Passados dois anos desde o lançamento do inconsistente TYRON, Slowthai está de volta aos holofotes com o seu terceiro longa-duração, UGLY. Neste novo projeto, o rapper britânico, que apareceu com estrondo em 2019, quando lançou o seu bombástico disco de estreia Nothing Great About Britain, descarta as aproximações que tinha feito a sonoridades mais comerciais e americanizadas. O resultado é talvez o trabalho mais pessoal que já ouvimos do artista, que abraça completamente o lado punk da sua música e volta a mostrar o porquê de ser uma voz importante no atual panorama musical.

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UGLY abre com a fantástica “Yum”, que rapidamente dá ao ouvinte uma ideia da postura que Slowthai adotou para este álbum – pelo menos em termos de conteúdo. O instrumental é impiedoso e único no projeto, chegando, em momentos, a fazer lembrar Death Grips. O crescente caos, que culmina num outro onde slowthai repete “Excuse me while I self-destruct”, é um dos momentos mais marcantes do álbum e, inadvertidamente, acaba por colocar a barra num patamar demasiado alto para as faixas que se seguem. Apesar de “Selfish”, primeiro single lançado, ser mais um banger agressivo e autorreflexivo, em nenhum momento se aproxima do êxtase de “Yum”, enquanto “Sooner” e “Feel Good” não convencem completamente com a sua sonoridade mais upbeat.

O nível volta a subir com a devastadora “Never Again” e a explosiva “Fuck It Puppet”, onde temos uma das melhores linhas do álbum – “At least mum loves me… Bro, your mum is biased” -, duas faixas que nos conduzem ao momento central do projeto. O díptico “HAPPY” e “UGLY”, apesar de não ter os temas mais impressionantes do disco, contém toda a sua essência, para além de adicionar bastante ecletismo ao seu alinhamento. Segue-se “Falling”, uma canção forte emocionalmente que, contudo, acaba por ser um pouco redundante e não acrescentar muito à experiência. “Wotz Funny” é a pior faixa do álbum, uma última tentativa de entregar um banger que peca pela falta de vigor, assim como pelo seu posicionamento.

Neste ponto, UGLY parece já não ter muito mais para oferecer, mas as duas faixas finais imediatamente apagam essa ideia. “Tourniquet” é a melhor canção do álbum – talvez a melhor da carreira de Slowthai -, com uma performance muito expressiva e cativante do artista e um instrumental brilhante, cortesia de Taylor Skye (metade do duo britânico Jockstrap, que lançou um dos melhores álbuns do último ano). A ponte, especialmente, é absolutamente brilhante, o que não deixa de ser algo irónico quando consideramos que Slowthai canta sobre a destruição de pontes com o mundo que o rodeia. O álbum termina com a lindíssima “25% Club”, a faixa mais interessante liricamente e que, vindo logo depois de uma canção tão desesperante, deixa o ouvinte com alguma esperança.

Com este álbum, Slowthai reemerge como um dos artistas mais interessantes do momento. Mesmo não atingindo a solidez e consistência do seu primeiro longa-duração, UGLY representa o recuperar da identidade que se tinha diluído tanto em TYRON. Ao manter-se sempre interessante e conter algumas das decisões mais irreverentes da discografia do rapper de Northampton, UGLY é um claro sucesso e, acima de tudo, um passo entusiasmante para artista.