A artista independente RAYE estreou recentemente com o álbum My 21st Century Blues. Um cenário das típicas performances de blues, contando uma história emotiva e agitada que não deixa o ouvinte indiferente.

NME
“Introduction.” une-se a “ Oscar Winning Tears.” numa só narrativa. Inauguram o disco com gênero referido no título do mesmo, o blues. “ Oscar Winning Tears.” ganha depois o estilo conhecido de RAYE. Batidas poderosas unem-se com as características do blues, mostrando a amargura e raiva da artista após entender que o seu parceiro era falso e manipulador, convertendo a relação numa “atuação”.
“Hard Out Here.” é facilmente uma favorita. Expandido a frustração de “ Oscar Winning Tears.” para o contexto da desigualdade de gênero, o ritmo forte une-se a uma letra destemida. Qualquer ouvinte sente os sentimentos da artista perante o privilégio do patriarcado, marcado pela frase “All the white men CEO’s, fuck your privilege”.
“Black Mascara.” fica apagada no meio de duas poderosas gravações. Seguida pela conhecida “Escapism.”, a música guiada pelo pop eletrónico, voltando a recentrar a dor da artista para o parceiro. “Escapism.” traz então outra perspetiva dessa emoção. Na canção, a artista cria uma cortina para os problemas de forma a escapar dos mesmos. Refugia-se então em confortos prejudiciais como as drogas, representados através de sons psicadélicos. A alternância de BPM é recorrente, onde a falsa alegria se une ao sofrimento (“Doutor, eu não quero sentir o que senti ontem á noite” )
Há uma quebra de história, onde ouvimos agora o lado mais escuro e cru de RAYE, recorrendo-se ao R&B e ao Blues. “Mary Jane.” personifica os vícios da artista, revelando como outrora os considerava como amigos- mas percebe agora que a amizade corrompia um dos lados. “The Thrill Is Gone.” retrata a dificuldade de RAYE encontrar uma “paixão estável”.
“Ice Cream Man.” surge como explicação de todos as ações e emoções da cantora. Expõe os podres da indústria musical, documentando o facto de ter sido violada por um produtor musical. Um vocal e letra de partir o coração, mostra como uma ação pode ter consequências desastrosas em alguém. Contudo RAYE deixa um toque de resiliência e valentia ao alterar o discurso de “Sou uma mulher” para “Sou uma mulher muito corajosa e forte”. “Flip a Switch.” mostra ainda mais as marcas do passado da artista. Retrata-se aqui as várias tentativas de ser ela a que descarta invés da descartada (“Desde a porra do meu passado, eu tendo a seguir em frente rápido”).
“Body Dysmorphia.” traz melodias eletrizantes que escondem a pesada mensagem dos estereótipos de beleza. Apesar da letra tocante em toda a sua extensão, o fim da gravação revela-se a mais emocionante. Nela ouvimos a voz de uma menina que é já afetadas com os padrões de beleza inalcançáveis. A crítica social continua com “Environemental Anxiety.”, que retratada todos os principais problemas da Humanidade contemporânea, desde de social a ambiental.
As restantes três canções mostram a superação de RAYE de todos as feridas sofridas. “Five Stars Hotels.” perde-se destaque ao surgir como uma banal canção de R&B. Porém “Worth It.” e “Buss It.” expressam perfeitamente através de vocais poderosos a decisão da artista de, finalmente, soltar-se do receio de se magoar se confiar em alguém.
O disco encerra com “Fin.”, que cria a sensação do disco ser uma curta apresentação de um período de tempo da artista cheio de reviravoltas. My 21st Century Blues transmite de forma crua e real as fraquezas e dores de RAYE. Cria a ilusão de vermos uma parte do coração da artista, que promete dar muito que falar futuramente.