Em Portugal morrem cerca de 70 pessoas com cancro por dia. No entanto, a taxa de sobrevivência é superior à da União Europeia.

Este sábado, dia 4 de fevereiro, assinala-se o Dia Internacional da Luta Contra o Cancro. Em Portugal, é a Liga Portuguesa Contra o Cancro que promove a data, visando desmitificar e informar sobre a doença. O ComUM esteve à conversa com Inês Pereira, aluna do segundo ano da licenciatura em Gestão na Universidade do Minho (UMinho), que contou a sua história.

Em 2020, com 17 anos, foi diagnosticada com leucemia. Revela que começou por sentir “muito cansaço e perda de apetite” e que chegou a “perder cerca de 10kg em apenas duas semanas” o que alertou os pais, que a levaram a fazer análises. No mesmo dia, foi internada no IPO.

Primeiro internamento de Inês

Inês confessa que o impacto da notícia foi arrasador a nível emocional. “Ninguém está à espera de receber uma notícia destas. Muitas vezes me perguntei: porquê eu?”. No entanto, relata que foi algo que “passou rápido” pois mentalizou-se de que “é bola para a frente que o objetivo é recuperar”.

Inicialmente, a jovem foi internada durante 17 dias, o seu maior internamento na pediatria. Refere que o facto de estar rodeada de pessoas na mesma situação teve o seu lado positivo, mas também negativo. Por um lado, sentia que estavam “todos a passar pelo mesmo”. No entanto, “a maioria [dos internados] eram crianças e ouvia várias vezes choros de sofrimento” o que a abalava muito.

No que diz respeito à rotina teve de fazer várias mudanças, sendo a principal a nível escolar. Como se vivia em contexto de pandemia foi obrigada a “deixar de ir às aulas e ficar a maior parte do tempo em casa”. O seu “sistema imunitário mais fraco” tornava-a “muito susceptível a infeções”. Pelo mesmo motivo, não podia receber visitas. “Como na altura era menor de idade, estava na pediatria e podia ter um acompanhante, que sempre foi o meu pai. A minha mãe não me podia visitar.”

Além disso, relata que os seus hábitos alimentares também mudaram. “A comida tinha de ser sempre muito bem confecionada e a carne muito bem passada. Nada de legumes crus e a manteiga tinha de ser de uma embalagem individual, para evitar estar sempre a abrir e fechar e assim levar a possíveis contaminações”. Quanto ao vestuário, “a roupa era passada e guardada imediatamente nos armários e os lençóis da cama tinham de ser trocados todos os dias”, continua. “São coisas que no dia a dia não damos atenção, mas que de um dia para o outro mudam completamente”.

Tendo em conta o estado de Inês, o protocolo estipulado pelos médicos tinha a duração de dois anos, com seis meses de tratamentos intensivos e um ano e meio de manutenção. “As sessões de quimioterapia eram mais espaçadas entre si”, o que lhe dava tempo de recuperar. “O meu sistema imunitário ficava muito em baixo e ficava mesmo muito fraca. Levantar-me da cama, ir à casa de banho e tomar banho eram coisas simples, mas que eu precisava de ajuda para as fazer. Além disso, tinha enjoos e vómitos, muitas feridas, e imenso cansaço e dores no corpo”, revela.

Em dezembro de 2022, Inês fez a sua última biopsia que indicou que já estava curada. Hoje, vive a sua vida normalmente e sem restrições.

Segundo dados apresentados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), Portugal apresenta uma taxa de sobrevivência ao cancro acima da média europeia. No caso da leucemia infantil, a taxa portuguesa é de 90%, enquanto a da UE é de 82%.

A estudante da academia minhota acredita ser importante celebrar datas como esta e que sejam partilhadas experiências como a sua. “É uma forma de informar a população e alertar para este tipo de problemas”. Inês acredita que este é um assunto “com ainda muitos tabus e que não é suficientemente falado. Na altura cheguei a ter um amigo a perguntar-me se a leucemia era transmissível”.