Lançado pela Disney no final de 2010, Entrelaçados conta a história de uma princesa que não sabe que é princesa, de um ladrão que afinal tem bom coração, de um cavalo que é mais humano que a maioria da raça humana e de uma vilã que é, realmente, má. O filme é baseado no conto de fadas alemão “Rapunzel” dos irmãos Grimm.

Na história original, Rapunzel está aprisionada no alto de uma torre por uma bruxa vingativa, que a prendeu como pagamento pelo pai da criança lhe ter roubado (antes sequer da menina ter nascido). Passado alguns anos, um príncipe encontra a torre de Rapunzel. Os dois apaixonam-se e ele passa a encontrar-se, secretamente, com ela; sempre com a fuga da prisioneira em vista. Quando a bruxa descobre, finge que é a jovem, para que o príncipe suba a torre agarrado aos cabelos louros da amada, para no fim da escalada empurrá-lo. O príncipe cai em cima de espinhos, que o cegam, e durante anos deambula em busca de Rapunzel. Até que um dia regressa à torre e ela, já com filhos dele, restaura a visão com as suas lágrimas.

Bem, na versão de 2010, a história é igualmente dramática, mas segue um rumo totalmente diferente. Os amados conhecem-se sim na torre, mas Rapunzel não se apaixona perdidamente por Flynn. Na verdade, mal ele chega ao cimo da torre, ela atinge-o com uma frigideira; deixando-o inconsciente. Entusiasmada por ter finalmente arranjado maneira de fugir da torre, chantageia-o. Rapunzel quer ir ver as “luzes voadoras” que iluminam o céu todas as noites na sua data de aniversário, mas a mãe (Gothel, a bruxa má) não a deixa ir, pois o mundo é um lugar cruel cheio de pessoas com más intenções — a ironia. Então, Rapunzel diz a Flynn que lhe devolve a coroa valiosa (que ela achou na mala dele enquanto ele não tinha sentidos), mas só no fim do passeio.

O problema é que Flynn não é um príncipe; nem tão pouco um cavalheiro. É um ladrão e a última coisa que lhe apetece é regressar ao reino de onde roubou a coroa. Desta forma, e porque não tem opção, aceita o acordo, mas engana-a: Flynn está determinado a assustá-la, para que a protagonista queira voltar para a torre o mais rápido possível e ele possa seguir com a sua vida. Mas Rapuzel não só não se intimida, como romantiza qualquer tentativa dele de lhe provar que o mundo é um lugar mau: a jovem inspira ladrões a lutar pelos seus sonhos e quase morre afogada, considerando o acontecimento o momento mais divertido da sua vida.

Para piorar a situação de Flynn, os protagonistas passam o filme a fugir de um gangue de criminosos que o ladrão enganou e é ainda obrigado a conviver com Maximus, um cavalo da polícia real (que sabe que ele roubou a coroa), e Pascal, um camaleão superprotetor de Rapunzel. No entanto, a inspiração que a protagonista partilha com o mundo, acaba também por o contagiar; nomeadamente, quando ele lhe conta que é um ladrão. Ela não se assusta e também não o julga. Então, à medida que o tempo passa, Flynn percebe que não anseia assim tanto que o passeio termine e, por extensão, se tenha que despedir dela.

Todavia, mesmo que Flynn se tenha rendido ao coração, Gothel não o deixa fazer a escolha certa, pois ela quer Rapunzel só para si. A verdade é que a protagonista é mais que uma jovem de cabelos com mais de 20 metros de comprimento. O seu cabelo é assim porque é mágico e ao som de um encantamento, funciona como uma poção de juventude que permite a Gothel viver eternamente — algo que a bruxa não abdica. Desta forma, Gothel faz um acordo com os criminosos que se querem vingar de Flynn, rapta a filha e mata Flynn. Tendo em conta que o filme é para crianças, a história é bem adulta; o que torna a longa-metragem perfeita para toda a família. É uma narrativa envolvente, repleta de ação, aventura e muito humor, à base da ingenuidade de Rapunzel e das tentativas de sedução de Flynn.

A isto tudo, ainda se pode adicionar ao filme a classificação de fantasia, pelos poderes mágicos de inúmeros elementos da história, e de musical; onde as canções “When Will My Life Begin?”, “Mother Knows Best” e “I See the Light” ganharam relevo internacional e entraram na mente de todos os que viram o filme. Quanto à última canção, para além de ser um bonito arranjo — que valeu aos compositores um Grammy e uma nomeação aos Óscares — é um momento importante na história. É o que Rapunzel anseia desde o início: a protagonista consegue ver, finalmente, as “luzes voadoras”. Esta cena está repleta de mensagens com valor para o desenvolvimento da narrativa, uma vez que Flynn, já considerando Rapunzel como alguém importante na sua vida, decide presenteá-la com um lugar romântico de destaque, no meio do rio. Aqui, os dois apercebem-se que estão apaixonados um pelo outro — o que muda tudo nas missões e vontades dos protagonistas.

Concluindo, Entrelaçados é muito mais que uma história de princesas. Rapunzel é assertiva, rege-se pelos seus sonhos e não se deixa intimidar. A sua determinação, aliada ao sarcasmo de Flynn, tornou-se numa referência para todos aqueles que gostam de comédia romântica e que depois de visualizar este filme, não pedem menos que isto.