“Não há saúde sem saúde mental” refere Ana Catarina Valente

A realidade dos cuidadores informais está cada vez mais crítica no que toca à saúde mental. De acordo com um estudo feito pela Merck a maioria dos indivíduos deste setor admite sentir-se ou já se ter sentido em estado de exaustão emocional e mais de sete em dez necessita de apoio psicológico.

Os dados apresentados, de acordo com um inquérito feito nacionalmente, revelam que 83,3% dos cuidadores inquiridos já estiveram em situações de “burnout”, ou seja,  com uma perturbação psicológica causada pelo stress em demasia devido a sobrecargas de trabalho. Também 77,9% reconhece que precisa de serviços de psicologia com urgência apesar de apenas menos de metade procurar efetivamente essa ajuda.

Ana Catarina Valente, responsável pelo estudo e docente do ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, afirma, à Lusa, que os dados demonstram que “existe sofrimento psicológico nos cuidadores”. “Os dados dizem-nos isso: eles precisam, eles querem e já tentaram ter apoio psicológico”, sublinha a responsável. Tendo isso em conta, Ana Catarina Valente defende a criação de linhas de apoio, gratuitas, já que “a resposta do apoio psicológico em Portugal, por exemplo, do Serviço Nacional de Saúde, não é uma resposta eficaz”. Estas linhas seriam ”uma resposta muito importante”, considera.

“Não existem, de facto, apoios públicos que deem resposta a todas as pessoas que precisam de apoio psicológico” afirma a docente. “Mesmo as pessoas que sentem esta necessidade e procuram esta ajuda, nem todos a conseguem, porque têm que recorrer a serviços privados, onde têm que pagar uma consulta”, lembra a responsável, sublinhando que mais de metade dos cuidadores estão desempregados.

O inquérito apoiado pelo Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais mostra ainda dados como a influência da saúde mental no desempenho do seu papel de cuidador informal, na vulnerabilidade, psicológica, emocional e social, e na descontração. Pode-se analisar também que 45,7% dos cuidadores se sentem muitas vezes ansiosos e que 37,4% perderam a vontade de cuidar de si. O estudo abrangeu mais de 1.100 cuidadores, que responderam aos inquéritos entre 3 de novembro de 2022 e 04 de janeiro de 2023. Com base nas estimativas do Instituto de Segurança Social, haverá em Portugal cerca de 1,1 milhões de cuidadores informais