Tár destaca-se entre os selecionados este ano na Academia dadas as suas 6 merecidas indicações, entre elas de melhor filme, melhor fotografia e melhor direção. Sim, a longa-metragem possui um roteiro original, minuciosamente dirigido e construído por Todd Field (indicado 3 vezes ao Oscar por produções anteriores), mas prolonga-se em 2 horas e 40 minutos de execução.
Lydia Tár (Cate Blanchett) é uma maestrina brilhante no auge de sua carreira. Muitas menções a suas conquistas, como a atribuição do EGOT’s ou trabalhos sociais, são feitas por um entrevistador no início da longa, o que deixa claro seu potencial e qualificação no âmbito musical. Contudo descobre-se que, na verdade, quanto maior é sua excelência mais se tem a perder.
A narrativa assemelha-se a umas das peças ensaiadas com a prestigiada Orquestra de Berlim. Possui um início bem ameno, recheado de sutilezas que, apesar de passarem despercebidas, antecipam os conflitos da trama principal. As cenas são longas e beiram a monotonia, o que acaba por desprender a atenção do público logo nos minutos iniciais, porém a Cate Blanchett é o elemento principal para uma mudança de ritmo.
Numa crescente dramática, que só uma orquestra consegue transmitir, os elementos já apresentados da narrativa entram em convergência culminando numa completa sintonia final na qual observa-se o ápice da degradação da personagem. Ou seja, ao contrário do início lento e cheio de diálogo, o final emerge com toda força, brilhantina e ironia do diretor.
Neste sentido, segundo os críticos, Cate Blanchett realmente tem grandes chances de levar o prêmio para casa. A atriz já possui oito nomeações e entre elas duas vitórias com O Aviador e Blue Jasmine. A sua presença em frente às câmeras, reforçada pelos quadros em planos baixos, consegue transitar entre as faces mais complexas da personagem egocêntrica, narcisista e carismática de Lydia.
Segundo a atriz numa entrevista para a Variety, esse papel tinha sido inicialmente escrito por Todd para um personagem masculino. Felizmente, a ideia foi abandonada, já que isso conduziria outro tom a produção, mais previsível e antiquado.
Em relação a fotografia de Florian Hoffmeister (True Detective), nota-se uma preferência pelo uso de cores neutras e frias. Assim, serve como uma estratégia para traduzir os traços de frieza e elegância da personagem principal.
Tár reflete, portanto, não só da degradação de um artista, mas também levanta questões contemporâneas acerca da cultura do cancelamento, abuso de poder e essencialmente o valor que uma obra de arte possui em relação a seu criador. São essas as questões elaboradas, porém não solucionadas que compõem a originalidade da narrativa, como a própria Lydia menciona em uma de suas aulas “é sempre a pergunta que envolve o ouvinte, nunca a resposta”.
Título original: Tàr
Realização: Todd Field
Argumento: Todd Field
Elenco: Cate Blanchett, Nina Hoss, Noémie Merlant e Mark Strong
Estados Unidos da América
2022