Tendo gerado inquietação desde a sua chegada em 2005, esta bonita narrativa traz consigo um grande peso emocional face à essência daquilo que o amor consegue ser. Retrata tanto este amor no seu mais puro estado como o choque de realidade, perante a impossibilidade da sua continuação devido a questões sociais, numa tocante longa-metragem.
O filme inicia com o primeiro encontro entre os dois personagens principais, Jack Twist e Enis Del Mar, onde ambos procuram emprego, situado em Brokeback Mountain e inclui trabalhos diários de campo. Para tal, os personagens têm de passar dias nessa mesma montanha onde as condições estão longe de serem boas. Nestas circunstâncias, os dois homens são obrigados a conviver e acabam por criar uma ligação especial dentro de um ambiente afastado de problemas sociais. Mesmo assim, a consciência desses problemas por parte dos personagens encontra-se presente.
O amor entre os dois surge inicialmente mais como uma necessidade para duas pessoas extremamente solitárias que se encontram e se compreendem de um modo particular. Apesar da inicial negação por parte de Enis, este acaba por assumir aquilo que sente e entrega-se por completo a algo que aceita desde logo como algo sem futuro e sigiloso. Mas sofre, ambos sofrem, por terem noção do poder que aquela paixão domina nos seus corpos. Jack, no entanto, insiste mais na possibilidade de uma relação e largaria tudo por uma vida com o homem que ama.
Após o período estipulado do trabalho, ambos partem separadamente com a dor do que deixaram para trás e o sentimento insuportável do amor que sentem. Casam e formam família como um modo de serem aceites pela sociedade, até que Jack contacta Enis e começam a ter uma relação em que se veem uma vez por mês. O problema é o facto de que uma vez por mês não é suficiente e o segredo destrói ambos. Esta narrativa de encontros e reencontros fala sobretudo sobre a necessidade de amar e a insuficiência do tempo que os personagens passam juntos, devido à social incapacidade da existência de uma verdadeira relação.
O espectador é tocado exatamente onde dói, assistir duas pessoas apaixonadas, mas separadas pela sociedade causa uma revolta e uma empatia genuína que contribuiu muito para a evolução cinematográfica em questões LGBTQIA+. Mas sendo o filme tão bem conseguido, essa questão ultrapassa o espectador, porque de facto são apenas duas pessoas apaixonadas. E a simplicidade torna-se tão complexa que toca de um modo extraordinário.
Apesar de iniciar de um modo muito lento, assim que tudo começa a acontecer o espectador é obrigado a prender-se na narrativa muito bem executada. Os silêncios são muitos importantes e os diálogos avassaladores e muitas vezes íntimos, até mesmo em situações onde não o aparentam ser, apresentando assim um guião muito bem construído. As interpretações de Heath Ledger e Jake Gyllenhaal causam um impacto tremendo para a tão boa qualidade da longa-metragem.
O filme é conhecido mundialmente desde a sua chegada e o seu sucesso não diminui. Este ano será lançada uma “resposta” por parte do grande diretor Pedro Almodóvar numa curta-metragem com a presença de Pedro Pascal, Ethan Hawke e até mesmo o português José Condessa.
A normalidade e simplicidade romântica da história entre dois homens faz do filme mais complexo e delicioso que nunca. Uma história que dói porque acima de tudo é real e foi isso mesmo que a tornou tão bem-sucedida, acompanhada de uma ótima produção audiovisual.
Título Original: Brokeback Mountain
Realização: Ang Lee
Argumento: Annie Proulx, Larry McMurtry e Diana Ossana
Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams, Anne Hathaway
Estados Unidos da América, Canadá
2005