António Vieira, mais conhecido como Padre António Vieira, consagrou-se como um dos principais filósofos, oradores e escritores do seu século. O autor que veio para revolucionar o estilo barroco literário português, celebra hoje, dia 6 de fevereiro, o seu 415º aniversário.
António Vieira teve uma educação religiosa, primeiramente, no colégio dos jesuítas, onde ingressou na Companhia de Jesus posteriormente, iniciando o seu noviciado. Em 1626, ainda como noviço encarregou-se de ensinar retórica e redigir o trabalho da Companhia de Jesus em Lisboa. Estreou-se como orador com “Maria, Rosa Mística” em 1633, sendo ordenado padre no ano seguinte.
O Padre António Vieira tornou-se o motor para a consciencialização dos maus-tratos aos indígenas nas colónias portuguesas como Pernambuco, Brasil num século de expansão dos descobrimentos e conquista de terras pela coroa portuguesa. Nos seus discursos denunciava o comportamento dos homens metaforicamente recorrendo a entidades que substituíssem a palavra “homem”. O seu objetivo era também restaurar o catolicismo na colónia brasileira e viver seguindo os valores cristãos. A sua escrita era predominantemente de estilo barroco característico pelo rebuscamento da língua, o contraste e o uso de antíteses e paradoxos para criar um maior impacto.
Um dos sermões mais emblemáticos de António Vieira, e que é integrado no estudo obrigatório português no ensino secundário, é Sermão de Santo António aos Peixes. No sermão, António Vieira critica a falta de atenção dos ouvintes aos oradores e os próprios oradores na catolicização do povo. É um discurso de critica à exploração indígena nas colónias. Neste sentido cria um sermão personificando Santo António no seu discurso aos peixes, que representam uma grande critica ao Homem através do elogio ou repreensão de diversas características. Tornou-se um dos mais emblemáticos sermões de António Vieira pela particular escolha de “discursar aos peixes” e criticar de forma inteligente os comportamentos dos humanos.
Alguns dos seus outros sermões são Sermão da Sexagenária onde aborda a arte de pregar, Sermão Pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda texto em que se posiciona contra a invasão holandesa e Sermão do Mandato onde desenvolve o conceito de amor místico. Os seus sermões fizeram com que se tornasse um dos principais oradores do século XVII destacando-se dos demais e criando opiniões mistas sobre o seu caráter discursivo.
No ano de 1641 regressou a Lisboa abandonando a colónia brasileira depois de seis décadas do domínio filipino e o restauro do reino português com o monarca D. João IV, o primeiro monarca da casa de Bragança. O rei e a sua esposa rainha D. Luísa encantaram-se com os charmes oratórios do Padre António Vieira e pela sua distinção clara face aos outros oradores do século. Tornou-se conselheiro da corte, embaixador e um dos principais homens em que o monarca confiava. Contudo, a sua defesa aos cristãos-novos numa época caracterizada pela inquisição e perseguição aos judeus marcou-o como um dos maiores inimigos da Igreja.
Voltou ao Brasil em 1653 passando por Pará e Maranhão numa missão catequista ainda com o objetivo de lutar contra os colonos portugueses que escravizavam indígenas, numa tentativa de dar uma voz aos que não tinham uma voz para o fazer. Em 1661, depois de um ano preso pelas suas ideias revolucionárias e não aceites, regressou a Lisboa com o intuito de se libertar.
Porém, foi perseguido pela inquisição portuguesa devido aos seus valores controversos. Preso pela inquisição entre 1666 e 1667, perdeu o direito de pregar. Em 1669, foi perdoado pelo crime de heresia e viajou para Roma para ser absolvido pelo Papa.
A sua vida foi dedicada a pregar e destaca-se pelo seu envolvimento em questões políticas bastante sensíveis na época com a ausência de medo das repercussões, discursando a sua verdade. Essas questões sendo também religiosas. Os seus sermões chegaram aos dias de hoje transportando o legado do Padre António Vieira no que foi uma vida de justiça e luta pelos injustiçados.