O dia 14 de fevereiro chegou, e com ele o dia dos namorados. Este ano o ComUM decidiu entregar uma proposta distinta para comemorar esta festividade. Em vez de um deleite musical apaixonante reuniram-se dez produções musicais memoráveis para aqueles que já sofreram desgostos amorosos e se identificam com esse estado de espírito. Festejamos todos os produtos do amor, nomeadamente, os corações partidos. Do que estás à espera? Ouve esta playlist de partir o coração.
“Love In The Dark”, Adele (2020) – Incluído no tapete de disforia amorosa de 21, o compasso lento de “Love In The Dark” anuncia uma lírica com peso emocional irrepreensível. A canção representa a dura autorrealização de ter de acabar uma relação, pois esta perdeu o fio que as conectava. A lírica versa sobre a dor de ter de iniciar um término quando o outro representou uma parte de si por tanto tempo. A dor é agravada pelo respeito e afeto que os dois sentem, ao mesmo tempo que se apercebem que se tornaram estranhos na sua própria relação. Contudo, é um mal necessário para que as duas partes possam ser verdadeiramente felizes, num relacionamento que preenche ambos. “I can’t love you in the dark/ It feels like we’re oceans apart”. Tal como diz a artista: “I am being cruel to be kind”. É uma nota musical que permite entender o “outro lado”, e que acabar não significa perder o amor e os ensinamentos deixados na relação. Deixa para todos os corações partidos uma mensagem: o único caminho é seguir em frente.
It’s you, Ali Gatie (2022) – Depois de sofrer com relacionamentos passados Alie Gatie versa num compasso lento de guitarra sobre a sua pessoa especial, confessando-lhe “It’s you, it’s always you/Met a lot of people,/ but nobody feels like you”. Apesar do medo de ser magoado novamente o amor que sente diz-lhe para avançar. Esse sentimento desmensurado e implacável aclamado de “amor” é personificado pela coragem do artista que abre o seu coração depois de atravessar por um caminho que se diz penoso. (“I’ve been broken, yeah/ I know how it feels/To be open/And then find out your love isn’t real/ I’m still hurting, yeah/ I’m hurting inside/I’m so scared to fall in love, but if it’s you, then I’ll try”). Uma canção que apela a que as pessoas não fechem os olhos ao amor pois há sempre dois lados da moeda, se por um lado este sentimento magoa, por outro pode proporcionar um sentimento de partilha e felicidade incomparáveis.
“Nobody Gets Me”, SZA (2022) – Nesta composição SZA entrega um pedido vulnerável perante o vazio que pessoa que ama lhe deixou (“I don’t wanna lose what’s left of you”). Desta forma, reúne tudo o que lhe queria dizer, mas não soube como. (“How am I supposed to tell ya?/ I don’t wanna see you with anyone but me/ Nobody gets me like you /Only like myself when I’m with you/Nobody gets me, you do”). Ao som da guitarra responsabiliza-se pelos seus erros, dizendo que também “a teria deixado se fosse ele”. Agora só lhe resta lidar com a perda e aprender com o passado. Passa a mensagem de que nem sempre se encontram as pessoas certas ou é o momento certo. Por vezes cometem-se erros cuja maturidade não permite compreender no momento. Uma música simples, calma e de reflexão amorosa.
“Stubborn Love”, The Lumineers (2013) – O amor guarda em si a complexidade de vivermos tudo tão intensamente e mesmo não negando a felicidade, não deixa de lado a dor que inevitavelmente atinge os corações mais apaixonados. Cientes dessa mesma verdade, The Lumineers dão voz ao single “Stubborn Love” referindo a incapacidade de fugir a um coração partido. Assim, no início da faixa é-nos dado a conhecer as razões pelas quais supostamente devemos desistir do amor. As mentiras, as traições e as ilusões parecem ser a base do abandono desse profundo sentimento, no entanto o vocalista demonstra disponibilidade para esquecer todos os malefícios de uma relação tóxica, para que possa regressar a momentos de intensa felicidade, os quais recorda nostalgicamente no refrão. Partindo do princípio da consciência do autor para a incapacidade de amar sem sentir dor, este refere, resumindo todo o intuito da faixa musical “It’s better to feel pain, than nothing at all, the opposite of love’s indifference”. Com um coração fortemente apaixonado que carrega o peso da dor incessante, o vocalista insiste em amar incondicionalmente, correndo atrás de quem o faz feliz, rematando “I still love her, I don’t really care”.
