A série Daisy Jones and The Six, baseada no livro com o mesmo nome escrito por Taylor Jenkins Reid, foi lançada na Amazon Prime no começo do mês de março. Adaptada por Scott Neustadter e Michael H. Weber, a série conta, através de entrevistas, a história de uma banda e todo o seu percurso até se tornar o maior ato musical dos anos 70, acabando, eventualmente, por ruir.

A narrativa começa com o sonho de Graham Dunne (Will Harrison) de ter uma banda com os seus amigos Eddie (Josh Whitehouse) e Warren (Sebastian Chacon), bem como com o seu irmão mais velho, Billy (Sam Claflin). Rapidamente se percebe que o Billy é a personagem principal do grupo e monopoliza todas as decisões criativas da banda.

Os The Dunne Brothers começam por atuar em festas de casamento e pequenos bares, até conseguirem o contacto de Teddy Price (Tom Wright), um famoso produtor musical da época. Com o crescer do grupo, os integrantes sentem a necessidade de encontrar um tecladista para acompanhar as suas canções. Assim surge Karen Sirko (Suki Waterhouse) no piano e se completa a formação dos The Six, novo nome adotado pela banda.

Camila (Camila Morrone), namorada de longa data de Billy, revela estar grávida e os dois casam na noite anterior à banda partir pela primeira vez em digressão. Atormentado pelo fantasma do abandono do pai, o líder dos The Six, trai repetidamente Camila com fãs e desenvolve um quadro grave de alcoolismo, numa tentativa falhada de ignorar a realidade que o esperava em nove meses: a paternidade. Billy acaba por interromper a digressão para se internar numa clínica de reabilitação, deixando os The Six sem vocalista e em apuros com a gravadora. É durante este período também que Camila dá à luz.

Paralelamente, somos apresentados a Daisy Jones (Riley Keough), uma jovem oriunda de uma família rica que, desde muito nova, se imiscui nos bastidores dos bares de Hollywood. Rodeada de talento, drogas e más companhias, Daisy não tarda em começar a consumir todo o tipo de substâncias e escrever as suas próprias canções. É através de Simone (Nabiyah Be), amiga e também ela cantora, que Daisy conhece Teddy Price e a história começa verdadeiramente. O produtor convence Daisy a gravar um single com os The Six, acreditando ser essa a melhor forma de relançar a banda no mercado.

O sucesso da música “Look At Us Now” (Honeycomb) é tão explosivo quanto a relação de Daisy e Billy. O duo prova ser magnético tanto na composição de letras quanto na sua presença em palco, levando os fãs a pedir um álbum conjunto. A relação de ambos é sinuosa e oscila demasiado entre o ódio e o desejo para que alguma vez pudesse ser considerada profissional. Os outros membros da banda também parecem alheados às boas práticas no local de trabalho, com Graham e Karen a começar uma relação amorosa e Eddie secretamente apaixonado por Camila, a mulher de Billy.

O que torna a série realmente interessante é o seu foco tão evidente nas mulheres. E sim, isto pode ser a história do apogeu e combustão da banda sem nunca esquecer o quanto as mulheres foram a força motriz por trás de todo o sucesso. A Daisy não só era melhor letrista que o Billy como também fez dele um artista mais verdadeiro e com o qual o público se podia identificar.

A Simone, que tem um papel muito mais proeminente na série do que no livro, conquistou um episódio só para si e para a sua história. Muitos dos fãs da série defendem que a história da personagem tem potencial para assegurar uma sequela só dela. A Karen conseguiu dar um bocadinho de brilho à personalidade levemente aborrecida do Graham sem perder o seu próprio rumo e continuando, indiscutivelmente, a ser a melhor integrante da banda.

Por último, mas não menos importante, a Camila, muitas vezes reduzida ao ingrato papel de obstáculo mais óbvio (porém, não único) à concretização do casal Daisy e Billy, não deixa de ser a razão pela qual a banda chegou onde chegou. Desde promover ativamente a imagem da banda junto de editoras, a convencer a Karen de que era o projeto certo no qual apostar, a Camila foi a primeira pessoa a acreditar que os The Six (e a Daisy Jones) podiam ser alguém.

O meu maior problema com as mudanças feitas em relação ao livro? A adulteração da Camila enquanto personagem cuja característica principal residia na capacidade de impor a sua individualidade de forma amável, principalmente para com as outras personagens femininas. Não vermos a Camila, uma mãe, dar a mão a Karen enquanto a tecladista realizava um aborto foi um erro.

A última conversa entre a Camila e a Daisy ser sobre quem ficava com o Billy e não como o estilo de vida de Daisy a estava a matar foi, no mínimo, uma desilusão. Isto para não mencionar a forma como o encurtamento da distância temporal entre os acontecimentos relatados e as entrevistas serviu apenas para transformar Camila numa variação de Tracy de How I Met Your Mother: uma personagem cuja morte é a única forma de justificar o ênfase dado ao relacionamento do seu marido com outra pessoa ao longo de toda a série.

Em suma, Daisy Jones and The Six é uma boa série. Se são capazes de ultrapassar (muitas) traições, más perucas (ou penteados, em geral) e estão à procura de algo com uma pitada de saudosismo dos icónicos Fleetwood Mac, esta banda pode ser uma boa opção. Entretém bastante, com personagens cativantes, num cenário nostálgico e uma banda sonora, tanto a original quanto a pré-existente, fenomenal. No entanto, enquanto adaptação, falha espetacularmente.