MIKE é o melhor rapper da sua geração. Depois de 10 projetos de longa-duração, mais uma pletora de EPs, só alguém que nunca tenha ouvido o hipnotizante MC de Nova Iorque pode duvidar do seu talento e da qualidade do seu trabalho. O seu último lançamento, Beware of the Monkey, mostra MIKE a alargar horizontes, a aventurar-se em novas sonoridades e, acima de tudo, com uma atitude mais positiva e confiante do que nunca.

Pitchfork

Com pouco mais de 30 minutos de duração, MIKE mantém o álbum conciso e envolvente durante cada uma das 13 faixas. “nuthin i can do is wrng”, que abre o álbum, é uma das melhores canções do artista, com MIKE a harmonizar com um loop que anuncia a nova vivacidade das suas rimas neste projeto, sem nunca perder a aura melancólica que caracteriza a sua música. A produção é uma marca indelével de MIKE, que assina todos os instrumentais com o seu pseudónimo dj blackpower. Neste álbum apresenta novas influências, com alguns toques de dancehall – reforçados pela presença de Sister Nancy em “Stop Worry!” – e grooves mais animados.

 “No Curse Lifted (rivers of love)” é o melhor exemplo desta progressão sonora, com uma performance dominante de MIKE (abre a faixa com um incisivo “I don’t talk to police or converse with ‘em”) e um instrumental impossível de ignorar. Liricamente, MIKE tem uma das canetas mais certeiras e habilidosas, capaz de largar casualmente gemas como “Dawg, we don’t really know your lyrics like LeBron James”, em “Ipari Park”. Além de e linhas comoventes sobre luto, autoestima e as condições materiais do mundo em que vivemos. É pela capacidade do MC de nunca se tornar demasiado didático ou de complicar os seus versos por vaidade que “Tapestry” é a melhor faixa do álbum. A escrita de MIKE é tão impactante quanto é breve, e o instrumental que a carrega é encantador, com uma guitarra que transforma tudo em melancolia e uns drums balançantes e irresistíveis.

Beware of the Monkey é mais um sucesso total de MIKE, que parece imparável e não mostra quaisquer sinais de estagnação. É difícil imaginar o rapper a entrar no mainstream, mas, se continuar a este ritmo, facilmente vai atingir um estatuto lendário semelhante ao de MF DOOM no underground. Será só coincidência ambos terem o nome todo em letras maiúsculas?