A ansiedade e as plataformas digitais são os principais motivos para os hábitos de sono irregulares dos jovens inquiridos.
Anualmente, a World Sleep Society assinala o Dia Mundial do Sono na sexta-feira anterior ao equinócio da Primavera. Este ano, é celebrado dia 17 de março e o seu objetivo passa por alertar para os benefícios do sono e, por outro lado, para as consequências da privação deste.
De forma a compreender os hábitos de sono dos jovens, o ComUM lançou um formulário online destinado à faixa etária dos 16 aos 24 anos com questões acerca do tema. Posteriormente, os dados recolhidos foram analisados em conversa com a especialista de Medicina do Sono, Amélia Feliciano.
A maioria dos inquiridos admitiu dormir entre 6 e 8 horas, com as 7 horas a terem um maior peso dentro desta frequência. Assim, cerca de 60% sente que não descansa o suficiente. Amélia Feliciano não ficou surpreendida e esclarece que deviam dormir de 8 a 10 horas.
Dentro das razões apontadas como obstáculos para uma boa noite de descanso, a resposta mais referida diz respeito a plataformas digitais. Segundo a especialista, isto acontece porque “a luz emitida pelos nossos aparelhos eletrónicos impede a produção de melatonina, a hormona que induz o sono, levando a que não consigam adormecer”.
Para combater este problema, aconselha que entre 1 e 2 horas antes de se deitarem, os jovens evitem estar em frente a ecrãs sem proteção da luz emitida. Outra das soluções apontadas passa por substituir os aparelhos por opções analógicas como livros e, a mais clara, dormir mais do que têm dormido.
A ansiedade foi também bastante mencionada enquanto perturbação do sono, representando 53% das respostas. A doutorada em Medicina do Sono, explica que essa sensação “pode advir da falta de pausas no estudo ao longo do dia e do pouco exercício feito, levando a uma acumulação até à hora de deitar, não nos permitindo desligar os motores e iniciar o sono”. Outro fator é o consumo de bebidas estimulantes como a Coca-Cola, a Red Bull, chá verde, chá preto, entre outras.
Tendo sido o período de quarentena uma situação atípica, houve espaço no inquérito online para algumas questões acerca dos hábitos de sono nessa época. As respostas divergiram imenso quanto aos hábitos de sono, mas a justificação foi semelhante, sublinhando o maior tempo passado em casa.
Passar mais tempo em casa é teoricamente associado a mais horas de sono. Contudo, há alguns fatores condicionantes. No caso da degradação dos hábitos de sono, teve origem numa rotina mais monótona. Consoante a especialista, “as pessoas que tinham grandes hábitos de convívio e/ou contacto com a natureza, sentindo a necessidade desta, o que pode ter levado à piora”, referindo ainda o fecho dos ginásios, locais de libertar energia.
Atualmente, já com menores preocupações em relação à COVID-19, Amélia Feliciano defende que o equilíbrio entre o online e o presencial, ou seja, o sistema híbrido, seria a melhor solução. Refere ainda que “os jovens tendem a deitar-se mais tarde e acordar mais tarde, sendo isto algo fisiológico”. Desta forma, seria bom possuírem a possibilidade de dormir mais em dias com aulas online, mas também terem contacto com o sol, a natureza e os amigos nos dias presenciais.
Apesar da consciência em relação às consequências da privação do sono – como mau humor, cansaço, ansiedade, falta de atenção, menor produtividade, dores de cabeça – nada parecem fazer para o mudar. Por isso, “cada vez mais precisamos de alertar que é importante termos consciência dos nossos hábitos de sono” sendo que “ainda não há consciência que o sono é tão importante para o nosso equilíbrio”.
De acordo com a especialista, os bons hábitos devem partir dos pais, ao demonstrarem a importância de ter horários regulados e que horas de sono adequadas levam a um melhor rendimento escolar. Mesmo assim, “há sempre um grupo de pais que acha que dormir pouco é bom e suficiente”, não transmitindo a informação mais correta, mas sim maus hábitos de sono que podem ser prejudiciais.
Para os leitores, Amélia Feliciano deixa claro que “é importantíssimo passar a informação”, devendo haver um maior conhecimento em relação a este tópico. Além disso, sublinha a “responsabilidade de cada um pela saúde, sendo um dos aspetos desta o sono”.