“Onde está o horizonte?”, pergunta o renomado realizador John Ford (David Lynch) a um jovem Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle), o alter-ego de Spielberg, realizador desta obra semibiográfica. Esta é a cena final, mas nada temam que isto que vos revelo não é um spoiler e, mesmo que fosse, não estragaria a jornada maravilhosa que é Os Fabelmans.
Esta obra cinematográfica conta a história de uma família judia aparentemente perfeita: um pai carinhoso, uma mãe extremosa e quatro filhos educados com amor e carinho. É assim que Spielberg apresenta esta família que é uma versão fictícia daquela em que o próprio cresceu.
Nesta família de seis elementos, Sammy representa as ansiedades, os delírios e os sonhos do realizador que viria a fazer história com uma quantidade de narrativas surpreendentes que apaixonaram e continuam a apaixonar cinéfilos e não cinéfilos. Percebemos, desde cedo, que a verdadeira paixão do protagonista é o cinema e a arte de fazer filmes e de contar histórias, vislumbramos a felicidade do próprio em receber a sua primeira câmara, observamos uma quase obsessão em visualizar mentalmente como seriam certas situações em película.
É interessante reparar que para o protagonista o cinema não se trata só de uma paixão, mas também é utilizado como forma de lidar com os inúmeros problemas e adversidades que o seu seio familiar atravessa. São mudanças de cidade repentinas, o divórcio dos pais e o desmoronar do que, à partida, era uma família feliz e funcional. São diversas as vezes em que Sam mergulha e se perde por completo no meio das câmaras ao filmar e editar por horas os seus filmes, isto tudo enquanto atravessa fases que seriam traumáticas para qualquer ser humano.
Não só de dramas familiares podemos contar ao assistir a este filme. Qualquer espetador se pode rever nos momentos de felicidade e de pura alegria caraterizados pela família Fabelman, a narrativa apela à nostalgia e aos tempos alegres e despreocupados como a infância, sejam nos acampamentos, nas reuniões familiares e no Natal, como quando Sammy recebe uma prenda que ativa o seu lado infantil de criatividade e imaginação.
E como dificilmente um filme se faz sem atores não é demais elogiar o elenco que se encontra todo ele excecional, sem nenhuma exceção. Destaca-se o talento surpreendente de Paul Dano e de Michelle Williams. É de bradar aos céus a química e a ternura que estes dois atores conseguem transparecer quando estão em cena.
Michelle Williams é capaz de emocionar apenas com um olhar e Paul Dano é dotado de uma subtileza ao compor um personagem que tem o seu lado afetuoso tal como possui uma certa austeridade e assertividade. Menção honrosa para Judd Hirsch como Tio Boris, um tio que embora seja tresloucado está sempre pronto para aconselhar (e assustar) aqueles que lhe são próximos e também para Crystal, a macaca Bennie que inferniza a vida da família Fabelman.
Resumindo, Os Fabelmans é um retrato autêntico de uma infância e adolescência atribulada recheada de dramas familiares e de provações de um dos maiores realizadores que já teve o prazer de pisar o planeta Terra. A obra teve algumas nomeações para os Óscares e o amor e carinho que Spielberg imprime nesta história torna-a a merecedora de ser a grande vencedora da mais importante cerimónia do cinema moderno.
Título Original: The Fabelmans
Realização: Steven Spielberg
Argumento: Steven Spielberg
Elenco: Michelle Williams, Gabriel LaBelle, Paul Dano
Estados Unidos da América
2022