“A Condição da Mulher nos Sectores do Cinema e do Audiovisual” é o primeiro estudo de fundo sobre a realidade nacional neste setor da cultura.
A associação MUTIM – Mulheres Trabalhadoras em Imagens em Movimento, apresentou um relatório de dados preliminares que demonstra estatisticamente a desigualdade de género no Cinema e Audiovisual em Portugal. Juntamente com a MUTIM, o estudo “A Condição da Mulher nos Sectores do Cinema e do Audiovisual” foi levado a cabo pelo Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa.
A MUTIM foi fundada em abril de 2022 por profissionais do cinema e audiovisual em Portugal, em parceria com a XX Element Project – Associação Cultural. Os seus principais objetivos passam pelo combate à desigualdade de género, pela valorização das mulheres nestes setores e por proporcionar mais oportunidades laborais. Através da sua iniciativa para apurar o atual estado do setor, a associação dinamizou o estudo que sistematiza dados incidentes sobre diversas componentes socioeconómicas da área do Cinema e Audiovisual à escala nacional.
A metodologia adotada compreendeu análise documental e aplicação de inquéritos por questionário online a trabalhadores e trabalhadoras do sector. No relatório preliminar encontram-se resultados estatísticos que corroboram a precariedade da área, nomeadamente a apuração de que 59% das mulheres que responderam têm um rendimento até 14.999 euros brutos, contrastante com 40% dos homens. Já nos respondentes com rendimentos acima dos 25.000 euros anuais brutos podem contabilizar-se 31% de homens e apenas 15% de mulheres.
Relativamente à necessidade de desistir ou abdicar de trabalho por causa da conciliação com a maternidade ou paternidade, 51.9% respondeu afirmativamente, com mais mulheres a sentirem esse imperativo (60.2%) do que homens (39%). Confrontados com um conjunto de afirmações relativas a vivências, a maior parte respondente escolheu “a maioria dos cargos de chefia é ocupado por homens” (66.3%), seguindo-se “os homens têm maior acesso a cargos de chefia do que as mulheres” (61.5%) e “nas equipas de trabalho em que costumam estar inseridos/as, há mais homens do que mulheres” (57.4%). As mulheres assumiram as experiências negativas vividas: 41.6% foram vítimas de discriminação de género, 37.6% foram vítimas de assédio no local de trabalho ou no desempenho de funções, 7.5% foram vítimas de xenofobia e 1.4% foram vítimas de racismo.
Em termos gerais, salienta-se que os profissionais dos sectores, em particular as mulheres, reconhecem que as narrativas produzidas e realizadas na atualidade não são plurais em termos de representações de género e étnico/racial. Quando abordam personagens e histórias que incluem tal representação, recorrem a estereótipos. Para além disso, há um consenso em relação ao papel subalternizado da mulher no ecrã em relação ao homem nas produções nacionais.
Iniciado em novembro de 2022 e com conclusão prevista para o último trimestre de 2023, o estudo está a ser coordenado por Catarina Duff Burnay e elaborado pelos investigadores Nelson Ribeiro, João Félix e a investigadora Isadora de Ataíde Fonseca. A coordenadora afirma que “os dados apurados neste estudo são muito relevantes e a sua análise permite-nos ir além do senso-comum sobre a condição da mulher nos sectores do cinema e do audiovisual. Mais informação é mais conhecimento e só assim é possível contribuir, de forma efetiva e sustentada, não só para o debate, mas, acima de tudo, para a mudança.”.