A efeméride pretende alertar sobre a doença e lutar contra os estigmas e preconceitos que envolvem as pessoas obesas.
O Dia Mundial da Obesidade ocorre este sábado, 4 de março, e visa advertir sobre os perigos e prevenções da obesidade. A psicóloga Cláudia Vilela já realizou uma cirurgia de redução do estômago e partilhou com o ComUM o processo de perda de peso.
De acordo com dados da Health at a Glare, em 2018 53,5% da população acima de 15 anos em Portugal sofre de obesidade. Em 2020, o Instituto Nacional de Estatística apresentou 53% da população portuguesa acima dos 18 anos como obesa ou acima do peso. Quanto a obesidade infantil, 11,9% das crianças apresentam obesidade e 29,7% acima do peso.
A obesidade é definida como o excesso de tecido adiposo em relação à massa magra, o desequilíbrio entre as calorias consumidas e as calorias gastas com exercício físico. A doença pode afetar a longevidade e qualidade de vida, além de ser um fator de risco para o desenvolvimento ou agravamento de outras doenças patológicas. Pode ser causada por aspetos genéticos, hormonais, psicológicos.
Cláudia Vilela, de 50 anos, realizou a cirurgia bariátrica quando tinha 41. “Eu fiz diversos tipos de dietas, tomei medicação com acompanhamento médico, tentei exercício físico. Quase tive um enfarte, fiquei um tempo internada, e tinha um sobrepeso de cinquenta quilos”, explica Cláudia Vilela.
A cirurgia bariátrica consiste na redução do estômago para modificar o processo natural de digestão e diminuir a quantidade de calorias absorvidas, de forma a facilitar a perda de peso. É o tipo de estratégia recorrida pelos médicos quando as restantes alternativas não funcionam, como dietas, remédios, exercícios, todas de forma reguladas e acompanhadas profissionalmente.
Antes da aprovação para a cirurgia bariátrica, os pacientes passam por um acompanhamento médico intenso, uma avaliação que dura meses por uma equipa multidisciplinar. Não é suficiente apenas estar acima do peso. A pessoa deve ter as comorbidades associadas a obesidade, como a pressão alta, distúrbios respiratórios, diabetes, entre outros, de modo a ver a operação aprovada.
“Fiz uma avaliação durante seis meses, preparei-me com um cirurgião especializado em bariátrica e toda a sua equipa. Visitei um psicólogo, um endocrinologista, pneumologista, gastroenterologista, até mesmo dentista, e só depois de uma grande bateria de exames e várias análises obtive a aprovação e indicação”, afirma a psicóloga.
O Índice de Massa Corporal de Cláudia Vilela era de 42, o que significa que sofria de obesidade grau III, o mais alto possível. A psicóloga relata que passou anos a seguir as receitas médicas e dietas, além de participar em maratonas e correr casualmente. Contudo, admite que “em corridas, as pessoas riam-se de mim, faziam piadas e era difícil sentir-me à vontade”.
Sobre o preconceito sofrido, a psicóloga também comenta a respeito das dificuldades no ambiente de trabalho. “A obesidade dificulta a inserção no mercado de trabalho pela ideia de que obesos são preguiçosos, estão sempre doentes e podem sempre piorar”, complementa.
Cláudia Vilela sente que, pelo olhar da sociedade, pessoas acima do peso são consideradas “preguiçosas” e “repulsivas” por não conseguirem controlar o que comem ou não se exercitarem o suficiente. No entanto, explica que a realidade engloba características mais complexas para a perda de peso.
Nenhum dos métodos de perda de peso é instantânea. “Não existe fórmula mágica”, conclui a entrevistada, sublinhando que a sua experiência não seja interpretada como publicidade para o procedimento da bariátrica. Visa mostrar como os métodos convencionais não foram suficientes para si e precisou de optar por algo intrusivo para preservar a vida.
Para finalizar, Cláudia Vilela esclarece que sendo a obesidade uma doença, deve ser tratada e não julgada. Contudo, nem toda as pessoas acima do peso estão necessariamente doentes. O parâmetro para o sobrepeso é o IMC e o peso deve ser observado como preocupação a partir do valor igual ou superior a 25. Esta data visa lembrar o dever da sociedade em apoiar a luta contra a obesidade, e não julgar as pessoas que sofrem da condição.