O TikTok tem sido responsável pelo aumento das vendas de livros em Portugal e os jovens são o público que mais consome literatura no país, o que contribuiu para que o mercado literário português tenha apresentado o maior crescimento da Europa, em 2022.
No dia 23 de abril assinala-se o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. O propósito da data é reconhecer a relevância e o valor dos livros, ao mesmo tempo que pretende estimular o hábito da leitura entre a população.
Diogo Simões é um jovem escritor português, com uma obra original publicada pelas edições Velha Lenda, e já com a segunda prevista para junho deste ano. Em entrevista ao ComUM, referiu que tendências como o BookTok possuem “um potencial enorme” e que notou isso nos diversos livros que publicou. “Existem criadores de conteúdo realmente apaixonados e que abraçam muito bem os autores portugueses, uma classe muita vez estigmatizada. É uma mais-valia a existência dos mesmos”, declarou Diogo.
O autor salienta o poder das redes sociais, referindo-se a este como “avassalador, especialmente quando todos queremos pertencer a algum lugar”. “Os livros permitem isso ao termos milhares de histórias e com diversas combinações de géneros literários. As redes sociais permitem assim chegar mais longe e, sobretudo, aumentar a longevidade de um livro”, constatou. Não obstante, procura utilizá-las a seu favor de forma ativa, promovendo o seu trabalho como forma de “acolher novos interessados” nas suas histórias.
Também Mariana Nunes, 21 anos, já soma 80 mil seguidores nas redes sociais. Aos seus 11 anos criou um blog onde escrevia sobre livros. Em 2019, decidiu mudar para o Instagram e desde aí nunca mais parou. “Quando comecei nem éramos 50 e agora já somos milhares”, contou Mariana ao ComUM.
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A influenciadora comenta que “a promoção da leitura nas redes sociais tem vindo a aumentar e o feedback tem sido positivo, não só por parte dos leitores como por parte das editoras e do próprio mercado editorial.” Destacou ainda que os livros que mais fazem sucesso nas redes são dos géneros “sports romances, dark romances, livros spicy, livros que abordam a saúde mental e, ainda, livros com bons plot twists”.
Em relação ao ano de 2021, o mercado livreiro em Portugal apresentou um crescimento de 16% em 2022. Foram vendidos mais de 12 milhões de exemplares de livros e o género infantojuvenil foi o mais procurado, representando 34% das vendas, seguido por ficção com 32%.
Quando questionado sobre a possibilidade da popularização da leitura ter pontos negativos, Diogo respondeu que o único problema que vê existir é “o facto de o objeto livro ser, para grande parte da população, algo muito caro. Quando se falam em dificuldades económicas parece impensável um português queixar-se que não tem dinheiro para comprar um ou dois livros.” Refere ainda que no nosso país existe “pouca relação com a cultura e, enquanto nalguns países europeus, como a França, atribuem cheques culturais a jovens, em Portugal nem sempre se torna a leitura acessível”. Aponta ainda que “cabe o papel da desmistificação das bibliotecas municipais e da própria compra de livros usados. Uma forma de sabermos reciclar e partilhar.”
Já Mariana diz acreditar que não existem pontos negativos, apesar de “as pessoas mais velhas criticarem por não lermos clássicos.” Defende que “cada pessoa deve ler aquilo que gosta e da maneira que gosta. Somos livres de decidir o que queremos ler”. Conclui ainda dizendo que é graças à comunidade do bookstagram e do booktok que “vários autores portugueses começam, finalmente, a poder vingar”.