Durante o mês da mulher, foram explorados e debatidos temas como o feminismo e as desigualdades de género. Desde esclarecimentos sobre o movimento feminista, até à consciencialização sobre diferentes tipos de discriminação, o CCriativo deste mês fez-se no feminino.

Com o intuito de apresentar novas perspetivas aos nossos leitores, a nova rubrica da secção de Multimédia do ComUM traz um olhar criativo sintonizado com a prática jornalística. C Criativo é o espaço onde os colaboradores de Multimédia têm a oportunidade de explorar novas possibilidades técnicas e conceituais. Com uma periocidade mensal, os colaboradores desenvolvem um projeto criativo, de mãos dadas à reflexão crítica sobre um determinado assunto da atualidade.

Minorias da Minoria: As mulheres menos representadas da nossa sociedade

Os dados falam por si, as mulheres continuam a ser uma das minorias mais censuradas na nossa sociedade. As restrições e preconceitos vão desde à desigualdade de oportunidades de trabalho, de salários e acesso a cargos de poder, à violência doméstica. Segundo o Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA), entre 1 de Janeiro e 15 de Novembro do ano passado, 28 mulheres foram mortas, 22 das quais no contexto de relações de intimidade. Mas será esta realidade, difícil por si só, igual para todas as mulheres? O que acontece em casos onde as razões para o preconceito não se cingem apenas ao género feminino?

“Sendo mulher brasileira ainda há um preconceito muito envolto”, revela Iasnaya, de 22 anos, representante do movimento HeforShe na Universidade do Minho. O recente crescimento da imigração de população brasileira para Portugal deu aso a um culminar de estereótipos em relação à mulher brasileira, tendo grande revelância a hipersexualização que é feita das mesmas. Houve, na mesma lógica, uma série de manifestações em relação a esta temática o ano passado, e em que essas mulheres referem que a objetificação da qual sofrem lhes traz consequências graves, como a violência sexual, assédio, dificuldade de acesso a serviços (como a habitação), nas ruas, no trabalho e na entrada do país.

Essa mesma sexualização e fetichismo é observada por Vee e Ezra, membros e co-presidentes da associação não oficial Clube Rainbow. “Na nossa comunidade nós temos bastantes meninas que se vestem de forma alternativa e eu noto que lhes acontece bastante isso de terem atenção não desejada de homens. Se elas não retribuem, eles ficam irritados”. Refere-se à objetificação sexual de mulheres que têm uma apresentação física diferente, sendo que mulheres de orientações sexuais não normativas (como, por exemplo, mulheres bissexuais) também se podem incluir nesta lógica.

Ema, de 22 anos, sente que sofre de preconceito por ser uma mulher trans, mas “que nunca foi tão mau quanto esperava que ia ser”. Não obstante, refere que “devia haver mais representação das mulheres trans nos media em geral e uma melhor representação. Devem representá-las como pessoas normais que vivem a sua vida normal”. Nos meios de comunicação de entretenimento, como as séries e os filmes, o papel desempenhado pela mulher trans apenas adquire visibilidade ou relevância se for inserido em séries de cariz queer ou se for retratado associado a situações de precaridade extremas (pobreza, prostituição, etc.).

Por Beatriz Leite

“O feminismo não é só uma questão política, é uma questão de sobrevivência”

Beatriz Coelho pertence ao CEFUM – Coletivo Estudantil Feminista da UMinho e em entrevista ao ComUM aborda o feminismo e a importância da luta feminista numa sociedade patriarcal, falando também das suas inspirações e das desigualdades que ainda predominam na sociedade.

Beatriz refere a necessidade de educar a sociedade sobre o feminismo, principalmente as “camadas” mais jovens – e sobretudo no seio familiar – de forma a que a desinformação não predomine. Relativamente às desigualdades, reflete sobre as desigualdades de oportunidades, dando o exemplo das contratações na PJ; as desigualdades salariais entre homens e mulheres no mesmo cargo; vozes de mulheres abafadas em equipas no contexto laboral, entre outros casos.

“O mundo não é uma caixa. O ser humano não é uma caixa.” Beatriz frisa a importância de não se colocar rótulos e de se estereotipar, sendo que a causa feminista ajuda a desconstruir isso. Adicionalmente, relembra a relevância do movimento feminista para a visibilidade das pessoas trans e a necessidade de inclusão das mesmas na luta feminista.

Por Elisabete Teixeira