Depois da adaptação ao grande ecrã em 2005, a famosa obra de Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro, recebe agora um formato televisivo. A série estreou na RTP no dia 16 de janeiro de 2023.

Toda a ação começa quando um novo pároco chega a Leiria, Padre Amaro, e se apaixona por uma donzela, Amélia. Juntos vivem um romance proibido escondido dos olhares da sociedade.

O enredo da série está bem estruturado, com um ritmo apropriado à narrativa em causa. Um aspeto negativo a apontar é a presença do male gaze em alguns momentos. Certas cenas onde aparecem as personagens femininas mais objetificação não precisavam de existir e não acrescentam nada ao enredo.

No entanto, as personagens estão bem desenvolvidas na trama, sendo cada uma delas um pequeno recorte da sociedade portuguesa do século XIX. Todo o elenco apresenta performances de alto nível e faz jus às suas personagens. É de destacar também o esforço da equipa de cenários que conseguiram recriar uma Leiria do século XIX.

Tal como no livro, está bastante presente na série a crítica à hipocrisia eclesiástica. Tanto através dos diversos envolvimentos amorosos dos padres com mulheres, como através da forma como a Igreja usa a religião para se aproveitar dos fiéis.

Além da crítica à Igreja católica, a série tem também como pano de fundo o crescimento do liberalismo e uma iminente revolta republicana. Assim, é percetível o conflito de interesses entre as instituições religiosas e os revolucionários, que consideram que a Igreja atrasa o progresso do país.

Concluindo, O Crime do Padre Amaro é uma boa adaptação da obra de Eça de Queirós para o pequeno ecrã. Uma visão crítica sobre um período crucial da história de Portugal que apesar de tudo mantém a sua atualidade.