A data, definida pela UNESCO em 2011, é comemorada a 13 de fevereiro de cada ano.

A evolução e a importância da rádio têm sido várias vezes alvo de discussão, embora esteja presente em diversos momentos históricos. Em entrevista ao ComUM, Sérgio Xavier, radialista na Rádio Universitária do Minho (RUM), falou acerca do passado e do presente deste meio de comunicação no mundo e, especialmente, em Portugal.

Foi em 1936 que se iniciaram as emissões experimentais de rádio em Portugal, mas apenas na época do Estado Novo teve a sua verdadeira oficialização e as suas potencialidades foram realmente estudadas. Apesar de ser o principal meio de comunicação pública, “não existiam muitas rádios, eram principalmente emissoras nacionais”, esclarece Sérgio Xavier.

De 1933 a 1974, a rádio tinha um papel essencialmente político servindo, de acordo com o radialista, para vincular os valores basilares para o regime. “Ajudavam também a propagar a ideia de um país bastante pobre, mas muito alegre, como tão bem retrata o fado Uma Casa Portuguesa de Amália Rodrigues”, refere. Além disso, “ainda assumia uma função mais importante em relação a outros meios”, admite Sérgio Xavier, já que era “o mais popular em termos de acesso” ao contrário da televisão que “nem toda a gente tinha”.

“Como tudo, o que é popular é usado para abrir horizontes e também pode ser usado para tapar algumas janelas”, afirma. Analisando, por exemplo, a Segunda Guerra Mundial em que a rádio foi um grande apoio ao estimular o fanatismo, Sérgio Xavier considera que o meio, apesar de contribuir para o conhecimento e propagação de informação de forma positiva, também pode, pelo contrário, ser usada de forma negativa. “As coisas não são boas nem más por si só, depende do seu uso. Podemos aplicar isso à internet, por exemplo”, salienta.

A rádio adequa-se aos contextos e, vivendo da oralidade, “é o mais natural, espontâneo e humano que há”. “Na segunda guerra, os discursos dos governadores eram passados em rádio porque é imediata, adapta-se às circunstâncias, por alguma razão também as senhas do 25 de abril de 1974 foram transmitidas em rádio” tornando-se representante da liberdade. Porém, é mais tarde, numa fase posterior dos anos 80, que o radialista identifica o período “mais estimulante” do meio, “como reflexo e como causa da abertura do país ao que vinha de fora, principalmente para os mais jovens”.

“A sede de conhecimento era enorme, mas a rádio também foi crucial como veículo do que era feito em Portugal”, incluindo a música. Sérgio Xavier refere também a criação das rádios livres ou piratas que foram igualmente um reflexo dessa abertura e atitude sedenta de querer conhecer e experimentar. “Há uma série de programas que ainda agora são referência, como a Febre de Sábado de Manhã do Júlio Isidro que movimentava centenas ou milhares de pessoas que queriam participar nessas emissões”, lembra.

Quanto à importância da rádio no presente e no futuro, o radialista realça que “a rádio está a ganhar outras formas. Há cada vez mais meios de informação e plataformas de música streaming como o Spotify”. Mesmo assim nota que as “bandas novas ainda ficam satisfeitas por passar na rádio, ainda há um papel de legitimação”. “Os hábitos estão a alterar-se, as pessoas preferem ouvir a sua música” o que, na sua opinião, tem também um lado negativo porque “acabam por ficar apenas na sua bolha sem conhecer coisas novas”. Por outro lado, os podcasts também ganham um lugar mediático cada vez maior, mas, do seu ponto de vista, estes “não são mais do que rádio, a essência é a mesma”. Por fim, Sérgio Xavier destaca o “lado humano” do meio auditivo. “Quando ouvimos rádio há alguém do outro lado, geralmente, como curador”, relembra.

Nos anos 80, a música dos Buggles que foi utilizada quando a MTV entrou no ar e que se chamava “Video Killed the Radio Star” ilustrava precisamente esta temática. O profissional conclui, portanto, que a rádio teve sempre um papel importante na sociedade, com poder e capacidade de influência, nomeadamente social e política. Com o tempo, talvez tenha perdido e venha a perder esta relevância. No entanto, como tudo, e como tem vindo a acontecer, a rádio vai evoluir, transformando-se, a par com as outras mudanças na sociedade. No passado, o surgimento da televisão, por exemplo, colocou em causa a hegemonia da rádio. Contudo, esta soube adaptar-se. Basta, como encerra Sérgio Xavier, “enquadrar o papel da rádio no momento histórico que o país e o mundo atravessam”, para perceber a importância que a rádio continua a ter na vida das pessoas.