terminou a sua vida. A cantora acabou por morreu em Beverly Hills, em 2012, antes mesmo de entrar em palco. Aos 48 anos, enquanto se preparava para um concerto e devido a ter consumido droga, quando supostamente já estava “limpa”, afogou-se acidentalmente na banheira.

Em suma, apesar do filme contar uma história real e fazer-se acompanhar de uma banda sonora arrepiante, o enredo fica a desejar quando comparado aos recentes sucessos de obras cinematográficas musicais; caso do Elvis (2022), interpretado por Austin Butler. Todavia, muito antes de ser lançado nos cinemas, o filme e, em particular, Naomi Ackie foram contados entre o grande círculo de favoritos para os Óscares 2023.