A Oeste Nada de Novo é a nova adaptação cinematográfica de Im Westen nichts Neues, o bestseller antiguerra do alemão Erich Maria Remarque. Baseado nas memórias do autor na frente de batalha da Primeira Guerra Mundial, o filme realizado por Edward Berger mostra, de forma crua, os eventos representados inúmeras vezes no cinema.

A adaptação do livro de Remarque não é original em Hollywood. Em 1930, Lewis Milestone decidiu dar vida ao escrito em papel, sendo retribuído com o Óscar de Melhor Filme. O mesmo se repetiu em 1979 com o realizador Delbert Mann, destacando-se Richard Thomas no papel do protagonista, Paul.

A história inicia-se com Paul Bäumer a desistir do seu percurso escolar devido aos discursos patrióticos do seu professor. Por conseguinte, decide oferecer-se como voluntário na frente ocidental da guerra ocorrida de 1914 – 1918. Iniciando a sua função de forma entusiasmada e esperançosa, o protagonista é progressivamente confrontado com a verdadeira realidade da batalha.

A singularidade da obra de 2022 recai na criação de um novo fio narrativo. Em simultâneo ao percurso do personagem principal na frente de combate ocidental, realizam-se as negociações de paz entre alemães e franceses. A criação deste novo lado da história permite ao espectador “desanuviar” da brutalidade dos eventos que Paul avista. Para além disso, proporciona um maior ênfase à mensagem que Berger deseja transmitir – a futilidade da guerra, gerada pela ganância e orgulho das figuras de autoridade.

A excelência sonoplástica da obra cinematográfica é um dos maiores destaques. Acompanhando os pensamentos dos jovens soldados ao longo da trama, a mesma projeção dos exatos sons graves ao longo de toda a produção consegue metamorfosear-se de simbolismo. Inicialmente, os sons graves parecem representar a força e poder que os novatos soldados sentem pela ideologia de honrarem a pátria. Porém, durante a constante carnificina e terror vivido nas frentes de combate, este amplia o terror e desespero sentido pelos mesmos.

A realização de Edward Berger consegue capturar algo ímpar à fórmula genérica dos filmes de guerra. Para além de apostar na agressiva e crua representação do que é, realmente, a guerra, captura, do mesmo modo, a Humanidade no seu estado mais puro e frágil.

O filme torna-se nojento na sua explícita representação do massacre da 1ª Guerra Mundial. Corpos são queimados, amassados, explodidos. Não deixa espaço para uma possível romantização do enredo: quer os personagens, quer o espectador observam constantemente o lado mais sangrento da Humanidade, que deixa muitas vezes o “estômago ao contrário”.

Ao mesmo tempo que vemos em quão vil o ser humano se pode transformar, assistimos também ao lado mais primordial desta criatura. Os seus desejos carnais, os seus medos, as necessidades que precisam de obter para continuarem vivos e o seu desejo de assim permanecerem demonstra apenas como todos os indivíduos são iguais. Ao apresentar este ponto de forma tão subtil, mas contrastante ao enredo, o filme sublinha novamente a ignorância presente na prática destes atos violentos.

A Oeste Nada de Novo está nomeado para 9 Óscares, entre eles o de “Melhor Filme”. Apesar de possuir uma premissa comum aos restantes filmes de guerra conhecidos, a obra oferece algo que se destaca da sua classificação. É, assim, uma competente concorrente para a corrida para a grande categoria da cerimónia.