“my tears ricochet”, Taylor Swift (2021) – Com mais uma, entre tantas, ode aos corações partidos, Taylor inicia a canção com uma harmonização vocal que já teletransporta o ouvinte a um local melancólico. Por conseguinte a artista reflete sobre o término doloroso de um relacionamento, e já no primeiro parágrafo dá a pista que talvez um dos cônjuges da história tenha falecido e no refrão ela confirma: “Se eu estou morta pra você, por que você está aqui no velório? Xingando meu nome e desejando que eu tivesse ficado.” E ao mesmo tempo que a cantora conta a história na perspetiva de uma pessoa que já partiu do plano terrestre, ainda assim faz pontes com o sentimento de solidão, não aceitação e luto que um fim de relacionamento normalmente desperta nas pessoas, fazendo assim com que a letra converse bem com quem está com a cabeça presa em algo que não voltará mais. A produção ficou por conta de Jack Antonoff, parceiro de estúdio de longa data de Swift, e é simples mas ao mesmo tempo muito eficiente em causar o impacto sentimental da música. A faixa faz parte do álbum “folklore” (2020), o qual foi vencedor do maior prêmio da noite do 63° Grammy Award, o emblemático Album Of The Year.
“never knew a heart could break itself”, Zach Hood (2022) – “never knew a heart could break itself” de Zach Hood, um artista atual com músicas cheias de lirismo que transbordam de sentimentos, é uma das mais famosas do artista que traz a melancolia e lírica perfeitos. Quando falamos de músicas arrebatadoras para um coração partido esta produção não passa despercebida. A música é leve e entoada com a sua doce voz que encanta corações, juntamente com o instrumental do violoncelo e do piano. Estas características conferem um especial gosto deleitoso de dor na versão acústica ou os sons dedilhados da guitarra na versão oficial. É uma música que expressa o fim de um relacionamento e o sofrimento adjacente a esse termino em que o sujeito parece não conseguir seguir em frente para procurar outras oportunidades. É viável dizer que é considerada uma das melhores músicas do seu género.
“True Love Waits”, Radiohead (2001) – O amor e a paixão conseguem despertar em nós um indício de despersonalização que culmina todas as nossas necessidades individuais num outro ser. Thom Yorke deixa-nos a mergulhar na dualidade da devoção, uma bonita mas extrema oposição ao egoísmo e à ganância inerente ao ser humano sóbrio de amor. O vocalista tenta convencer-nos de que ‘verdadeiro amor espera’, independentemente da sua reciprocidade, ironizando também sobre o preconceito sobre o sexo pré-marital existente em várias culturas. A dependência em outrem confirma-se com a súplica final: “Don’t leave”.
“Thinkin Bout You”, Frank Ocean (2019) – Diretamente do álbum channel ORANGE, temos “Thinkin Bout You” de Frank Ocean. Nesta música o artista explora o término de um a relação. Esta faixa transmite-nos a saudade que o artista sente pelo ao seu antigo parceiro, sendo que ao longo da música questiona-o se ele ainda pensa em si da mesma forma que Frank pensa nele. O cantor demonstra o impacto positivo que esta pessoa tinha na sua vida e agora que se foi só consegue pensar nela e, claro, chorar. Durante três minutos e vinte segundos Frank Ocean encapsula o que muitas pessoas passam no fim de uma relação: a reflexão do impacto do amor que partiu e as horas que pensamos e choramos a partida desse mesmo amor.
“Lose My Mind”, Dean Lewis (2017)– Uma das faixas a destacar do álbum Same Kind Of Different de Dean Lewis é a música “Lose My Mind”. Com uma melodia melancólica que por si só, transmite a saudade e nostalgia sentidas pelo artista, esta é uma música que deixa transparecer memórias e erros passados. No final da faixa, Dean demonstra claramente o impacto que aquela relação amorosa teve na sua vida e afirma mesmo que já é tempo de esquecer esses sentimentos e de deixar essa pessoa ir embora. Foi um amor que partiu o seu coração e que ainda continua a fazer o artista sofrer.
“Right were you left me”, Taylor Swift (2020) – Sendo uma das faixas bónus do álbum evermore, é também um bónus de sofrimento romântico. Lançada em 2020, traz consigo a dor que já tanto sabemos como bem escrita por Taylor Swift. Fala-nos sobre a negação individual após alguém nos abandonar, num amor que deixou de ser recíproco. A premissa de quem amamos encontrar outra pessoa e a incapacidade de seguirmos em frente. É sobre o não conseguir sair de onde fomos deixados, porque nessa altura ainda amávamos demasiado. Como se parássemos nesse instante e nos tornássemos, tal como a cantora escreve, poeira. A pessoa que amamos de repente deixa de ser o conceito de ideal para passar a ser apenas a memória de alguém que pensávamos conhecer. Nós ficamos na ilusão daquilo que sonhamos ter. É esta narrativa que a música se torna a música ideal para um Dia dos Namorados de coração partido e pouca esperança.
Artigo por: Lara Inês Freitas (3) , Constança Costa, Otacílio Neto, Margarida da Silva Carvalho, Tiago Pinheiro, Gustavo Moutinho, Filipa Faria e Mariana Dias.