A lista B apresenta-se com o mote “resposta estudantil”.

A lista B, encabeçada por Miguel Martins, é candidata a representante dos estudantes no Conselho Geral da Universidade do Minho. Em entrevista ao ComUM, o mestrando em Geografia afirmou que o objetivo da candidatura passa por trazer para a discussão assuntos que preocupam a comunidade estudantil e não estão a ser tratados devidamente.

ComUM – O que é que motivou a tua candidatura?

Miguel Martins – Esta candidatura parte de um conjunto de pessoas de vários cursos, áreas e anos, que sentem a necessidade de levantar assuntos que consideramos bastante prementes para a vida das e dos estudantes. Assuntos esses que não estão a ser discutidos, ou pelo menos não da forma que deveria ser.

ComUM – A “Resposta estudantil” pretende também uma aproximação aos estudantes?

Miguel Martins – Sim. A aproximação à comunidade estudantil é bastante importante, desde logo por vermos que estas eleições, infelizmente, são bastante pouco participadas. Fui falando com várias e vários estudantes e muitos deles não sabiam o que era o CG. Sendo um órgão tão importante é bastante preocupante que não haja este conhecimento. Isto não é culpa dos estudantes, mas sim da própria instituição, que se afasta da comunidade académica.

ComUM – A abstenção tem sido muito elevada. Porque é que este valor é tão alto e o que é que pode ser feito para o diminuir?

Miguel Martins – Há bastante falta de informação acerca deste órgão. Não há interesse por parte dos estudantes em votar nestas eleições. Com isto eu não estou a culpabilizá-los. O que realmente existe é um afastamento por parte destes órgãos da vida estudantil. Os estudantes entram na universidade, fazem o seu curso e depois saem. Ou seja, a participação na vida académica como um todo, englobando estes órgãos de decisão que são bastante essenciais, acabam por ser ignorados. Os estudantes, como também não recebem a aproximação destes órgãos, acabam ser postos de lado.

ComUM – Defendes a propina zero. De que forma pretendes pôr isto em prática?

Miguel Martins – A redução gradual do valor das propinas para os cursos de 1º ciclo é uma estratégia que vimos ser assumida pelo Governo e é uma medida perfeitamente concretizável, havendo essa vontade. Obviamente não pode ser desassociada de outras questões, nomeadamente, a eliminação das taxas e emolumentos, o estabelecimento de tetos máximos para os cursos de 2º e 3º ciclos e também a redução das propinas pagas pelos estudantes internacionais.

ComUM – E relativamente ao alojamento, de que modo acreditas que podes representar aquilo que são as dificuldades dos estudantes?

Miguel Martins – Se estivermos no CG vamos fazer por tudo para garantir que o órgão assume posições mais proativas para a resolução deste problema. O CG pode perfeitamente assumir uma postura mais reivindicativa junto da tutela e exigir que o Governo aumente o número de camas nas residências, bem como a construção de mais residências. Mas não só isso, também avançar com a requalificação e uma melhor manutenção das residências já existentes.

ComUM – Uma das preocupações da lista B é a inclusão. Quais são as tuas propostas para tornar a universidade num espaço mais inclusivo?

Miguel Martins – A inclusão assenta em três pilares: feminismo, antirracismo e a universidade como um espaço aliado à comunidade LGBT. Importa também referir a própria acessibilidade das pessoas com deficiência, algo que é ignorado muitas vezes. É de extrema importância garantir que a universidade é um espaço inclusivo, onde qualquer pessoa, independentemente da sua origem étnica, da sua sexualidade ou da sua identidade de género, se sinta confortável.

Lembro também a questão do assédio levantada no ano passado. Foi bastante importante que esse assunto tenha sido falado porque, de facto, é um problema dentro da universidade. É preciso garantir uma resposta célere e eficaz, para que a UMinho seja um espaço verdadeiramente inclusivo.

ComUM – De que modo é que a lista B vê o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (REJIES)?

Miguel Martins – É importante que as e os estudantes estejam a par desta situação, saibam o que é o REJIES, pois há muita falta de conhecimento em torno disso. Este regime é precisamente o que define como o CG funciona.

Consideramos infeliz que, num total de 23 membros, apenas quatro sejam estudantes para representar os quase 20 mil que frequentam a UMinho. Veja-se o facto que temos mais personalidades externas do que estudantes. O corpo estudantil deve ter mais voz e mais poder dentro do CG.

ComUM – A lista B posiciona-se contra o regime fundacional. Porquê?

Miguel Martins – Findo o período experimental, o CG decidiu a manutenção da UMinho enquanto fundação. Defendemos a reversão do regime fundacional porque verificamos que as promessas de autonomia e de todas as mais valias que ia trazer acabaram por ser promessas vazias que nunca se cumpriram. Sabemos bem quais são as dificuldades sentidas na universidade, seja para os estudantes como também do ponto de vista da investigação. Há muitos problemas que continuam a existir e que o regime fundacional alegadamente viria resolver, mas não resolveu.

ComUM – Relativamente à investigação e às ciências, qual é a posição da tua lista?

Miguel Martins – As condições de investigação estão a tornar-se cada vez mais precárias. Não é algo novo, tem sido bastante discutido no CG, por parte de queixas relativas a esta situação. A comunidade investigadora queixa-se da falta de financiamento e de condições, portanto falta responder a esta problemática. Enquanto estudante, sinto que há enormes entraves que me justifiquem continuar um caminho na investigação. Não é atrativo e não compensa. A universidade não deve ser entendida como apenas uma máquina de formação de trabalhadores. Deve promover também o pensamento crítico e a investigação.

Uma outra medida passa pela valorização das ciências, independentemente da sua área. Sentimos uma subvalorização de alguns cursos em relação aos outros. A UMinho vem realçar essas incongruências entre cursos, visto que estudantes de algumas escolas sentem diferenças quando comparados com outras. Isto não é culpa dos estudantes nem das escolas, mas sim da estratégia assumida pela universidade. Isso é extremamente errado e não deve ser promovido, mas sim revertido.

ComUM – Qual é a vossa proposta no que diz respeito às salas 24?

Miguel Martins – O número das salas de estudo 24 é bastante insuficiente, um problema que não é novo. Já foi levantado há muitos anos, mas continuamos a não ter resposta. Chega à meia-noite, quando fecha a biblioteca, e quem tem lugar tem, quem não tem espera ou vai-se embora. Isto é bastante incompreensível, sendo uma universidade com 20 mil alunos. No caso de Gualtar, num total de cerca de 10 mil estudantes, como é que se compreende que tenhamos apenas três salas de estudo? Obviamente que grande parte da comunidade é afastada destes espaços.

Também defendemos que haja uma melhoria das instalações da universidade. É bastante preocupante a universidade já não ter gás para garantir o aquecimento das salas nem o funcionamento dos laboratórios. Nós sabemos que estamos a enfrentar uma crise energética, mas quando pomos em causa a situação da própria sala, as condições tornam-se bastante precárias. Estando no inverno, sabemos bem que quando a sala está fria vamos estar mais preocupados com o frio e garantir que estamos quentes do que prestar atenção.

ComUM – Estando a concorrer com outra lista, em quê que a lista B se distingue?

Miguel Martins – Enquanto lista B, assumimos uma posição totalmente a favor dos estudantes. Não estamos com rodeios nem incertezas em torno do que defendemos. Vimos claramente e com toda a frontalidade para dar resposta às e aos estudantes, para os representar de uma forma que lhes dê, de facto, voz. Não queremos estar no órgão por estar. Para isso não concorreríamos.