O arquiteto minhoto dedicou a sua alma a uma vida em devoção às artes.
Lourenço Mendes, artista vimaranense, é um homem de múltiplas camadas que coalescem para formar um ser com uma vida profundamente dedicada ao amor às artes. Notável arquiteto, vocalista da banda Smartini e professor de desenho e geometria descritiva na Escola Secundária das Caldas das Taipas, o seu nome prontamente se espalhou pelo país.
Lourenço Mendes vê a sua arte com a mesma paixão e entusiasmo de quando ingressou na profissão do arquiteto. “Quando tirei o curso de Arquitetura, lembro-me dos professores dizerem que os arquitetos atingem a maturidade aos 40 anos. Feliz, ou infelizmente, com 52 anos sinto que ainda não a atingi”, alude Lourenço Mendes. “Digo isto porque ainda sinto o mesmo entusiasmo a fazer um projeto”, acrescenta.
Apesar de uma negativa a educação visual no ensino básico, houve uma vontade divina a ser cumprida: continuar a perseguir o universo artístico. Assim, seguiu Artes Visuais no ensino secundário na Escola Francisco de Holanda, em Guimarães, e posteriormente, o curso de Arquitetura, na Universidade Lusíada, em Famalicão.
“A arquitetura tem um inconveniente: estamos a fazer um projeto para um cliente. Enquanto nas outras artes há muito mais liberdade e o trabalho pode, ou não, ficar connosco depois da apresentação”, conta ao ComUM. A arquitetura é uma vertente artística mais complexa, de tal forma que várias vezes nem é considerada como tal. As regras formais tornam-se um constrangimento inerente ao processo: a ordem, o racional e as limitações de liberdade criativa. Além disso, as opiniões e vontades não se cingem somente ao criador, e, por vezes, quem compra tem, inclusive, uma voz mais forte.
Ademais, o arquiteto anseia que os seus projetos não caiam no banal, mas que reflitam a sua tremenda alma artística. Afirma, “quero que todas as minhas obras de arquitetura sejam quase confundidas com uma obra escultural”. E, de facto, os seus projetos impõem uma posição espacial inevitável. Acima de tudo, têm uma voz imensamente pessoal que comunica com o observador como qualquer outra intervenção artística. Não obstante, as suas obras moldam-se consoante o terreno e fundem-se com o meio onde estão inseridas, tornando o seu trabalho ímpar.
Explica-nos como os arquitetos têm a “responsabilidade de marcar um território”, uma vez que as pessoas vão, involuntariamente, cruzar-se com o seu trabalho. “Tudo o que nós fazemos, por mais cuidado que tenhamos, vai influenciar imenso a vida diária das pessoas”, sobretudo quando se trata de uma intervenção numa cidade, já que tem um impacto muito maior.
Como seria de esperar, os últimos dias do processo são, para si, os mais nostálgicos e emotivos. “É muito bom estar na obra, sentir o espaço e imaginar como será viver naquela casa”, conta. É um momento de despedida de uma criação com a qual passou, no mínimo, dois ou três anos, e que deixa, por fim, de ser sua.
Considera-se uma pessoa muito pouco permeável no que toca a inspiração. As suas influências são restritas, recolhidas maioritariamente nas suas viagens e consequentes passeios pelas ruas e visitas a museus. Faz questão de se manter informado, mas a sua imagem de marca manteve-se estável e não influenciada por projetos alheios com o passar dos anos.
Para além disso, e dissecando mais uma camada de si, a música assume um papel inconstante na sua vida, surgindo por ímpetos. Embora com uma banda de sucesso, o artista sente mais bloqueios criativos quando trabalha sozinho. Mesmo com menos assiduidade, o grupo tenta reunir a horas mais calmas de forma a compatibilizar horários.
Recentemente, desenhou uma peça de design que está em exposição na loja de cozinhas Pood, em Paris. A peça incomum tem tido um feedback extremamente positivo e a experiência no mundo do design tem sido incrível para o artista.
Sentimos em si e no seu trabalho a paixão de quem realmente aprecia o que faz. O seu entusiasmo pelo processo criativo e pelo mundo da arquitetura é tão puro que nos transmite um toque de uma inocência eterna. Diz-nos, “eu tanto me apaixono por um edifício enorme como por uma casa mais modesta”.