Data é assinalada com inúmeras iniciativas que promovem as boas práticas de sustentabilidade e poupança de água.

O Dia Mundial da Água é comemorado hoje, 22 de março, por todo o mundo. A data foi instituída em 1993 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o intuito de promover a reflexão e debate acerca dos recursos hídricos. O tema deste ano é “Acelerar a mudança para resolver a crise da água e saneamento”.

Um dos fatores implicado é as alterações climáticas, e respetivos efeitos nos recursos hídricos. 2022 foi o ano da pior seca desde que há registo, em Portugal. O mês de maio foi o mais quente e seco dos últimos 92 anos e no final de outubro, 24,8% do território de Portugal continental atravessava seca severa e 75,2% em situação extrema, de acordo com dados divulgados pela TVI. As áreas mais afetadas foram o Algarve, o Sudoeste/Interior Alentejano e o Centro Interior, cuja dificuldade de reservas tende a progredir para as Bacias do Centro e do Norte, nas secas mais prolongadas.

David Braga e Diogo Fernandes, estudantes de Ciências da Comunicação, mencionam pequenas ações como desligar a torneira enquanto se lava os dentes ou as mãos, tomar banhos rápidos de modo a reduzir o gasto de água ou só lavar o carro ao anoitecer. “De um modo geral, acho que devíamos ser menos desleixados em relação ao assunto. Cometemos muitos erros desnecessários no desperdício da água”, afirma David Braga.

Já Diogo Fernandes destaca como desde cedo aprendeu a importância da água: “havia pequenos posters nas casas de banho e chegamos a fazer uma visita de estudo a uma ETAR”. Esta sensibilização tem chegado cada vez mais às gerações mais idosas, através dos média. Contudo, a nível industrial, acredita que “as pessoas não estejam devidamente informadas na quantidade de água utilizada na fabricação de produtos do nosso quotidiano”.

Um pouco por todo o país, vão-se realizar inúmeras iniciativas de modo a consciencializar a população para a mudança de comportamentos sobre o uso da água, incitando ao seu uso com proteção e eficiência. Uma dessas iniciativas vem do Movimento H2Off – Hora de fechar a torneira, promovido pela Comissão Especializada de Comunicação e Educação Ambiental da Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA). Este desafia os portugueses a “fecharem a torneira por uma hora, sem qualquer consumo de água, entre as 22h00 e a 23h00 do dia 23 de março, num gesto deliberado e consciente”.

Nesse sentido, o ComUM falou com o Engenheiro Rui Godinho, presidente do Conselho Diretivo da APDA e membro do Board of Governors do World Water Council. O especialista diz ser “notório” que não tem sido feito o suficiente na promoção das boas práticas de poupança e combate ao desperdício de água. “Existe desde 2012 um Programa para o Uso Eficiente da Água (PNUEA), com um plano de implementação aprovado, mas cuja execução nem sequer foi iniciada. Este PNUEA estabelecia, para 2020, limites para as perdas de água, de 20% no setor urbano, de 35% na agricultura e de 15% na indústria. Neste momento, a nível nacional, os indicadores conhecidos correspondem a 70% na agricultura, 30% na indústria e 30% no setor urbano”, explica.

“A possibilidade de um Dia Zero, como aconteceu na Cidade do Cabo na África do Sul” – dia em que o racionamento não chegou para reverter a total falta de água nas torneiras – “não está afastada de se verificar em Portugal”.  Continuam visíveis “perigosos cenários”, cujas ocorrências de seca e escassez sistémicas advêm de “frequentes captações em ‘volume morto’ em várias albufeiras” e “usos descontrolados e intensivos em importantes aquíferos”.

Olhando para o futuro, Rui Godinho assevera a importância de “deliberar politicamente e agir em consequência”, propondo, por exemplo, “colocar a água no topo da agenda política nacional, regional e local”, bem como “declarar as Águas Subterrâneas como ‘reserva estratégica’”. Considera fundamental garantir que os serviços de abastecimento e saneamento “cubram todo o território nacional” e “proteger, valorizar e prosseguir políticas de recursos humanos que assegurem a manutenção dos centros de competências que críamos nas últimas décadas”. “Estamos perante um recurso vital – evidenciado de forma brutal com a pandemia da Covid-19 – e temos de parar de considerar a água e os seus ciclos como garantidos e um adquirido sem limites e sem fim”, rematou.